Agronegócios
20/09/2023 12:11

ESG/Fairr: só 8% das companhias globais de alimentos têm metas para impulsionar agricultura regenerativa


Por Clarice Couto

São Paulo, 20/09/2023 - Apesar de a maioria das empresas globais de alimentos citar publicamente a agricultura regenerativa como caminho para enfrentar o aquecimento global e a perda de biodiversidade, só 8% delas têm metas financeiras estabelecidas para apoiar agricultores de sua cadeia na adoção de tais práticas. Essa é uma das conclusões do levantamento feito pela Fairr, rede global mantida por investidores com mais de US$ 70 trilhões em ativos, a partir de entrevistas com as 79 maiores empresas globais do setor de alimentos e varejo. As empresas - entre elas JBS, Pepsico e Nestlé - são avaliadas, juntas, em mais de US$ 3 trilhões e representam, conforme a Fairr, um terço do setor no mundo. O levantamento foi antecipado ao Broadcast Agro.

A pesquisa revela que, das 79 empresas entrevistadas, 50 delas, ou 63% do total, mencionam em documentos públicos o potencial da agricultura regenerativa como solução para lidar com a crise climática e a perda da biodiversidade. Destas 50 empresas, 32 ou 64% - incluindo Chipotle, Domino’s e Bunge - não estabeleceram nenhuma meta quantitativa formal relacionada à questão.

Somente quatro das 50 empresas que abordam publicamente o potencial da agricultura regenerativa, ou 8% do total, já determinaram metas financeiras para apoiar e incentivar os agricultores de sua cadeia de abastecimento a adotar práticas de agricultura regenerativa. A Fairr cita Nestlé, PepsiCo e JBS como exemplos de empresas que investem valores considerados significativas, para estimular tais práticas, bem como a Good Eating Company, da Sodexo, que destinará 15% do seu orçamento relacionado a alimentos para a agricultura regenerativa. Segundo a Fairr, pequenas doações para projetos específicos foram excluídos destes valores.

A Fairr adotou alguns critérios para selecionar as empresas participantes, como fazer parte dos segmentos agrícola, de alimentos embalados e carnes, varejo de alimentos, restaurantes e food service; exposição a proteínas, em particular carne e/ou laticínios (empresas que compram produtos proteína animal para varejo ou transformação); capitalização de mercado acima de US$ 5 bilhões, em média, entre 1º de janeiro de 2021 e 31 de julho de 2023.

Alguns dos exemplos de práticas regenerativas citados pela Fairr são a adoção de sistemas integrados de manejo, que combinem químicos com outros nutrientes; sistemas com diversidade de culturas, no lugar de monoculturas; entre outros. Já do lado dos resultados esperados com a adoção destas medidas estão redução das emissões de gases de efeito estufa, melhora da saúde do solo, aumento da biodiversidade, avanços na qualidade da água, aumento da renda do produtor e outros indicadores econômicos, além de redução do uso de insumos químicos.

O presidente e fundador da rede Fairr, Jeremy Coller, alerta no estudo que a pressão sobre as companhias tende a aumentar com o debate em curso na Europa de leis que exigirão de empresas que forneçam evidências do cumprimento de práticas ambientais divulgadas publicamente. Coller cita o EU Green Claims Directive (Diretiva de alegações ambientais da União Europeia), que propõe eliminar mensagens ambientais enganosas, exigindo de empresas que se comuniquem de forma precisa e passem por verificação externa, entre outras medidas. Menciona, ainda, iniciativa semelhante em discussão no Reino Unido para evitar o chamado greenwashing em propagandas.

Credibilidade

O levantamento da Fairr avalia a atuação das companhias globais de alimentos e varejo no que se refere a agricultura regenerativa em quatro aspectos: estabelecer os resultados que a agricultura regenerativa pode entregar; credibilidade na divulgação de informações; mensuração e acompanhamento dos resultados; apoio ao produtor para sua resiliência na transição de práticas agrícolas convencionais para regenerativas.

No que se refere a angariar credibilidade na comunicação das ações, o levantamento da Fairr apurou que, das 50 empresas globais que já mencionam o potencial da agricultura regenerativa, 64% fazem apenas declarações genéricas e 34% têm metas quantificáveis. A Fairr comenta também sobre a variação do nível de investimento comprometido por companhias globais para apoiar a adoção de práticas regenerativas. Entre os exemplos citados estão a JBS que, segundo a Fairr, deve investir US$ 100 milhões até 2030; Nestlé, US$ 1,3 bilhão até 2025; e Pepsico, ao menos US$ 216 milhões até 2030.

"A transição das práticas convencionais para práticas regenerativas traz riscos aos produtores, pois provavelmente exigirá um investimento inicial significativo, como em novas máquinas, apoio agronômico e experimentação, e poderá afetar a produtividade no curto prazo. Sem apoio adequado aos agricultores, não haverá uma agricultura regenerativa bem-sucedida", disse em nota a diretora de Pesquisa Temática e Inovação Corporativa da Iniciativa Fairr, Jo Raven.

"Como investidores responsáveis, estamos empenhados em nos envolver ativamente, direta, coletivamente e por meio dos nossos gestores de investimentos, com as empresas, para estabelecer metas claras e alcançáveis", afirmou no comunicado a líder de administração de investimentos da Scottish Widows, Shipra Gupta. "O levantamento da Fairr mostra que há mais promessas do que progressos no setor agroalimentar. Os investidores vão querer ver metas mensuráveis que correspondam às ambições declaradas pelas empresas sobre agricultura regenerativa", acrescentou o presidente e fundador da rede Fairr, Jeremy Coller.

Contato: clarice.couto@estadao.com
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