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Deflação na China aciona luz amarela em ano de tarifaço

Para elevar nível de preços, analistas dizem que Pequim precisará adotar mais medidas fiscais nos próximos meses

28 de março de 2025

Por Ricardo Leopoldo

A deflação de -0,7% na China em fevereiro, acumulada em 12 meses, acionou uma luz amarela sobre a tendência dos preços no país continuarem muito fracos neste ano, em uma conjuntura marcada por vários obstáculos para a retomada do consumo doméstico, como a crise do setor imobiliário e as tarifas às suas exportações para os EUA.

Para levar a inflação a uma marca mais alta em 2025 do que o 0,2% registrado em 2024 e também em 2023, economistas entrevistados pelo Broadcast em Hong Kong e Sydney acreditam que o governo Xi Jinping precisará adotar mais medidas fiscais nos próximos meses para reforçar a demanda agregada.

A China pode continuar a registrar deflação em março e abril porque ocorreu uma redução do ritmo do nível de atividade no primeiro trimestre de 2025 ante os três meses anteriores. No último trimestre de 2024, o governo de Pequim adotou diversas medidas para acelerar o PIB a fim de atingir a meta de expansão ao redor de 5% no ano passado, além de ter ocorrido um grande aumento das exportações, em boa medida devido à antecipação de encomendas de empresas para evitar tarifas a importados adotadas pela administração Donald Trump.

dívida de governos

“A inflação poderá voltar a subir na China no segundo semestre com efeitos positivos de medidas fiscais para o consumo, especialmente o swap de dívida de governos locais com juros bem altos e que vencem em 2025 e 2026 por títulos (federais) de longo prazo, o que dá mais espaço para governos locais realizarem despesas, entre elas pagar salários de servidores e fazer investimentos”, afirmou Carlos Casanova, economista sênior para a Ásia do banco suíço Union Bancaire Privée (UBP).

A reestruturação do setor imobiliário na China gera dificuldades para o aumento dos gastos de famílias no país, dado que cerca de 60% das suas poupanças estão aplicadas em imóveis. As despesas de capital das empresas do setor caíram 10% em 2024 e devem retrair de 2% a 3% em 2025, aponta Dong Chen, diretor de pesquisas macroeconômicas para a Ásia do Pictet Wealth Management.

Contudo, ele ressalta que devido a diversas ações adotadas pelo governo Xi Jinping para reanimar este segmento produtivo desde 2023, como a redução dos juros para financiamentos, devem “estabilizar” os preços de imóveis e as vendas de novas residências neste ano.

Para Dong Chen, o CPI na China deve subir 0,7% e o PIB do país crescerá 4,8% em 2025, com tarifas de 20% das suas exportações aos EUA. “Caso sejam necessárias mais medidas do governo para estimular a economia a partir de meados do ano, provavelmente aumentarão bem mais os investimentos (oficiais) no setor manufatureiro, sobretudo para a renovação de equipamentos, e em infraestrutura, como a rede elétrica nacional”, apontou.

Inteligência artificial

“Há também grandes avanços de investimentos em inteligência artificial na China, como data centers e computação por nuvem. Diversas empresas anunciaram recentemente aumento muito significativo de despesas de capital nestas áreas.”

A estratégia da administração Xi Jinping de dedicar investimentos públicos para subsidiar a atividade de empresas nacionais, muitas delas indústrias que enfrentam problemas adicionais com as tarifas impostas pelos EUA, pode continuar a pressionar para baixo o índice de preços ao produtor no país oriental, que está em deflação há dois anos.

“Como o governo deve manter a ajuda às companhias exportadoras, pois é prioritária a sobrevivência delas para gerar empregos e renda na economia doméstica, a redução dos preços ao produtor poderá continuar e levar a média do CPI neste ano para 0% ou até deflação”, afirmou Dan Wang, diretora para a China do Eurasia Group. “A situação das empresas exportadoras não é simples. Muitas destas companhias estão bem preocupadas que os EUA levem o México e países asiáticos a adotar tarifas a importados da China, o que as levaria a se desacoplar de cadeias internacionais de valor.”

Pacote fiscal

O governo da China deve calibrar o montante de gastos públicos para incentivar a demanda e evitar uma queda persistente da inflação de acordo com a magnitude das tarifas adotadas pelos EUA, afirmou Larry Hu, economista-chefe para a China do Macquarie Group.

“O pacote fiscal para estimular a atividade, como proporção do PIB, subiu de 6% em 2024 para 8% em 2025”, afirmou. “Acredito que as autoridades farão tudo o que for necessário do lado das despesas para compensar o impacto de tarifas à economia para que a meta de crescimento próxima a 5,0% seja atingida neste ano.” Ele prevê que o CPI subirá 0,5% em 2025.

Para incentivar o consumo interno a ponto de afastar a China da inflação muito baixa ou até negativa, o governo de Pequim precisa adotar medidas estruturais para equilibrar seu modelo econômico, que é muito dependente das exportações.

“É essencial fortalecer o setor imobiliário com funding necessário a empresas incorporadoras para concluir obras iniciadas e também para garantir que os empreendimentos sejam entregues aos compradores de casas e apartamentos”, comentou Katrina Ell, diretora de pesquisas para a Ásia e Pacífico da Moody ‘s Analytics.

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