Cotação fechou na sexta-feira a US$ 71,61, após mínimas na casa dos US$ 68
14 de setembro de 2024
Por Gabriel Vasconcelos
O preço do barril de petróleo do tipo Brent fechou a sexta-feira a US$ 71,61 após chegar a mínimas na casa dos US$ 68 na última terça-feira. Esse preço deve permanecer por volta de US$ 70 ou pouco acima dessa faixa nas próximas semanas, numa espécie de “preço de espera”, até que fique claro para onde vai de fato a demanda global da commodity. Só então vai surgir um novo patamar mais estável – como chegou a ser o de US$ 80 – mas provavelmente abaixo disso, dizem especialistas ouvidos pelo Broadcast.
O alívio dos últimos dias para a tendência baixista se deveu a expectativas de furacões nos Estados Unidos, mais especificamente o denominado Francine, que poderiam restringir a produção local e, tão logo, a oferta global. Mas, para além da conclusão de que o fenômeno pode levar a dano aquém do esperado semanas antes, a tese do choque momentâneo de oferta rivalizou com os indícios de demanda futura fraca, atestada por episódios como as revisões para baixo nas projeções de demanda da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e de preços futuros do Departamento de Energia dos Estados Unidos (DoE, na sigla em inglês), ambas divulgadas na semana passada.
A tendência, diz o consultor e ex-presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), Eberaldo de Almeida, é que o brent a US$ 70 se consolide como novo “preço de espera” do mercado em uma conjuntura de oferta estável, com produção fora da Opep em alta, e demanda fraca puxada pelo freio na economia chinesa.
“A economia mundial segue um pouco fraca, sobretudo em função da China, que convive com um problema grave na construção civil. Isso impacta a produção de aço deles, que responde por 55% do aço global e consome muita energia, a maior parte carvão e óleo. Essa desaceleração, que já contaminou a confiança do consumidor chinês, é decisiva para o atual movimento de baixa do preço do petróleo”, analisa Almeida.
O especialista também cita os recentes movimentos da Opep, como a postergação da reversão de cortes de produção de estimativas de demanda mais baixas, indicando que a própria organização espera uma mercado menor para o produto à frente. “O mercado sempre age por antecipação e fica nervoso em meio a incertezas sobre excedente de petróleo. Por enquanto estamos vendo um preço de espera para o Brent, que vai ficar entre US$ 69 e pouco mais de US$ 70 mesmo”, completa.
Ele também coloca na equação de curto prazo o fim da temporada de férias americana, a chamada “driving season”, que se encerra agora em meados de setembro e reduz o consumo de combustíveis nos Estados Unidos, desacelerando seu próprio consumo de petróleo.
Dono da consultoria Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, faz coro à tese do preço de espera e afirma que é difícil fazer previsões, mas que o mercado reage momentaneamente a resultados econômicos ruins da China e nem tão melhores dos EUA, além da instabilidade trazida pelas eleições na maior economia do mundo.
“A verdade é que o mercado não está comprador e espera para entender qual vai ser o novo patamar de preços, que pode ser US$ 70, mas também pode ser US$ 65 ou US$ 75”, afirma. “O que é certo é que temos uma demanda fraca e uma oferta crescendo e vamos ter de esperar para entender até onde isso vai. É um ambiente muito especulativo”, diz.
Pires acrescenta que, no curtíssimo prazo, o mercado espera o anúncio de uma queda de juros nos EUA, o que pode levar a uma atividade maior e preço de referência um pouco mais alto.
Demanda controla
Para Almeida, o fundamento da demanda é o que dita e vai ditar cada vez mais o preço do petróleo, uma vez que a oferta apresenta alternativas crescentes fora da Opep, com as produções de Estados Unidos, Brasil e Guiana crescendo.
“A Opep+ (que inclui Rússia, México, Cazaquistão e outros) tem entre 35% e 37% da produção mundial e isso está caindo, porque grandes produtores seguem ampliando participação”, diz. Nos EUA, a produção que estava na casa dos 13,5 milhões de barris por dia agora já chega a 13,9 milhões com o ‘óleo de shale’, que não para de crescer. Conseguem aumentar a produção diária em 1 milhão de barris em horizonte de um ano ou pouco mais”, detalha.
Esse aumento da produção fora da Opep, diz o especialista, deixa a organização de mãos atadas para operar via oferta. A situação é bem retratada em relatório a investidores do Santander, escrito pelos analistas Rodrigo Almeida e Eduardo Muniz.
“Vemos a Opep gradualmente perdendo seu controle no mercado de petróleo”, dizem ao conjecturar duas opções no futuro para a organização. A primeira seria fomentar o preço por meio de cortes contínuos, mas cedendo participação de mercado a produtores de fora da Opep. E a segunda seria tentar recuperar participação de mercado, o que pressionaria ainda mais os preços do petróleo. Segundo os analistas do Santander, a segunda opção, que afundaria ainda mais os preços, é uma “possibilidade real para 2025”.
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