Representantes brasileiros foram protagonistas em salão da alimentação na capital da França
2 de novembro de 2024
Por Leandro Silveira
Eventos internacionais costumam ser bilíngues: o idioma nativo não perde sua preponderância, mas divide a comunicação com o inglês. Os franceses, muito orgulhosos de sua língua, não fizeram diferente na mais recente edição do Sial Paris, salão internacional da alimentação bianual. Mas na divisão entre francês e inglês para se comunicar, uma intrusa cavou seu espaço.
Se os visitantes que chegam à capital francesa via Aeroporto Charles de Gaulle já dão conta do poderio econômico e político chinês pela inclusão do mandarim na comunicação oficial dos terminais, foi outra língua que ganhou parte do protagonismo no Centro de Exposições Paris-Nord Villepinte durante o Sial na capital francesa: a portuguesa. E, diga-se de passagem, com forte sotaque brasileiro.
Palco de eventos de esgrima e boxe do programa olímpico semanas antes, o centro de exposições foi espaço para outro tipo de disputa durante o Sial Paris: a de acordos internacionais para exportação. E o Brasil foi para lá com uma delegação robusta: eram 192 empresas, aumento de 48% em relação è edição anterior, a maior parte delas apoiada por ApexBrasil, Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) ou Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
Esse contingente vigoroso contribuiu para que o Brasil batesse seu recorde de negócios. A Apex estimou um total de US$ 3,25 bilhões em transações, imediatas e futuras, superando a marca anterior do Sial de 2018, de US$ 2,3 bilhões. O resultado reforça a posição do País como um importante player no setor de alimentos, também em um evento que ocupou 270 mil m² -o equivalente a cem hipermercados, segundo estimativas dos organizadores.
Mas os negócios e as conexões não se limitaram ao “supermercado gigante” que o centro de exposições se tornou por cinco dias. Empresas aproveitaram as atrações de Paris para estreitar laços com clientes. A BRF/Marfrig, por exemplo, fechou o Museu de Orsay para um grupo exclusivo de convidados, onde anunciou a marca Sadia como carro-chefe de suas vendas de carne bovina no mercado global. Já a Apex promoveu um jantar especial com sete renomados chefs brasileiros no Café de l’Homme, com vista privilegiada para a Torre Eiffel.
Claro, não havia apenas representantes brasileiros na Sial Paris – eram 127 países entre 7,5 mil expositores. Mas o País soube capitalizar a discreta presença da indústria dos Estados Unidos para tentar avançar no mercado europeu, ainda mais pela menor presença de compradores chineses, que agora possuem sua própria edição da Sial. Assim, em meio às discussões sobre o adiamento da entrada em vigor da Lei Antidesmatamento da União Europeia, buscou se apresentar pela excelência da sua produção.
Pode ter sido um alívio em meio às tensas conversas, sensação certamente também sentida pela ministra da Agricultura da França, Annie Genevard. Alvo de protestos de agricultores dias antes do salão, em visita aos Pirineus Orientais, pela crise no setor provocada por seca prolongada e suposta falta de recursos, Genevard encontrou um clima mais cordial na Sial. Cortou a fita que inaugurou o evento, participou de reuniões bilaterais e exaltou as inovações apresentadas. Também deve ter celebrado o aumento de 8% no público participante em relação à edição de 2022. Certamente, muitos deles fluentes em português.
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