Apesar de tentativas de recuperação, ação soma perdas de dois dígitos desde início de especulações
23 de setembro de 2024
Por Elisa Calmon e Amélia Alves
As ações da Azul caíram 24% em 29 de agosto, após os primeiros ruídos sobre a situação financeira da companhia virem à tona. Os rumores, incluindo a possibilidade de uma recuperação judicial, trouxeram uma onda de incertezas que, 20 dias depois, ainda não passou. Apesar de tentativas de recuperação, o papel ainda soma perdas de dois dígitos em comparação com o início das especulações. A “ressaca” ocorre enquanto o mercado observa atentamente os planos da aérea para equacionar as contas.
Em 28 de agosto, véspera dos primeiros ruídos, o papel da Azul estava cotado a R$ 7,25. No dia 19 encerrou a R$ 5,61, acumulando queda de 22% no período. As perdas só não foram maiores porque o papel esboçou reação entre o final da semana passada e o início desta. No entanto, voltou a cair 10% na quarta-feira, e depois de um dia majoritariamente positivo, também fecharam em leve baixa na quinta-feira passada.
“Essa volatilidade no papel é porque o mercado ainda não tem uma sinalização clara sobre acordos com credores, aumento de capital e/ou uma fusão com a Gol”, diz o analista Vitor Miziara, sócio da Performa Ideias. Em setembro, a ação registra alta de 4%. Por outro lado, acumula perdas de 28% em um mês e cerca de 65% em 2024.
Em meio a uma sequência de quedas, o valor de mercado (market cap) da aérea atingiu R$ 1,37 bilhão no dia 9 de setembro. Foi o menor patamar desde a abertura de capital (IPO) da Azul, em 2017. Contudo, parte das perdas foi recuperada e a cifra fechou esta quinta-feira em R$ 1,88 bilhão.
Bradesco BBI, Goldman Sachs e Genial, por exemplo, reforçaram recomendação de compra para a Azul, mesmo com os desafios recentes. Analistas chegaram a considerar as fortes quedas como injustificadas, apesar de reconhecerem dificuldades como alta do câmbio e do petróleo, e alavancagem pressionada. Nesse cenário, destacaram os esforços da companhia para otimizar a estrutura de capital.
‘Lessores’ e credores
Entre as iniciativas, está a renegociação com “lessores” (arrendadores de aeronaves), estopim para o início da maré negativa para as ações da companhia. O CEO da Azul, John Rodgerson, avalia que a má recepção à notícia ocorreu porque houve uma falta de entendimento do mercado. “O que estamos negociando é muito mais benéfico para os acionistas, mas, por alguma razão, o mercado não entendeu o que está sendo feito”, afirmou em entrevista ao Broadcast.
A expectativa do executivo, que descartou a possibilidade de uma recuperação judicial, é que as negociações com os lessores sejam finalizadas ainda em setembro. Contudo, no último domingo, 15, a Azul informou que ainda não há um acordo firmado com os arrendadores de aeronaves.
O novo modelo propõe converter a dívida de cerca de US$ 600 milhões em “equity” (participação acionária) de uma só vez e não de forma gradual ao longo de três anos, como previsto anteriormente. A diluição inicial seria de cerca de 20%, mas segundo Rodgerson, a fatia deve ficar “um pouco maior”. “Vamos fechar agora em um número razoável para todos os envolvidos para tirar este peso da frente e diminuir as incertezas”, afirma.
O analista da Genial, Ygor Bastos, avalia que os lessores, que continuam a fornecer aeronaves para a Azul, têm interesse em ver a companhia financeiramente forte no longo prazo. “A renegociação está focada em ajustar a estrutura de capital de maneira que permita à companhia continuar operando de forma robusta, evitando a necessidade de medidas extremas como o ‘Chapter 11’ (recuperação judicial nos Estados Unidos)” , disse.
Um desfecho desta renegociação é visto como fundamental para que a empresa avance em outra frente, que é a de tomar mais capital com os detentores de títulos de dívida internacionais (bondholders). O montante pode chegar a até US$ 800 milhões, usando a Azul Cargo como garantia. Contudo, a expectativa é que o valor seja menor do que o teto.
Na semana passada, a companhia fez uma série de reuniões com credores em Nova York com estes dois grupos: bondholders e lessores. Os bondholders sinalizaram que estão dispostos a dar mais recursos para a empresa, com a condição de que a companhia aérea primeiro se acerte com os lessores, que têm a maior parte das dívidas da empresa, de acordo com fontes.
Fundo de crédito
Diante das incertezas sobre estas negociações, a aprovação e sanção pelo governo de mudanças no Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac) trouxeram alívio para as ações da Azul. A estimativa é que, com o fundo garantidor, as aéreas possam acessar R$ 5 bilhões em crédito por ano. Contudo ainda não há a definição de como esse valor deve ser dividido.
Na sexta-feira passada, 13, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se reuniu com executivos da Azul. No encontro, o ministro prometeu que, em até dois meses, o instrumento de garantia estará devidamente regularizado para que as aéreas possam acessar crédito com melhores condições, segundo fontes ouvidas pelo Broadcast que participaram da reunião.
Para o CEO da Azul, a aprovação do fundo “muda completamente as projeções da companhia para o ano”, já que existiam dúvidas se o projeto sairia do papel ainda em 2024. A utilização também entra na lista de estratégias da companhia para otimizar o capital.
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