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Com guinada no juro, empresas revisam investimento

Reversão do cenário macroeconômico leva companhias também a colocar ativos à venda

13 de dezembro de 2024

Por Cynthia Decloedt, Talita Nascimento, Circe Bonatelli e Altamiro Silva Junior

As empresas brasileiras vêm se movimentando diante da inesperada reversão do cenário macroeconômico, com a taxa básica de juros podendo alcançar 15% e o dólar no patamar de R$ 6,00 no ano que vem, conforme expectativas dos agentes do mercado. Nos últimos meses, grandes companhias vêm fazendo anúncios envolvendo a redução de investimentos, desalavancagem e a venda de ativos.

A mudança de planos marca principalmente a virada nas expectativas para a taxa de juros ao longo de 2024, com uma piora do cenário no Brasil e no exterior. Em janeiro, a previsão do mercado indicava a Selic em 9% ao final do ano. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu nesta semana elevar a taxa básica de juro para 12,25% e ainda indicou outras duas novas altas, de 1 ponto porcentual cada.

“Não vamos fazer investimento novo”, afirmou o empresário Rubens Ometto, presidente do conselho de administração da Cosan, um dos maiores conglomerados brasileiros. “Com juro de 12% a 13% nada dá retorno”, acrescentou. A declaração foi dada no final de outubro, quando o mercado começava a questionar a capacidade do governo de conduzir um ajuste fiscal mais amplo.

Para enfrentar o novo ano e reduzir sua alavancagem, a Cosan estuda desinvestimentos na Raízen, o braço de energia renovável do grupo, e venda de uma fatia da Compass, que atua no mercado de gás e energia, e na de lubrificantes Moove.

A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) informou ontem ao mercado uma redução da ordem de R$ 1 bilhão em seus investimentos (capex) entre os anos de 2025 a 2028. A petroquímica Braskem passa por uma reorganização interna que resultará em desinvestimentos e corte de custos.

Há impacto também em empresas administradoras de shoppings. O Grupo Sá Cavalcante, dono de seis empreendimentos no País sentiu na pele o encarecimento do custo de capital e teve de adiar um empreendimento que estava previsto para este ano.

“A inversão de expectativas gera preocupação de forma geral para os entes econômicos, investidores e grandes empresas”, diz o diretor executivo da área de Financial Advisory & Special Situations da Alvarez & Marsal, João Pedro Viola.

Revisão

Viola prevê que, com o custo do dinheiro subindo, as empresas revisitem estratégias e que projetos com retornos impactados pelo juro mais alto sejam reavaliados ou deixados de lado. Além disso, Viola cita a possibilidade de as empresas reterem lucro e dividendos, além de anunciarem mais vendas de ativos.

O executivo não descarta que algumas companhias já listadas tentem acessar recursos via bolsa, por meio de oferta subsequente (follow on) apesar de, até aqui, esta não parecer a melhor opção, já que as ações estão subvalorizadas. “A capitalização talvez seja a única alternativa para as empresas evitarem uma reestruturação de seus passivos financeiros”, afirma.

O professor coordenador do Cefeb FIPE, Carlos Antonio Rocca afirma que todas as companhias vão enfrentar impacto em seu fluxo de caixa, por conta do aumento no custo de financiamento e despesas financeiras. Esse efeito tende a ser menor, segundo ele, para as geradoras de receita em dólar, o que tende a equilibrar a prevista desvalorização do real, e entre as grandes companhias que têm maior acesso ao mercado de capitais.

“As empresas maiores, que tiveram pleno acesso ao mercado de capitais ao longo dos últimos anos, estão mais preparadas para enfrentar essa inversão de cenário”, diz. Rocca afirma que, no agregado, os balanços do terceiro trimestre das companhias abertas, de modo geral, mostraram resultados melhores do que os períodos anteriores, sinalizando potencial resiliência as adversidades macroeconômicas previstas.

Leilões

Viola, da A&M, nota que um termômetro importante sobre o impacto da alta no juro será o apetite das empresas nos próximos leilões de infraestrutura, nos quais os investimentos dependem em grande parte do financiamento via mercado. “Será importante monitorar a quantidade de empresas interessadas e as ofertas apresentadas, que podem trazer um prêmio maior ou menor a depender da expectativa que enxergam de retorno”, diz.

Pesquisa da Grant Thornton Brasil, empresa de consultoria e auditoria, feita pela primeira vez com diretores financeiros de empresas privadas no País, mostra que 63% dos entrevistados apontam o alto custo de financiamento como um dos principais obstáculos para seus negócios, em meio a um ambiente de juros em alta. Os setores mais impactados por essa situação são o varejo, com 90%, manufatura, 85%, e construção civil, 75%.

A pesquisa revela ainda que 38% dos diretores financeiros estão pessimistas com a economia brasileira para a primeira metade de 2025. Mais da metade dos entrevistados possuem expectativa de retração de receitas e lucros para os próximos 12 meses, e um crescimento de despesas, segundo a Grant Thomton.

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