Selecione abaixo qual plataforma deseja acessar.

Com juro alto, foco é na projeção das empresas para 2025

Para analistas, grande parte dos setores da B3 passará por dificuldades pela conjuntura

10 de fevereiro de 2025

Por Amélia Alves

Sem mudança nos fundamentos, a temporada de resultados do quarto trimestre deve carregar como ponto de atenção aos extratos financeiros as projeções que as empresas vão apresentar para 2025. Neste sentido, ainda que esta safra de balanços possa ajudar a manter os ativos domésticos atrativos em fevereiro, não deve conseguir se sobrepor ao patamar de janeiro, quando a Bolsa brasileira subiu forte, corrigindo alguns excessos da bolha de pessimismo que contaminou o humor do investidor no fim do ano passado.

Na visão de boa parte dos analistas ouvidos pelo Broadcast, a combinação do ciclo de alta Selic em um cenário de inflação resiliente e uma política fiscal ainda com grau de desconfiança elevado, é um remédio amargo especialmente para as companhias mais alavancadas. O crédito mais caro, que onera as empresas, também pode ficar mais escasso. Grandes bancos já acenaram que serão mais conservadores nas concessões. Em 2025, a carteira de crédito do Itaú, por exemplo, deve crescer até 8,5%, menos que os 15,5% em 2024.

“A expectativa para os balanços de janeiro é moderadamente positiva. O cenário ainda é de cautela, com necessidade constante de análise cuidadosa dos fundamentos das empresas e das condições macroeconômicas, que continuam a evoluir”, diz o analista Sidney Lima, da Ouro Preto Investimentos. Opinião também do analista Rafael Passos, sócio da Ajax Asset. “O fluxo da Bolsa diminui dado esse atual nível de juros. Perde-se um pouco de atratividade em renda variável”, comenta.

Para Angelo Belitardo, gestor da Hike Capital, grande parte dos setores ainda vai passar dificuldade por causa da alta dos juros e com reflexo na alta da inflação para os próximos meses, acompanhando a alta do dólar e dos alimentos. Na sua avaliação, as empresas de proteína animal, JBS, Marfrig, BRF, devem liderar a boa performance da divulgação dos balanços referente ao quarto trimestre de 2024, em razão da forte apreciação da divisa americana, especialmente na respiro final de 2024.

Clima desafiador

Por outro lado, Lima acrescenta que neste clima desafiador, marcado por alta de juros e dólar forte, empresas com fundamentos sólidos, principalmente com receitas atreladas ao dólar ou que operam em setores menos sensíveis às flutuações econômicas [como elétrico e de papel e celulose], estão melhor posicionadas para apresentarem resultados positivos.

Considerando que nos últimos trimestres a temporada de resultados mais ajudou que atrapalhou a Bolsa brasileira, Fernando Siqueira, head de research da Eleven Financial, é mais otimista. Aposta que os números podem ser bons, apesar do ambiente macro ruim. “Os resultados das empresas têm surpreendido positivamente, então podem ajudar”, afirma, citando como exemplos, os “bons números” do Santander.

Mais cauteloso, o estrategista da Santander Corretora, Ricardo Peretti, não acredita que a temporada mude o nível de preço do Ibovespa. “Eu tenho um viés um pouco neutro a levemente positivo para os balanços”, diz, visando resultados melhores para os setores de construção civil, de bancos e, talvez, algumas empresas de proteínas.

Efeito Trump

Há indícios de que a guerra comercial iniciada por Donald Trump possa beneficiar o segmento de agronegócios no Brasil, especialmente se a China tarifar as commodities agrícolas americanas, destaca o analista Felipe von Eye Corleta, da GTF Capital. “No campo das commodities, há certa tranquilidade, mas claro que elas podem cair bastante, se toda essa política tarifária do Trump gerar um risco de recessão”, pondera o especialista, incluindo também o petróleo na conta. Para Corleta, no entanto, apesar da turbulência, os preços dos ativos brasileiros seguem “muito atrativos”, e devem convergir para uma situação um pouco mais razoável, “especialmente se o Brasil conseguir ficar de fora dessa política comercial agressiva do Trump”, considera.

Fluxo estrangeiro

O apetite do estrangeiro pela Bolsa brasileira neste início de 2025 já é melhor em relação ao mesmo período de 2024. Até 4 de fevereiro, o fluxo de capital externo estava positivo em R$ 6,215 bilhões, contra a cifra negativa de R$ 8,3 bilhões em igual intervalo de 2024. Para Peretti, do Santander, os problemas domésticos foram relegados ao segundo plano no mês passado.

“Tudo aquilo que levou o dólar a subir e a Bolsa a cair em dezembro, não mudou. A desconfiança em relação ao quadro fiscal brasileiro permanece mas, mesmo assim, a gente viu essa entrada forte de recursos. Então parece que o tema local ficou momentaneamente um pouco de lado”, diz, frisando que agora é acompanhar o noticiário internacional para ver o que acontece em fevereiro.

Veja também