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Brasil pode ser menos afetado por tarifaço de Trump

Medidas fazem aumentar os temores quanto aos efeitos negativos sobre economia global

5 de março de 2025

Por Aline Bronzati, correspondente, Altamiro Silva Junior e Elisa Calmon

Nas quadras de Wall Street, o Brasil é visto como o país menos exposto aos riscos negativos do tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ontem, a ameaça de campanha do republicano, após uma trégua de um mês, começou a valer para os primeiros alvos, México, China e Canadá. Outros mercados estão na mira, o que sustenta uma onda global de aversão a ativos de risco, já observada nos mercados na segunda-feira, 3, e eleva temores quanto aos efeitos negativos do “homem tarifa” para a economia global.

O índice VIX, uma espécie de termômetro do medo em Wall Street, após atingir ontem o maior nível desde dezembro, saltava mais de 10% hoje, aos 25,12 pontos, em meio ao aumento das tensões nas relações comerciais globais com Trump. Depois de um mês de trégua, os EUA começaram a taxar o Canadá e o México com tarifas adicionais de 25% a partir de hoje. No caso da China, a alíquota cobrada vai dobrar, para 20%.

Desde que tomou posse, Trump tem mencionado uma série de países que podem passar a sofrer tarifas comerciais mais duras. Dentre eles, estão economias da Europa, mas também outros emergentes a exemplo do Brasil e da Índia.

Bancos americanos como o Bank of America e o Citi veem, contudo, o Brasil como o país menos exposto ao tarifaço de Trump, por conta do déficit comercial que o país tem com os EUA. “O Brasil tem a menor exposição direta e indireta às tarifas dos EUA, uma vantagem de ser uma economia muito fechada”, dizem os analistas do Bank of America, Christian Gonzalez Rojas e Ezequiel Aguirre, em relatório a clientes, na terça-feira, 4.

Brasil e Argentina

“A Argentina e o Brasil não estão em risco dado o déficit comercial com os EUA”, afirma o economista do Citi para a América Latina, Ernesto Revilla, em um relatório que serviu de base para um vídeo enviado hoje a clientes do banco americano, comentando as tarifas de Trump. “O México é singularmente vulnerável a tarifas relacionadas ao comércio.”

Em termos de efeitos de tarifas, no México, as exportações representam cerca de 35% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto a média da América Latina é 24%. No Brasil, uma economia mais fechada, é pouco menos de 20% e na Argentina é menos de 15%. “O comércio do México é extremamente concentrado nos Estados Unidos, com 80% de suas exportações”, disse Revilla no vídeo, ressaltando que a média da região é 33%.

Em termos de superávit comercial com os Estados Unidos, o México tem o segundo maior no mundo, de US$ 172 bilhões, só perdendo para a China, com US$ 295 bilhões. “Muitos dos países da América Latina têm um déficit comercial com os EUA, o que os protege das tarifas”, disse ele.

No Brasil, a avaliação de economistas é semelhante ao de bancos estrangeiros. As tarifas de Trump podem afetar negativamente o crescimento da economia americana e consequentemente, mundial, avalia o economista-chefe da Equador investimentos, Eduardo Velho. Países emergentes devem ser penalizados, mas no curto prazo a avaliação é de que no Brasil o foco deve se manter nos desafios domésticos.

“Não prevejo uma recessão nos EUA, mas o mercado está aumentando a aposta na desaceleração do crescimento americano”, diz Velho. O economista destaca que a desaceleração mundial, que afeta a demanda por exportações, é ruim para os países emergentes, incluindo o Brasil. Contudo, considera que o principal ponto de atenção com a economia brasileira segue com as questões internas. “O que mais vai influenciar os ativos, no curto prazo, é a evolução fiscal e a falta de espaço para cortes de juros.”

Rumo à recessão?

Já para o México e o Canadá, bancos e consultorias estrangeiros alertam para riscos mais fortes de recessão à frente. A Capital Economics calcula que, caso a taxação permaneça em vigor, uma contração de 1% do PIB mexicano neste ano seria “plausível”.

“Mesmo que algum tipo de acordo seja alcançado para suspender essa tarifa, a ameaça contínua de barreiras comerciais dos EUA pesará na confiança e no investimento e prejudicará o crescimento do PIB do México”, diz o economista-chefe de mercados emergentes da Capital Economics, William Jackson. Ao contrário de Canadá e China, o México não tem espaço fiscal para apoiar a economia, acrescenta.

No caso do Canadá, os danos podem ser ainda maiores. A Capital Economics estima que as tarifas devem causar um impacto no PIB do país de cerca de 3% no primeiro ano.

O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, anunciou que o Canadá também vai taxar produtos dos EUA em 25% e que estão em estudo medidas não tarifárias. Já Pequim retaliou os EUA com um aumento de 15% na tarifa sobre alimentos e outros produtos agrícolas, além de aumentar as restrições de exportação para empresas americanas.

Por sua vez, a presidente México, Claudia Sheinbaum, prometeu um anúncio em praça pública no domingo, 9, às 15 horas (de Brasília). “Responderemos com medidas tarifárias e não tarifárias”, disse ela, em coletiva de imprensa, mais cedo.

Ganhos relativos

O presidente da Queen’s College e Conselheiro Econômico Chefe da Allianz, Mohamed El-Erian, reforçou o coro quanto aos efeitos negativos do tarifaço de Trump para a economia mundial. “Essa escalada tem implicações significativas para a economia global, com potenciais consequências de curto e longo prazo”, alertou ele, considerado um guru em Wall Street, em sua conta no X.

Os EUA podem experimentar ganhos relativos na largada. Mas, por outro lado, todos os países envolvidos, inclusive a maior economia do mundo, também devem enfrentar perdas absolutas já no curto prazo, conforme El-Erian. “Não há vencedores num mundo com uma guerra comercial”, acrescentou o primeiro-ministro do Canadá.

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