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Ar condicionado

Nos bastidores, parece que a questão climática ainda não desperta preocupação de quem está à frente da produção do País

4 de novembro de 2024

Por Cristiane Barbieri

No Broadcast temos duas especialidades: fazer apurações de reportagens exclusivas em equipe e levar ghosting das fontes. “Sua fonte viu a mensagem, Altamiro?”. “Viu, mas não respondeu.” “E a sua, Cynthia?” “Ficou azulzinho (o check do WhatsApp), mas não escreveu nada.” E assim vamos, na batalha diária pela informação que faça diferença ao assinante.

Nessa pegada, eu, a Cynthia Decloedt e o Altamiro Silva Junior, repórteres especiais da casa citados, fomos à Expert XP. Foi em agosto, no auge do inverno paulistano. Com as temperaturas batendo 38ºC à sombra, entrevistamos um grande fundo de investimento, que aloca parte de seu capital ao agro. Uma das perguntas que fizemos, nos abanando, suando e sofrendo com o ar seco, era: qual a estratégia para essa área, com as mudanças climáticas?

Resposta: investimos em diferentes regiões da América Latina. “Mas, moço, parece que o mundo tá acabando e tá ficando pior em todos os lugares. A cada semana, batemos recorde de calor. Ou de chuva. Ou dos dois. Não tem uma estratégia menos soja e boi em larga escala?.” Na verdade, não. A estratégia é a diversificação geográfica e ponto.

Umas semanas atrás, recebemos o presidente de um grande fabricante de equipamentos para a indústria alimentícia, que tem um projeto ambiental bacana, com um bom discurso e uma competente execução ESG. “Mas como vocês sabem que não vendem para quem desmata?”, perguntei. “Nas regiões em que atuamos, não há essa realidade”, respondeu. Porque já foram desmatadas anteriormente, claro. A iniciativa ambiental vai na louvável linha da recuperação de pastos degradados, mas ainda assim, de uma pequena área.

Em maio, Daniel Izzo, presidente da Vox Capital, escreveu no site Capital Reset sobre os motivos de um Fiagro (Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais) da gestora, que recuperaria terras degradadas, ter sido cancelado. O instrumento poderia captar até R$ 500 milhões, mas não conseguiu nem R$ 50 milhões. O principal feedback dos investidores: não faz sentido investir em terras degradadas se é mais barato comprá-las cobertas de vegetação, “abri-las” (eufemismo para desmatar) e, com isso, obter uma taxa de retorno (TIR) maior.

São apenas três exemplos pequenos nos quais esbarramos todos os dias, na cobertura de empresas e mercado. Nem precisamos falar do Congresso lutando contra as leis europeias que buscam reduzir o desmatamento. Ou dos recordes, que nunca acham um limite. Talvez seja exagero de quem vive cercado por notícias. Achei que o mundo ia acabar na crise de 2008 – o que, como se sabe, não aconteceu.

Mas, do nosso ponto de vista, parece que a importância ao tema nem de longe desperta a preocupação da maioria das pessoas que estão à frente da produção do País.