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‘Delegações precisam baixar expectativas sobre Belém’

Para secretário Valter Correia, capital do Pará não pode ser comparada a Baku, no Azerbaijão

21 de fevereiro de 2025

Por Sofia Aguiar

O secretário extraordinário para a Cúpula das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas deste ano (COP30), Valter Correia, afirmou que as delegações que vêm para a conferência precisam baixar as expectativas porque a estrutura de Belém, no Pará, onde será sediado o evento, não é a mesma de Baku, capital do Azerbaijão, onde foi realizado em 2024. Segundo ele, haverá uma orientação para que os chefes de Estado cheguem antes do início da cúpula para diminuir a pressão sobre a rede hoteleira da capital paraense.

De acordo com o secretário, a hospedagem é uma preocupação generalizada das delegações. “Não há nenhum segredo sobre os valores abusivos que tem nas diárias, que a gente está tentando sensibilizar toda a rede hoteleira. Estamos fazendo vários diálogos, conversas. Pretendemos intensificar um pouco mais isso como Estado para poder alertar, inclusive, sobre o problema de abusividade desse tipo de oferta”, afirmou Correia em conversa com jornalistas nesta quinta-feira, 19.

Delegações estrangeiras têm enfrentado dificuldades para efetuar reservas, já que casas para locação e hotéis têm fixado preços exorbitantes para os dias da cúpula. “É como o presidente Lula fala, as delegações precisam baixar a expectativa porque Belém ou qualquer outra cidade aqui não é uma Dubai, que não é uma Baku”, comentou o secretário.

Pressão sobre preços

Diante dos questionamentos sobre o suporte da rede hoteleira em Belém, Correia admitiu que o Brasil fala a embaixadas para não estimular tantas pessoas para virem desnecessariamente nas delegações. Ele pontua, porém, que essa não é uma orientação do governo brasileiro, mas apenas uma reflexão proposta aos países.

“Eu sempre falo nas reuniões com as embaixadas de não estimular tantas pessoas para virem desnecessariamente para uma COP. Eu sei que, por exemplo, tem um país que quer trazer muitos empresários. Isso é muito bem-vindo. Mas tem muita gente governamental que vem para acompanhar as pessoas. Talvez isso não seja necessário”, disse Valter Correia. “Mas aí não é nenhuma orientação, é uma reflexão que eu coloco para que cada delegação tome as suas próprias decisões.”

Como estratégia para minimizar a pressão de preços sobre o setor de hotéis, o Brasil fechou com a Organização das Nações Unidas (ONU) para que os chefes de Estado cheguem ao País dias antes do início da cúpula, que será entre 10 a 21 de novembro. A expectativa é que eles cheguem entre os dias 5 a 7 de novembro. “O chefe de Estado não vem sozinho, vem com as suas comitivas. Isso diminui bastante, estatisticamente falando, alivia bastante essa pressão na rede hoteleira”, comentou.

Cadastramento de casas

Outros planos traçados para aliviar a questão envolvem uma plataforma para cadastrar casas, apartamentos e hotéis que serão disponibilizados a participantes credenciados para o evento. A ideia é que o lançamento da plataforma seja feito em março. Isso, na visão do secretário, irá ajudar a desafogar a rede hoteleira. Já outra tática será a presença de dois navios para servirem de hospedagem aos credenciados e delegações oficiais.

Na semana passada, diante da possibilidade de uma possível falta de suporte da rede hoteleira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a COP30 será realizada em Belém do jeito que for. “Se não tiver hotel cinco estrelas, durma em um de quatro. Se não tiver de quatro, durma em um de três. Se não tiver de três, durma na estrela do céu do mundo, olhando para o céu, que vai ser maravilhoso”, afirmou Lula durante uma agenda na capital paraense para a entrega de unidades do Programa Minha Casa, Minha Vida.

“A COP é um evento da ONU. E a ONU escolheu o Brasil, que escolheu o Pará, que escolheu Belém. ‘Ah, mas em Belém não tem hotel.’ É bom que não tenha. É bom que eles tomam picada de carapanã”, complementou o petista.

O secretário pede bom senso às delegações que queiram fazer reserva de andares completos ou, até mesmo, de hotéis como um todo. Mesmo com esse aconselhamento, ele afirmou que alguns protocolos de chefe de Estado terão que ser considerados por causa da geopolítica no mundo. “Nós estamos pedindo bom senso também nisso. Agora, tem alguns protocolos de chefes de Estado que evidentemente precisam ser considerados, porque nós temos chefes de Estado que se diferenciam pela sua geopolítica no mundo. Então, a China é uma, Estados Unidos é outra, Israel provavelmente, Rússia. Esses precisam ser considerados e tentar achar a melhor alternativa em conjunto com o país”, comentou.

Tentativa de sensibilização

Valter Correia também fala do trabalho de sensibilização com a rede hoteleira sobre os preços de hospedagem. Nesse quesito, ele cita eventuais punições de órgãos de controle aos locais que fizerem cobranças abusivas. “Existe uma legislação específica do País que proíbe determinado tipo de abuso também. Dizer que eventualmente podemos usar a própria legislação para poder proibir esse tipo de coisa. E já está tendo”, comentou.

Apesar de a hospedagem ser a maior preocupação das delegações, o secretário diz acreditar que é uma aflição desnecessária. “Eu acho que está havendo uma supervalorização de uma demanda que eventualmente nós não tenhamos. Estamos achando que vai explodir de gente, que vai chegar gente do mundo inteiro em caravanas”, comentou.

“Nós temos uma expectativa entre 40 a 50 mil participantes na COP, que é a média das últimas duas COP. Antes, a média era menor até. Nós já temos, em execução, números suficientes [de hospedagem] para abrigar todos eles”, citou.

Correia afirma que está conversando com as embaixadas para esclarecer dúvidas sobre a COP30. Nesta semana, por exemplo, ele disse ter se reunido com 40 embaixadas. Já em meados de março, pretende, juntamente com o Palácio Itamaraty, reunir todas as embaixadas para fazer uma apresentação de “tudo o que está sendo feito”.

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