Suspensão da rede social é vista como ponto isolado por fundos interessados em Brasil
3 de setembro de 2024
Por Aline Bronzati, correspondente
A suspensão do X (antigo Twitter) no Brasil repercutiu na comunidade internacional, com investidores estrangeiros procurando explicações sobre a medida, que derrubou a maioria dos milhões de usuários da plataforma no País. O caso desencadeou uma série de críticas na rede, que continua sendo acessada normalmente em outros países, mas o caso é visto como ‘único’ e sem peso para impactar o apetite de fundos que olham o mercado brasileiro para investir, conforme especialistas ouvidos pelo Broadcast.
A escalada de tensões entre o bilionário e empresário Elon Musk e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, ocorre às vésperas do esperado processo de flexibilização monetária nos Estados Unidos, e que pode ampliar o interesse de estrangeiros em mercados emergentes, incluindo o Brasil, em busca de retorno.
Para a economista e pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics (PIIE), Monica de Bolle, a suspensão do X não tem potencial de respingar no apetite dos investidores pelo País, a exemplo de ruídos como relacionados à política monetária ou à situação fiscal doméstica. O que os investidores buscam saber são as razões para a suspensão da plataforma, diz.
“Os investidores estrangeiros, honestamente, são um pouco mais sofisticados do que o pessoal que fica pululando em mídia social, à exceção dos bilionários tipo o Elon Musk e o Bill Ackman. O resto do mundo não funciona bem assim”, diz ela, baseada em Washington DC, nos Estados Unidos.
O megainvestidor de Wall Street Bill Ackman, da gestora Pershing Square, criticou a suspensão do X no Brasil e alertou para o risco de o País perder investimentos. Ele é um usuário assíduo do antigo Twitter e utiliza a rede frequentemente para fazer comentários sobre juros, economia, política e geopolítica.
“O fechamento ilegal do X e o congelamento de contas na Starlink no Brasil colocaram o Brasil em um caminho rápido para se tornar um mercado não se pode investir”, escreveu Ackman em seu perfil no X, no sábado, primeiro dia oficial da suspensão da rede no País.
O bilionário, considerado uma espécie de guru de Wall Street, comparou ainda o Brasil com a China. “A China cometeu atos semelhantes, levando à fuga de capital e ao colapso nas avaliações. O mesmo acontecerá com o Brasil, a menos que eles recuem rapidamente desses atos ilegais”, alertou.
A publicação de Ackman foi retransmitida por Musk em meio a uma série de críticas que o empresário tem reforçado ao ministro do STF desde a suspensão do X no Brasil. “Investir no Brasil sob a sua administração atual é insano”, afirmou o dono da plataforma. “Quando houver uma nova liderança, isso deve mudar”, acrescentou Musk, sem citar nomes.
Política
A preocupação com o estrangeiro também veio da arena política. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse que a briga jurídica envolvendo o X nunca deveria ter sido extrapolada para bloqueio de contas da empresa Starlink, empresa do bilionário que fornece internet via satélite. “O que mais me preocupou e devemos ter diversos investidores internacionais é a gente ter a obrigação de saber separar pessoa jurídica A de pessoa jurídica B”, disse Lira, em evento da XP, no último sábado.
A economista sênior do PIIE afirma que, no front internacional, a suspensão do X não foi percebida como uma “ação ditatorial de um juiz”, mas de um “país que reforça as suas leis”. Além disso, ela diz que a comparação do Brasil com a China e a Rússia é outro “grande espantalho”. “Todo mundo entende perfeitamente que o que está acontecendo com o X no Brasil é um problema da empresa com as leis brasileiras”, reforça Bolle.
Para o economista-chefe de mercados emergentes da Capital Economics, William Jackson, a suspensão do X no Brasil serve de alerta em relação ao peso “muito abrupto” que ações judiciais podem causar em negócios no País. Ele diz que a medida pode se refletir no olhar dos investidores estrangeiros, mas não em grandes proporções. “Suspeito que os investidores vejam a suspensão de X como um caso único e isso não terá impacto em um nível agregado”, diz Jackson, ao Broadcast.
De acordo com ele, qualquer impacto econômico da medida será “marginal”. No entanto, o bloqueio do X deve causar custos para empresas que utilizam a plataforma como parte importante dos seus negócios. O tamanho do prejuízo dependerá do tempo de suspensão, afirma.
Bolle lembra ainda que as redes sociais estão sofrendo maior escrutínio ao redor do globo. O fundador do Telegram, Pavel Durov, foi preso na França, enquanto o TikTok está sob ameaça de ser banido nos EUA. “Todas essas plataformas de mídias não reguladas hoje estão sob intenso escrutínio das autoridades nos diferentes países porque têm um potencial imenso de causar danos em processos eleitorais, além de outros impactos”, diz.
Na sua visão, com as eleições municipais no Brasil, o STF está sendo “extremamente cauteloso” e de forma correta. “Esse é outro ponto que qualquer investidor que esteja olhando para essa situação com a devida clareza, e sem qualquer tipo de viés ideológico, vai ver”, conclui.
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