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Amor e ódio

"Tudo sobre mineração é miserável, difícil e de longo prazo", diz Robert M. Friedland, fundador da canadense Ivanhoe Mines

19 de março de 2025

Por Aline Bronzati

Miserável, difícil e de longo prazo. É como Robert M. Friedland, fundador da mineradora canadense Ivanhoe Mines, define o setor de mineração. Deixou explícita a sua relação de amor e ódio para o segmento que o fez bilionário.

Ele dominou o debate em uma mesa redonda sobre minerais críticos com outros pesos pesados do setor na CERAWeek, uma das maiores conferências de energia do mundo realizada pela S&P Global, em Houston (EUA).

“Tudo sobre mineração é miserável, difícil e de longo prazo”, disse em suas palavras iniciais. “Você não abre uma torneira e obtém mais metal. Metais são muito, muito mais difíceis do que o negócio de petróleo”, acrescentou mais adiante. Ressaltou, ainda, o dilema ambiental.

Afirmou que, no refino, a situação também é muito complicada. Wall Street deveria recompensar o setor por descobrir como trabalhar os metais, sugeriu.

E tentou explicar o imbróglio da mineração com o exemplo da construção de um pequeno data center. Segundo Friedland, são necessários metais como cobre, bário, antimônio, titânio, índio, prata, tungstênio, ouro, gálio, tântalo, nióbio e paládio. Sem eles, nada feito.

Alguns, só na China, e aí você tem de comprar uma licença com o Xi Jinping, presidente chinês, que pode ser mais fácil do que em Denver, no Colorado. “A geologia é onde a geologia está”, reforçou o CEO da Vale Base Metals, Shaun Usmar, que dividiu a mesa redonda, ao lado de outros executivos do setor.

Comparável à guerra

O setor de mineração atravessa um momento que é comparável à uma guerra, na opinião de Friedland. É como a cena do filme Indiana Jones e o Templo da Perdição, de 1984: “Paredes se aproximando, portas se fechando e uma bola gigante rolando uma rampa para esmagá-lo”, narrou.

E, nessa guerra, os Estados Unidos estão em uma posição muito difícil. Enquanto a China investiu pesado e tem hoje uns 30 ou 40 anos de vantagem, os americanos colocaram o seu dinheiro em tecnologias que ele chamou de sexy como banda larga, internet, Netflix. “Estamos muito atrasados. Temos que pensar nisso como uma verdadeira crise”, classificou Friedland.

Mas Donald Trump traz um ar novo para o setor de mineração, na visão do magnata. O pedido para acesso aos minerais críticos da Ucrânia em troca de apoio militar é um exemplo. Ainda assim, o país tem uma tarefa hercúlea pela frente e que pode levar duas décadas para dar frutos. O tempo dirá.

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