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Lula e o agro

Presidente retoma tática de campanha para quebrar o gelo com setor e é chamado de pai dos biocombustíveis

10 de outubro de 2024

Por Caio Spechoto e Isadora Duarte

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou na terça-feira, 8, no galpão da Base Aérea de Brasília onde era realizada a feira “Liderança Verde Brasil Expo”, sobre transição energética. Andou por estandes de expositores como Ultragaz, Enel, Raízen e Be8. Fez diversos acenos aos setores envolvidos e sancionou o projeto Combustível do Futuro. O texto dá incentivos para combustíveis sustentáveis e aumenta o porcentual de etanol na gasolina e de biodiesel ao diesel. O petista foi chamado por integrantes do setor de pai dos biocombustíveis. Antes, havia referência semelhante, mas restrita ao biodiesel.

O evento reuniu as companhias de alguns dos empresários mais próximos de Lula. Por exemplo, as de Rubens Ometto (Raízen) e de Erasmo Carlos Battistella (Be8). Eles são parte da elite do agro, com quem o presidente cultiva boas relações. É um contraste com a oposição que a maioria dos produtores rurais tem ao petista. Desde a campanha eleitoral de 2022 Lula tenta entrar no agro a partir do topo do setor.

No ano da eleição presidencial, o petista teve ajuda de alguns políticos com bom trânsito na área. Por exemplo, o ex-deputado Neri Geller e o hoje ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. Os empresários Carlos Augustin, do setor de sementes, e Jalles Fontoura de Siqueira, do setor sucroenergético de Goiás, também auxiliaram o então candidato. O esforço foi concentrado em Estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Minas Gerais.

Lula jogava com a rejeição internacional do governo de Jair Bolsonaro, que causava problemas para exportadores do setor, e com os altos juros aplicados no Plano Safra. Também acenou com incentivos governamentais para algumas atividades econômicas ligadas ao agro, como a produção de biocombustíveis, beneficiada pelo projeto sancionado no evento de terça-feira. Em seu primeiro governo, por exemplo, Lula tornou obrigatória a mistura de biodiesel no diesel.

Depois de eleito, o megaexportador de soja Blairo Maggi e seu primo Eraí Maggi, grande produtor de grãos, também abriram portas para o grupo político do petista. Os irmãos Batistas, donos da JBS, ajudaram na reconstrução de pontes do petista com o setor pecuário.

O presidente da República conseguiu se aproximar de setores da elite empresarial, mas essa tática vem mostrando seus limites. Um ano e dez meses depois de assumir o Planalto, Lula segue tendo dificuldades em locais onde a agropecuária é a força política, além de econômica, predominante. Os próprios encontros com representantes do setor na Granja do Torto minguaram.

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