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Especialistas apontam custo elevado na geração por situação hidrológica desfavorável e sinais de alto consumo
27 de setembro de 2024
Por Renan Monteiro e Luciana Collet
Com o custo elevado na geração de energia, em decorrência do cenário hidrológico desfavorável e da perspectiva de aumento do consumo, a bandeira tarifária vermelha 2 deve ser acionada para o mês de outubro, de acordo com projeções de especialistas feitas a pedido do Broadcast Energia. Se confirmado, o próximo mês terá o maior patamar de cobrança adicional na conta de luz desde abril de 2022, quando a bandeira “escassez hídrica” estava em vigor.
O acionamento da bandeira tarifária vermelha patamar 2 representa um acréscimo na tarifa de energia de R$ 7,87 para cada 100 quilowatt-hora (kWh) consumidos e 0,45 ponto porcentual sobre o IPCA. A projeção de impacto na inflação é da CM Capital.
“O resultado com vermelha 2 para outubro é em decorrência de um PLD [preço de liquidação das diferenças] mais alto e da baixa afluência [volume de água que chega aos reservatórios das hidrelétricas]”, afirma a diretora de Regulação e Estudos de Mercado na Thymos Energia, Mayra Guimarães.
A mudança de bandeira depende de três gatilhos. O primeiro deles é o PLD, valor da energia elétrica calculado por modelos computacionais do setor para a energia a ser produzida em determinado período.
Projeções apresentadas na semana passada pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) apontam que o PLD de outubro deve superar os R$ 500 por megawatt-hora (MWh) mesmo no cenário hidrológico mais otimista, o que determinaria o acionamento da bandeira Vermelha 2.
Os cenários hidrológicos foram traçados com base nas previsões meteorológicas avaliadas por volta do dia 17 de setembro. Portanto podem sofrer ajustes nesta semana que poderiam resultar em outros níveis de PLD, potencialmente alterando a perspectiva para a bandeira.
No entanto, agentes de mercado avaliam que até o momento não foi possível observar melhora significativa na previsões de chuva, que permitam um recuo nos preços. “Nada melhorou muito de lá pra cá, então acho que deve continuar com a maior chance de dar bandeira 2 no mês, mesmo”, diz a sócia-fundadora da Stima Energia, Daniela Fusco Alcaro.
“Precisaria de um milagre pra tirar isso [a perspectiva de vermelha 2], não tem nada que tenha tornado, de alguma forma, o cenário um pouquinho menos pessimista, está até piorando”, corrobora o diretor-executivo da Armor Energia, Fred Menezes.
Além do PLD, outro fator fundamental na definição da bandeira tarifária é o risco hidrológico (GSF), uma medida que analisa a relação entre o volume de energia efetivamente produzido e a garantia física de cada usina, ou seja, um fator que indica quanto de fato cada hidrelétrica gera, a despeito de sua capacidade. Estimativa da CCEE divulgada na semana passada indicava um GSF na casa dos 67% para outubro, mas esse número também pode passar por ajustes.
“Para outubro estamos muito pressionados, principalmente em função do preço. O GSF tem influenciado, lógico, mas o preço tem demandado mais na equação”, avalia o head em Inteligência de Mercado na consultoria PSR, Mateus Cavaliere.
Termelétricas
O acionamento da bandeira tarifária também pode ocorrer por geração fora do mérito de custo (GFOM), ou seja, caso as autoridades do setor elétrico entendam que é preciso acionar termelétricas além do que o indicado pelos sistemas computacionais orientam a operação. Essa alternativa, por ora, é descartada pelo Ministério de Minas e Energia (MME).
O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) vem avaliando uma série de medidas para atender a ponta do sistema (horário de maior demanda), como a flexibilização da operação das hidrelétricas Belo Monte, Jupiá e Porto Primavera, com objetivo de acumular mais água nos reservatórios. Outro exemplo é a antecipação de contrato da termelétrica Termopernambuco, inicialmente contratada para estar disponível no sistema em julho de 2026, mas que deve passar a operar desta forma em outubro.
“A projeção é de um primavera quente, de baixa afluência. Mas não vislumbramos nenhum cenário de crise energética”, afirma Luiz Eduardo Barata, que foi diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e atualmente é presidente da Frente Nacional dos Consumidores de Energia.
O termo “crise” é descartado em grande medida porque o nível de armazenamento nos reservatórios das hidrelétricas está em cerca de 50%, um patamar mais confortável que o observado em 2021. Na fase aguda da crise naquele ano, os reservatórios estavam abaixo de 30%.
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