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Cripto drena capital dedicado a ativos de risco nas carteiras

Digitais conquistam a confiança do investidor e desempenham papel de pimenta para temperar portfólios

13 de março de 2025

Por Aramis Merki II

O mercado de criptoativos galgou espaço como uma opção entre diferentes ativos de risco nas carteiras de investimentos. Globalmente, este status foi alcançado de forma definitiva com o lançamento dos fundos de índice (ETFs, na sigla em inglês) de bitcoin e ethereum à vista nos Estados Unidos no início de 2024. As últimas semanas de depreciação das moedas não apagam a conquista: mesmo voláteis, os ativos digitais conquistaram a confiança do investidor para desempenhar o papel de pimenta que tempera os portfólios.

A robustez pode ser vista em números. Proporcionalmente, a capitalização de mercado (market cap) no universo cripto é maior que o conjunto de empresas das Nasdaq, a bolsa de maior liquidez do planeta. O market cap das cem maiores criptomoedas chega a US$ 2,65 trilhões, de acordo com o site Coin Market Cap. Já as mais de 3,8 mil companhias listadas na Nasdaq totalizam US$ 33 trilhões em capitalização.

Bitcoin valioso

O bitcoin, a primeira e principal cripto, figura atualmente como o nono ativo mais valioso do mundo, em uma lista que inclui commodities como o ouro e empresas como Apple e NVidia. A posição privilegiada ocorre mesmo com a queda de mais de 25% desde a máxima histórica, em janeiro. A criptomoeda tem pouco mais de US$ 1,6 trilhão em valor de mercado.

O volume negociado também é expresso na casa dos trilhões de dólares. As 15 maiores plataformas de negociação cripto, chamadas exchanges, negociaram um volume à vista de US$ 18,83 trilhões em 2024. Somente a título de comparação, na B3, que está entre as 20 maiores bolsas do mundo, o volume negociado no ano passado foi de cerca de US$ 1 trilhão (R$ 5,8 trilhões).

Nos dias de mais fluxo, os valores negociados nas plataformas do setor chegam a ultrapassar o volume negociado na Nasdaq, a bolsa de ações com maior liquidez do mercado global. Somente a Binance, a maior plataforma cripto do mundo, superou sozinha o volume negociado da Nasdaq em outubro do ano passado.

A exchange negociou US$ 3,506 trilhões em 30 dias, enquanto a bolsa somou US$ 3,2 trilhões, de acordo com levantamento do analista cripto Lian Yanshe.

Entre o final de outubro e o começo de novembro do ano passado, houve especial destaque para cripto – o bitcoin subiu cerca de 17% impulsionado pela crescente no favoritismo de Donald Trump na eleição americana. Foi com este estímulo que a Binance registrou volume de negociação 10% maior que a Nasdaq no período.

Yanshe aponta em artigo que alguns fatores facilitam que as exchanges tenham mais volume que o mercado acionário: a abertura de contas é mais simples, a negociação é 24 horas e os ativos podem ser muito mais fracionados que as ações. “É possível comprar ou vender 10 dólares de bitcoin”, afirma.

Apetite por cripto

Para Beto Fernandes, analista da Foxbit, os ativos digitais se beneficiam desde 2023 do movimento de saída de capital de ativos mais conservadores para os de maior risco. “Observa-se uma correlação inversa quase perfeita entre os Treasuries [títulos de dívida soberana dos Estados Unidos] de curto prazo e o bitcoin, especialmente em períodos de corte de taxa de juros nos EUA, que tendem a favorecer o apetite ao risco.”

Ao longo de 2024, os índices acionários mais ligados à tecnologia em Wall Street registraram aumentos significativos, ao passo que o Dow Jones, relacionado com a indústria, teve crescimento mais modesto. Cripto passou a ser visto como um ativo de tecnologia por investidores, então aproveitou até mesmo a onda da inteligência artificial, aponta Fernandes.

“Entre aplicar no Dow Jones [ou nas teses ligadas à tech], o investidor se sentiu mais encorajado para aplicar nas empresas de tecnologia. Como há esta proximidade do bitcoin com tech, vejo que o criptoativo também drena este capital que iria para as ações de outros setores.”

Reserva de valor?

Há um paradoxo no conceito amplamente ventilado de que o bitcoin tem características de uma reserva de valor – a moeda pioneira da economia cripto é inclusive chamada de ouro digital. Isto vem do caráter deflacionário que foi estipulado no código de computador que rege a emissão dos bitcoins.

A cada quatro anos, a quantidade de novas moedas liberadas cai pela metade. O nome dado a esse processo é halving. Ao fim de 2140, o total de 21 milhões de bitcoins produzidos será atingido – este volume é imutável, não é possível “imprimir mais dinheiro” como em um banco central de moedas fiduciárias.

Robert Kiyosaki, investidor e autor do best-seller Pai rico, pai pobre, afirma desde 2021 que ouro, prata e bitcoin são os ativos ideais para se ter como uma proteção do poder de compra no longo prazo. Diante da atual queda das moedas digitais, ele tem recomendado nas redes sociais que se compre mais delas.

Como se vê atualmente, no entanto, o bitcoin é altamente especulativo. Há quem diga que ele é potencialmente uma reserva de valor, mas ainda não atingiu a maturidade para ser definido assim. Bruno Perini, sócio do Grupo Primo e influenciador financeiro, considera que o que falta ao ativo é ter o longo histórico de aceitação, como o ouro.

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