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Pacote com ações fiscais e monetárias visa meta de crescimento ao redor de 5% e redução de riscos à estabilidade financeira
4 de novembro de 2024
Por Ricardo Leopoldo
O governo da China pode anunciar um amplo pacote de medidas fiscais e monetárias nesta próxima semana para garantir que o país atingirá a meta de crescimento ao redor de 5% neste ano e para reduzir riscos à estabilidade financeira, com a capitalização de bancos estatais e de governos locais, sobretudo com um programa de troca de dívida pública de cidades por títulos federais.
Economistas baseados em Hong Kong e Sydney entrevistados pelo Broadcast apontam que o pacote deve se dividir em duas áreas. Uma delas é um novo apoio fiscal entre 1 trilhão e 2 trilhões de yuans para estimular investimentos em infraestrutura e consumo. Em outra frente, pode ser anunciado um swap de dívida pública envolvendo prefeituras que pode atingir 6 trilhões de yuans por três ou quatro anos. Eles acreditam que o governo da China está esperando as eleições presidenciais nos EUA para definir as dimensões do programa.
A profunda crise do setor imobiliário no país reduziu a confiança das famílias para adquirir imóveis e diminuiu muito as receitas obtidas por cidades com a venda de terrenos, o que levou seus caixas a condições precárias a ponto de parar o pagamento de fornecedores. “As economias dos governos centrais envolvem cerca de 60 trilhões de yuans, quase metade do PIB nacional. Muitos deles estão em uma situação ruim que poderia culminar em default de suas dívidas e geraria problemas muito graves para o país”, comentou Michelle Lam, economista do banco Societe Generale.
Um swap de dívida de 6 trilhões de yuans de cidades ajudará a reduzir os juros destes passivos, apontou o economista-chefe para a China do Macquarie Group, Larry Hu. “Também espero que 1 trilhão de yuans seja destinado para recapitalizar bancos públicos”, disse. “Estas medidas visam reduzir o peso da dívida de governos locais e proteger os bancos. Recentemente, o PBoC [Banco do Povo da China, o BC chinês] anunciou diferentes tipos de cortes de taxas de juros que vão afetar a lucratividade dos bancos e é necessário um novo canal para restaurar o nível de capital.”
A administração do presidente Xi Jinping deve injetar 2 trilhões de yuans em projetos de infraestrutura e repasses de recursos para famílias mais necessitadas, o que ocorrerá basicamente em 2025. Para Michelle Lam, tais despesas oficiais podem agregar ao PIB do país 0,2 ponto porcentual no próximo ano, o que o elevaria de um crescimento de 4,5% para 4,7%. Este impulso fiscal deve aumentar o déficit público nacional consolidado como proporção do PIB de 7,5% em 2024 para uma marca entre 9% e 9,5% em 2025.
Há também a expectativa de que uma parte do pacote seja dirigida ao setor de construção de residências. “Acredito que serão aumentados os recursos para estatais e bancos locais financiarem imóveis que não foram vendidos para torná-los casas populares”, comentou o economista sênior para a Ásia do banco Union Bancaire Privée (UBP), Carlos Casanova. “Também aumentarão as linhas de crédito a incorporadoras para finalizar projetos imobiliários que não foram concluídos.?
As autoridades chinesas estão mais sensíveis aos problemas do setor de construção de residências e que afetam a confiança das famílias na China para consumir, pois cerca de 70% das suas poupanças estão investidos em imóveis. “Na reunião do Politburo em setembro, foi destacado que seus membros querem parar o declínio deste mercado, o que nunca disseram antes. Este é um sinal muito forte de que a estabilização deste setor é extremamente importante?, afirmou Erin Xin, economista do banco HSBC.
Contudo, há uma percepção geral de especialistas de que a intervenção do Poder Executivo em Pequim para reverter a crise do setor imobiliário continuará com medidas pontuais por um bom tempo. “O governo precisa assegurar uma faixa razoável de crescimento do país suficiente para não exacerbar problemas estruturais e não gerar bolhas maiores”, destacou Carlos Casanova. Para ele, tal intervalo é uma expansão do PIB entre 4,5% e 5,0%. “As autoridades estão cautelosas por dois anos e não há motivos para mudarem muito. Elas continuarão a agir aos poucos.”
Neste contexto, o mercado imobiliário na China apenas deve mostrar sinais de estabilização no final de 2025, destaca a diretora de pesquisas para a Ásia e Pacífico da Moody ‘s Analytics, Katrina Ell. “Os preços de imóveis no país devem cair 7,3% em 2024, recuarão 3,4% no ano seguinte e somente em 2026 terão uma leve alta de 0,1%”, disse. Ela projeta que os investimentos no setor devem baixar 8% neste ano e diminuirão entre 1,5% e 2,0% em 2025.
Como a China ainda tem um modelo econômico muito dependente de exportações de manufaturados, em uma conjuntura marcada pelo avanço do “friendshoring” pelos EUA e países europeus, o apoio fiscal para estimular o consumo interno precisará ser bem grande no médio prazo. “Para o país ter um crescimento de 4,5% a 5,0% de forma sustentável precisará de um pacote de 10 trilhões de yuans por 3 anos a fim de ampliar investimentos, inclusive na área social”, disse a economista-chefe para Ásia e Pacífico do banco Natixis, Alícia Garcia-Herrero.
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