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Incerteza por tarifaço deixa empresas na retaguarda

Vai-vem das decisões de Donald Trump já afeta o planejamento dos negócios das companhias brasileiras

10 de abril de 2025

Por Altamiro Silva Junior, Cynthia Decloedt, Talita Nascimento, Gabriel Baldocchi e Wilian Miron

O vai e vem das tarifas de Donald Trump já afeta o dia adia das empresas e o planejamento dos negócios, por conta da forte volatilidade que provocou nos mercados e o aumento da incerteza com os rumos da economia mundial. A preocupação com o tema ficou nítida em evento esta semana do Bradesco BBI, que reuniu 158 companhias em São Paulo, incluindo nomes como Embraer, Suzano, Aegea, Equatorial e Petroreconcavo.

O assunto tarifa esteve presente na maior parte das apresentações. O CEO da Iguá, da área de saneamento, Roberto Barbuti, afirmou que o ambiente de incerteza e volatilidade joga contra nas decisões de investimentos relevantes. “Estamos em um momento em que a tomada de decisões relacionadas à alocação de capital são mais difíceis e a guerra comercial pode impactar a decisão de participar em outros leilões de concessão”, disse.

‘olho do furacão’

As empresas estão tendo que parar para avaliar o cenário, afirma o vice-presidente do Bradesco, responsável pelo banco de atacado, Bruno Boetger. “Estamos no olho do furacão.” As tarifas têm potencial para provocar inflação nos Estados Unidos e desencadear uma desaceleração da economia americana, que pode respingar na economia mundial. “Ainda falta entender ganhadores e perdedores, mas os mercados emergentes são beneficiados”, disse o executivo.

O presidente da Suzano, Beto Abreu, pondera que o atual momento de imposição das tarifas desacelera as negociações de aumento de preços de celulose que a empresa vinha fazendo nos últimos meses. “Redução de demanda traz problemas para produtores de custo mais altos. É natural que haja desaceleração de negociações e aumento de preço no curto prazo”, disse no evento.

Para o executivo, a maior preocupação da companhia e de todas as indústrias é uma possível recessão. “O momento é de cautela para alocação de capital, com muitas incertezas”, afirmou. Na Embraer, que exporta muito para os Estados Unidos, o momento também é de entender o cenário. “Estamos avaliando os impactos para a companhia”, disse o vice-presidente de finanças e relações com investidores, Antônio Garcia.

Na infraestrutura

Para a gestora Perfin, que tem investimentos bilionários na área de infraestrutura, a maior preocupação do tarifaço se dá no fornecimento de insumos. “O que mais preocupa é como vai se comportar a cadeia de suprimentos. Vimos isso na pandemia e esse é um ponto que temos que monitorar”, afirma Ralph Rosenberg, sócio da gestora. A maior preocupação é com equipamentos com fornecedor únicos e que são produzidos nos Estados Unidos ou na China.

As medidas mais drásticas de Trump, que têm surpreendido pela intensidade, provocaram um choque que tem feito empresários segurarem investimentos e adiar decisões de negócios, à espera de mais clareza, avalia o sócio da gestora SPX, Leonardo Linhares. “O canal que mais me preocupa é a China”, afirma, ressaltando a dependência do Brasil das exportações para o país asiático. “O Brasil não é uma ilha”, disse ele.

As importações de calçados pelo Brasil cresceram 47,7% em março, em comparação com o mesmo mês do ano passado, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), sendo que a principal origem foi a China, com aumento de 51,7%, para 2,55 milhões de pares. “Essa invasão ocorre antes mesmo da entrada em voga da nova tarifa [anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump]”, disse o presidente-executivo da entidade, Haroldo Ferreira. “A previsão é de que [a importação] aumente ainda mais.”

Exportações

Em valores, as importações brasileiras de calçados somaram quase US$ 55 milhões em março, um avanço de 28,8% sobre o mesmo mês de 2024. No primeiro trimestre, as compras externas chegaram a 12,9 milhões de pares, um crescimento de 25,1% em relação ao mesmo período do ano passado. O total importado equivale a US$ 142,3 milhões, um avanço de 13,4% na mesma comparação.

A Brava Energia tem a perspectiva de encontrar uma solução para o desinvestimento dos campos em que opera na Bahia ainda neste mês. A condição é uma proposta de preço que faça sentido para a empresa. O CEO da companhia, Décio Oddone, disse à Coluna que não há um negociador único do outro lado da mesa. Ou seja, a empresa segue aberta a ouvir interessados, buscando a melhor opção.

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