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Petroleiras ganham espaço em transição energética

Investidor da Petrobras questiona sobre rentabilidade de projetos em energias renováveis

17 de março de 2025

Por Aline Bronzati, enviada especial

Enquanto Wall Street decretava o fim da lua de mel com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em uma semana de perdas recordes por temores de recessão diante de incertezas comerciais, a mais de 2.600 quilômetros de distância, em Houston, no Texas, os CEOs das maiores petroleiras do mundo respiravam mais aliviados com um passo atrás na agenda de transição energética.

Durante a CERAWeek, considerada uma espécie de Davos do setor de energia, a segurança energética dominou os debates e a leitura é a de que deve dividir o palco com a pauta da sustentabilidade no mesmo tempo que os EUA adotam a política ‘drill, baby, drill’, cujo objetivo é estimular o aumento da produção de petróleo no país.

Em uma das plenárias mais comentadas pelos executivos ao longo da semana, o secretário de Energia dos Estados Unidos, Chris Wright, abriu os trabalhos antecipando o fim do que chamou de uma política energética de Estado “muito ruim” e “míope”.

“O governo Trump acabará com as políticas irracionais e quase religiosas do governo Biden sobre as mudanças climáticas que impuseram sacrifícios infinitos aos nossos cidadãos”, disse ele, na CERAWeek, promovida pela S&P Global, em Houston, conhecida como a ‘capital do petróleo’.

Agenda verde

Suas falas serviram de chancela para os CEOs das maiores petrolíferas do mundo, irritados com a predominância da agenda green no setor energético global. A “campanha Trump” foi tamanha que teve até presidente de grande empresa brasileira que reclamou do exagero nos bastidores. As queixas também chegaram ao palco principal do evento, realizado no Hotel Hilton, no centro renovado de Houston – e um pouco deserto para o padrão. O CEO da Mitsui, Takeshi Hashimoto, admitiu que está muito difícil traçar estratégias no atual cenário, sem saber se o homem tarifa vai entrar em ação ou não.

Outro alerta veio da maior gestora de recursos do mundo. O CEO da BlackRock, Laurence D. Fink, afirmou que a política nacionalista de Trump, que tem acelerado a deportação de pessoas indocumentadas nos EUA, deve pesar nos preços americanos no curto prazo. “Eu até disse aos membros da equipe de Trump que ficaremos sem eletricistas enquanto construímos um data center de IA (inteligência artificial). Simplesmente não temos o suficiente. Então, tudo isso terá impacto na inflação”, alertou Fink.

E a Petrobras?

Pela primeira vez na CERAWeek como presidente da Petrobras, Magda Chambriard, contou, em entrevista exclusiva ao Broadcast, que tem ouvido questionamentos de investidores estrangeiros quanto ao retorno dos projetos de energias renováveis. “Não é melhor investir em E&P (exploração e produção)?”, perguntam eles, conforme a executiva, que responde com calma e objetividade: “Dificilmente, nós vamos ter o retorno do pré-sal, mas o pré-sal também não é infinito”.

De acordo com ela, se as incertezas no cenário externo se perpetuarem, e o preço dos combustíveis no Brasil ficarem muito acima do nível praticado no mercado internacional, a estatal vai se mexer. O oposto também é verdadeiro já que preço muito alto, a Petrobras perde dinheiro, muito baixo. “Hoje, nós não estamos pensando em mexer (nos preços) a curto prazo”, afirma Chambriard.

Já o CEO da Aramco, Amin H. Nasser, celebrou que a era da ficção de que a energia convencional poderia ser quase totalmente substituída da noite para o dia ficou para trás. “Muitos de nós sabíamos que essas promessas eram impossíveis de cumprir, mas nossa indústria não tinha mais um assento à mesa. O futuro da energia não é apenas sobre sustentabilidade. Segurança e acessibilidade devem dividir o palco”, defendeu.

Trilema energético

A sensação de alívio também foi compartilhada pelo presidente de downstream, midstream e produtos químicos da Chevron, Andy Walz, questionado sobre como balancear o trilema do setor energético, com acessibilidade, confiabilidade e descarbonização. “Estou encorajado quanto às conversas que aconteceram esta semana. Parece estar mais equilibrado, mas, tem que ser acessível, tem que ser confiável por razões de segurança, e sim, sempre temos que torná-lo mais limpo”, disse o executivo.

Ao longo desta semana, a CERAWeek reuniu mais de 10 mil representantes, de mais de 2 mil companhias, de 80 diferentes países, além de diversos ministros e chefe de Estado. Sob o mote ‘Seguindo em frente: estratégias energéticas para um mundo complexo’, destaque também para o papel da inteligência artificial, que vai ser um motor para o aumento do consumo de energia nos próximos anos, mas também pode ajudar o setor a emitir menos. Neste capítulo, executivos também relataram uma dose de exagero com a IA sendo citada na grande maioria dos debates.

“A transição é difícil, as energias renováveis não entregam a mesma qualidade, quantidade e segurança da energia que o petróleo e os combustíveis fósseis entregam e é verdade que a gente criou uma sociedade viciada nesse modelo”, diz o presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás (IBP), Roberto Ardenghy. “É claro que o setor está caminhando com o processo de transição, mas vai levar muito mais tempo do que a gente imaginou”, conclui.

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