Em entrevista exclusiva ao Broadcast, CFO da Abra afirma que reestruturação das dívidas vem antes da fusão entre Gol e Azul
17 de janeiro de 2025
Por Altamiro Silva Júnior
A fusão entre a Azul e a Gol, vai criar uma empresa aérea mais forte, a maior do Brasil, juntando duas companhias que se complementam nas malhas áreas, afirmou ao Broadcast o diretor financeiro (CFO) da Abra, dona da Gol, Manuel Irarrázaval. As duas companhias, porém, ainda têm passos a dar em seus processos de reestruturação de dívidas e só faz sentido juntá-las com a conclusão desses processos e com dívidas menores. “Não vamos fazer uma transação que eleve a alavancagem, a dívida não vai aumentar”, declarou o executivo. A Gol deve encerrar 2024 com uma dívida líquida de R$ 29 bilhões, já a Azul tinha R$ 24,9 bilhões ao final de setembro do ano passado. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
Manuel Irarrázaval: Acreditamos que companhias aéreas são uma indústria essencial nos países. Nos mercados em desenvolvimento, empresas aéreas e a infraestrutura são indústrias que ajudam no desenvolvimento econômico. Ter um bom alcance na infraestrutura e na malha aérea, mas empresas aéreas fracas, significa muita instabilidade. Um país não pode se desenvolver e crescer se não tem estabilidade em suas conexões. A Abra foi criada com a visão de que é necessário ter uma consolidação na região, trazendo a Avianca e a Gol. Mas a integração não necessariamente precisa acabar com as fortes identidades que existem em cada empresas. Cada companhia da Abra tem marca, cultura e identidades fortes. A Avianca é uma referência na Colômbia, a Gol é uma pioneira na indústria aérea do Brasil. Nunca consideramos integrar as marcas ou as empresas, queremos mantê-las separadas.
Irarrázaval: Pensamos o mesmo com esse negócio no Brasil. Temos duas empresas que possuem estratégias complementares, redes que se complementam, têm marcar fortes, e também são fortes em sua cultura e imagem. Achamos que é importantes juntá-las, torná-las mais fortes e ter uma indústria aérea mais forte.
Irarrázaval: Claro. Este é um negócio de escala. E as duas empresas estão em processo de reestruturação de dívida, ficando mais fortes do ponto de vista da estrutura financeira. Essa transação só vai acontecer após essas reestruturações. E a Gol já tem um plano para sair do Chapter 11 (recuperação judicional nos Estados Unidos).
Irarrázaval: Acreditamos que esse é o caso. Apoiamos esse plano. Nossa prioridade como Abra é tirar a Gol do Chapter 11, deixando a companhia sustentável e forte. Concordamos em fazer uma transação como essa porque ela fortalece adicionalmente a Gol, e também fortalece o setor.
Irarrázaval: São duas companhias complementares. É raro ter a oportunidade de trazer duas companhias juntas que são tão complementares. As sobreposições são muito pequenas. Será possível oferecer aos clientes produtos bem melhores, maior conectitividade usando as duas malhas áreas juntas. E a escala é importante. Quando sentarmos na frente dos fornecedores, seremos uma empresa maior, com o dobro do tamanho.
Irarrázaval: A Gol ainda está no Chapter 11 e a Azul ainda está finalizando suas negociações. As duas têm passos a dar em suas reestruturações.
Irarrázaval: No memorando de entendimento falamos que a companhia resultando da fusão não pode ser mais endividada do que a Gol no momento de sair do Chapter 11. E no plano apresentado pela Gol, a alavancagem se reduz rapidamente, até 1,9 vez [a dívida líquida pelo Ebitda]. Não vamos fazer uma transação que eleve a alavancagem. Se você está pedindo para as pessoas ajudarem a financiar a saída da Gol, elas querem saber como será o endividamento no futuro, certo? A única forma de fazer essa transação é dizer a essas pessoas que a dívida não vai aumentar. Por isso, a alavancagem não pode ser mais alta.
Irarrázaval: Já teve conversas antes de eu chegar na Abra [em julho de 2023]. Quando formamos a Abra, e começou o processo do Chapter 11, as conversas foram mais intensas porque já se via as empresas procurando reduzir o endividamento. E fazer essa transação com duas empresas muito alavancadas não resolveria nada.
Irarrázaval: Não posso comentar sobre isso porque não sei o momento e nem o tempo que o Cade vai levar. Eles têm o processo deles.
Irarrázaval: Espero que eles vejam essa fusão como nós enxergamos, e os benefícios de ter uma companhia resultante mais forte. Não posso antecipar o que o Cade vai dizer. Se estamos fazendo isso, é porque acreditamos que faz sentido ou seria só uma perda de tempo.
Irarrázaval: As estruturas societárias da Azul e da Gol são muito diferentes. E no caso da Gol, os credores vão converter dívida em ação. A Abra é o maior credor, então será o maior acionista da Gol. Já a Azul tem uma estrutura societária mais dispersa e no processo de reestruturação terão mais acionistas chegando. Quando juntam as companhias, como somos mais concentrados, seremos o maior acionista da nova companhia.
Irarrázaval: Ainda é muito incerto e acho que teve um mal entendimento sobre isso no memorando. O que dissemos é que vamos saber os valores quando conhecermos a estrutura das duas empresas após a reestruturação. Hoje, sem a estrutura de capital bem definida, não se pode determinar esses porcentuais. A única coisa que dizemos é que a Aura será o maior acionista individual, podendo ter mais que 10%. O quanto, ainda não sabemos.
Irarrázaval: No Brasil. Somos uma empresa brasileira, com metade do conselho formado por brasileiros.
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