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CEO da Azul afasta recuperação nos Estados Unidos

John Rodgerson prevê entendimento com arrendadores ainda em setembro

3 de setembro de 2024

Por Elisa Calmon

As negociações das dívidas da Azul com arrendadores de aviões caminham “muito bem” e devem ser fechadas ainda em setembro, segundo o CEO da companhia, John Rodgerson. O novo formato de pagamento gerou burburinhos, inclusive com rumores de recuperação judicial. Contudo, o executivo descarta a hipótese de “Chapter 11”, como é conhecida a recuperação nos Estados Unidos, e detalha quais são as estratégias em curso para fortalecer a saúde financeira da aérea. Além da renegociação com os chamado “lessores”, o plano é levantar capital usando a Azul Cargo como garantia e acessar o fundo de crédito para o setor aprovado pelo governo.

“A recuperação judicial não está nos nossos planos, nunca esteve. O que estamos negociando é muito mais benéfico para os acionistas, mas, por alguma razão, o mercado não entendeu o que está sendo feito”, afirmou Rodgerson em entrevista ao Broadcast.

Para o CEO, foi esta falta de entendimento que levou à forte queda nas ações recentemente. Os papéis, que caem quase 16% no pregão de hoje, 2, e acumulam perdas de 37% desde a última quinta-feira, quando informações divulgadas pela imprensa questionaram a situação financeira da companhia.

Um dos principais gatilhos para as especulações foi a nova proposta de pagamento aos lessores. No modelo anterior, apresentado no ano passado, a Azul iria converter a dívida de cerca de US$ 600 milhões em “equity” (participação acionária) de forma gradual ao longo de três anos a partir do terceiro trimestre de 2024. Segundo Rodgerson, a companhia sempre trabalhou com uma diluição de cerca de 20%.

O executivo explica que, no novo formato, a fatia pode ser “um pouco maior do que 20%”, mas prevê que a conversão seja feita de uma única vez, com um porcentual pré-definido. “Vamos fechar agora em um número razoável para todos os envolvidos para tirar este peso da frente e diminuir as incertezas”, afirma.

O CEO avalia que as conversas se encaminham para um desfecho positivo ainda em setembro e atribui isso ao “ótimo relacionamento” da companhia com os lessores. A Azul tem dialogado com quatro principais empresas de arrendamento de aeronaves: AirCap, Falko, Avolon e Nordic. “Elas entendem bem o que estamos fazendo e temos trabalhado lado a lado”, disse.

Estratégias combinadas

Rodgerson nega que a companhia esteja estudando uma oferta geral de ações para levantar capital. O que está na mesa é uma oferta de títulos de dívida no exterior (bonds) utilizando a Azul Cargo como garantia. Segundo o executivo, a equipe tem conversas em andamento com bondholders (detentores desses títulos) interessados na operação.

O montante máximo a ser levantado seria de US$ 800 milhões, mas a cifra final ainda não está definida, assim como a janela para a realização da operação. Fontes do mercado destacam que a Cargo é um dos únicos ativos que a empresa ainda tem livre para oferecer a credores como garantia de novos empréstimos.

No release de resultados do segundo trimestre, a companhia destacou que a liquidez imediata ficou 23,7% superior em comparação ao mesmo período de 2023, “como resultado do plano de otimização de capital implementado no ano passado”. A companhia complementa que, nesse plano, também criou capacidade adicional de captação com a garantia da Azul Cargo, que permanece disponível para levantar capital à medida que avalia continuamente oportunidades para gerenciar o perfil de amortização de dívidas e posição de liquidez.

A aprovação de lei que facilita o acesso das companhias aéreas a linhas de crédito com apoio do Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac) é mais uma alternativa para trazer alívio financeiro para a companhia. O projeto prevê a distribuição de R$ 5 bilhões entre as aéreas que operam no Brasil.

Apesar de ainda não estar especificado quanto a Azul deve receber, Rodgerson considera que a aprovação foi muito benéfica, principalmente diante da expectativa de que os valores sejam liberados ainda este ano. “Estamos trabalhando com o governo para ter essa linha já no quarto trimestre. Isso mudou completamente a nossa previsão, porque é exatamente o que o setor precisa: acesso a capital de giro”, destacou.

Desafios externos

Os esforços de otimização da Azul refletem os desafios externos enfrentados pela companhia e não estão atrelados às negociações sobre uma possível fusão com a Gol, ainda segundo Rodgerson. “Seguimos com as nossas conversas, mas queríamos resolver os problemas de estrutura de capital de qualquer forma”, informou.

Entre os desafios, está a valorização do dólar, que levou as dívidas da empresa aérea a aumentarem R$ 3,7 bilhões só entre abril e junho, fechando em R$ 28 bilhões. Nesse cenário, a alavancagem da Azul subiu de 3,7 vezes no primeiro trimestre do ano para 4,5 vezes no segundo. Enquanto isso, a companhia elevou a projeção para o indicador de 3 vezes para 4,2 vezes até o final de 2024.

No entanto, Rodgerson espera que as estratégias adotadas, com destaque para a renegociação com os lessores, devem trazer alívio para a alavancagem. “Temos que lembrar que somos dolarizados, então quando o real sobe para R$ 5,50, é natural que a alavancagem suba, mas o que estamos fazendo deve ajudar muito”, afirmou.

O fechamento do Aeroporto Internacional de Porto Alegre (Salgado Filho), que representa cerca de 10% da receita da companhia, também pesou nos resultados recentes. Mas a projeção também é de melhora, com a reabertura do aeroporto prevista para outubro. “Ter essa malha de volta com certeza vai ajudar nossos resultados e nosso fluxo de caixa”, prevê Rodgerson, considerando que a companhia já retomou a venda de passagens para a capital gaúcha.

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