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Brasil pode emplacar até sete emissões externas em janeiro

Executivo do Itaú BBA projeta operações, mas alerta para investidor mais seletivo

20 de dezembro de 2024

Por Aline Bronzati, correspondente

A primeira janela de emissões de dívida no exterior, tradicionalmente uma das mais fortes do ano, deve contar com a presença das empresas brasileiras, mesmo com a piora do câmbio. O executivo responsável pela área de renda fixa internacional do Itaú BBA, Pedro Frade Rodrigues, projeta um total de cinco a sete operações em janeiro, mas alerta para um investidor mais seletivo.

“A depreciação recente do real e expectativas de juros mais altos demoraram para afetar o mercado secundário de bonds, mas, nas semanas recentes, começamos a ver impactos. Apesar disso, acredito que investidores estrangeiros olharão novas emissões, porém, sendo mais seletivos em quais nomes investir”, diz o executivo, baseado em Nova York, em entrevista exclusiva ao Broadcast.

Na sua visão, os investidores estrangeiros ainda estão dando o benefício da dúvida para o Brasil, em especial a nomes com um perfil de crédito mais forte. “Agora, se a gente continuar em um patamar onde juros muito altos e a moeda mais fraca comecem a afetar a qualidade das empresas e a habilidade delas de permanecerem saudáveis, isso aqui pode mudar”, alerta Rodrigues.

Temores fiscais no Brasil, com riscos de desidratação do pacote do governo e falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), têm deteriorado ainda mais as expectativas, aprofundando as perdas da moeda brasileira, com desvalorização de quase 30% no ano, e elevando as expectativas de aumento dos juros.
Nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sinalizou menos cortes de juros, em meio à inflação resistente e a volta de Donald Trump à Casa Branca, com Wall Street prevendo a manutenção dos rendimentos dos Treasuries, que são os títulos do Tesouro americano, em patamares elevados, o que diminui o apetite do estrangeiro para emergentes, a exemplo do Brasil.

De acordo com Rodrigues, potenciais emissores brasileiros fazem as contas e avaliam o cenário dentro e fora de casa, incluindo o ambiente macroeconômico, para baterem o martelo se embarcam na primeira janela no exterior de 2025. Algumas já estavam monitorando o mercado internacional antes das eleições presidenciais nos EUA, mas acabaram postergando as suas operações em meio à volatilidade.

Boa parte das empresas com receitas ou ativos na moeda americana e grau de investimento global estão entre as principais candidatas a captar no exterior no início do próximo ano, diz o especialista.

“Essas empresas terão acesso se quiserem vir. Eu não tenho dúvida que para os melhores nomes o mercado está aberto. O Brasil, apesar de tudo que está acontecendo atualmente, ainda tem demanda, obviamente, pode ser a um nível um pouco mais alto ou mais baixo dependendo do cenário de mercado”, avalia, sem mencionar nomes específicos.

No geral, o executivo espera que 2025 seja um ano “equivalente” ao que está chegando ao fim, mas com uma dose a mais de volatilidade. “As janelas vão estar abertas, mas, para pegar a melhor janela, talvez os emissores tenham que navegar com um pouco mais de cuidado nesse próximo ano”, diz.

Neste ano, foram US$ 23 bilhões de emissões externas de empresas brasileiras e cerca de US$ 5 bilhões em recompras de operações já feitas. “Em anos normalizados, a gente tem entre US$ 20 bilhões e US$ 25 bilhões juntamente com recompras de US$ 5 bilhões e US$ 10 bilhões”, compara Rodrigues.

Dentre os destaques de 2024, ele cita duas emissões do Tesouro Nacional, com volumes maiores. Se isso se mantiver ano que vem, contribui para o mercado de emissões externas de empresas brasileiras ter um volume US$ de 20 bilhões a US$ 25 bilhões em 2025, conforme ele. “Mas, com a vitória de Trump haverá uma análise mais profunda do impacto de sua gestão de setor a setor. Claramente, economicamente, ele tem uma visão de protecionismo dos Estados Unidos”, observa.

Segundo o executivo, é difícil generalizar os efeitos do seu segundo mandato, cujas medidas podem ter efeitos diferentes em segmentos que são mais fortes nos EUA e aqueles em que o país não produz. “Com certeza, Trump traz um pouco mais de volatilidade tanto no sentimento do mercado como um todo, quanto em relação aos rendimentos do Tesouro americano porque é menos clara a sua estratégia”, conclui.

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