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Desemprego em 2024 deve ser o menor da história

Dado deve refletir fatores conjunturais, como economia mais aquecida e aumento das contratações

14 de novembro de 2024

Por Daniel Tozzi Mendes

A taxa de desemprego deve encerrar o ano de 2024 no menor nível da série histórica, abaixo do resultado de 2013, quando a desocupação foi de 6,3% em dezembro, preveem especialistas consultados pelo Broadcast.

O número deve refletir fatores conjunturais, como a economia aquecida nos últimos dois anos e o crescimento das contratações, mas também algumas questões estruturais, em especial, o fato de a taxa de participação no mercado de trabalho no País, embora crescente, ainda não ter recuperado o nível histórico do período pré-pandemia da covid-19.

Somado a isso, reformas estruturais, como a trabalhista, aprovada em 2017, levaram à redução da chamada taxa de desemprego natural, a Nairu (na sigla em inglês). Assim, diferentemente do cenário de 11 anos atrás, o desemprego baixo tende a permanecer de forma mais sustentada agora, gerando também menor pressão inflacionária, sobretudo nos itens mais sensíveis ao ciclo econômico, apontam os analistas.

O economista da LCA Consultores Bruno Imaizumi estima que a taxa de desemprego medida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) – que encerrou setembro em 6,4% – deve seguir caindo até atingir 6% em dezembro, em linha com o tradicional aquecimento das contratações de fim do ano.

Nos cálculos de Imaizumi, contudo, caso a taxa de participação no mercado de trabalho, isto é, o porcentual de brasileiros em idade para trabalhar que efetivamente buscam vagas, estivesse hoje nos níveis de 2019, a desocupação estaria entre 8% e 9%. “Por causa de uma saída maior das pessoas da força de trabalho durante a pandemia, convivemos hoje com taxas de desemprego muito mais baixas, não só no Brasil, mas no mundo todo”, explica.

A mudança na composição etária do País, com cada vez mais idosos – que tendem a procurar menos emprego – além da expansão tanto do valor como do número de beneficiários de programas de transferência de renda podem explicar essa taxa de participação mais baixa, segundo ele.

A análise é em parte corroborada pelo economista e pesquisador do Ibre/FGV Fernando Veloso. “Quem saiu dessa força de trabalho teria uma probabilidade maior de estar desempregado”, afirma.

De acordo com o IBGE, a taxa de participação no mercado de trabalho encerrou 2019 em 63,6%, ante 62,4% até o momento em 2024. O nível de agora, porém, é igual ao de 2013, quando a taxa de participação encerrou o ano em 62,4%.

Reforma

Veloso faz questão de destacar que, diferente do que muitos imaginam, o principal efeito positivo da reforma trabalhista não vem da criação de novas modalidades de trabalho, como os contratos intermitentes ou parciais, mas sim da redução da insegurança jurídica. “Houve queda dos processos na justiça trabalhista, porque antes não havia nenhum custo para o trabalhador entrar na Justiça trabalhista contra a empresa”, detalha.

O professor da FGV acrescenta que tanto a reforma quanto a queda da taxa de participação no mercado de trabalho levaram a uma taxa de desemprego natural – ou seja, a taxa de equilíbrio, que não gera pressão inflacionária sobre a economia – para um nível também mais baixo hoje.

Embora seja uma variável não-observável, ele estima que a desocupação neutra passou de cerca de 10% na década passada para ao redor de 8% agora. A estimativa é parecida com a qual trabalha a LCA, que calcula que o desemprego natural na primeira metade de 2024 oscilou entre 7,5% e 8%. “Isso possivelmente pode contribuir para um desemprego mais baixo de forma mais permanente”, diz Veloso.

Inflação

O nível mais baixo da taxa neutra de desemprego também pode ser um dos fatores que explicam uma taxa de inflação que, apesar de alta e resiliente, ainda não disparou, mesmo em um cenário de mercado de trabalho aquecido e com ganhos de renda, como agora. “Existe essa correlação, que na economia chamamos de ‘Curva de Philips’, em que a inflação cresce à medida que o desemprego diminui”, aponta o professor da FGV.

Bastante associada à dinâmica do mercado de trabalho, a inflação de serviços, por exemplo, acumula alta de pouco mais de 4,5% nos últimos 12 meses. O cenário é diferente da última mínima histórica do desemprego, em 2013, quando a mesma taxa estava em 8,73%. Os números foram levantados pelo head de macroeconomia da Kínitro Capital, João Savignon, a pedido do Broadcast.

Para Savignon esse é um fenômeno que tem “intrigado” os economistas que analisam o mercado de trabalho do País. “Não há um consenso, mas as análises vão na direção de que as reformas macro dos últimos anos possam ter de fato reduzido a Nairu”, observa ele.

O economista atenta, porém, que a não disparada da inflação de serviços pode ser explicada por outro fator, não necessariamente relacionado a um desemprego natural mais baixo, mas sim com o “transbordamento” da desinflação de outros itens num período recente.

“Houve uma desinflação inicial nos serviços favorecida por elementos como alimentos e bens industriais, mas que agora se estagnou, passando a refletir mais os fundamentos do mercado de trabalho”, detalha o economista. Ele projeta que a taxa de desemprego vai encerrar 2024 em 6,3%, empatando com o recorde histórico de 2013.

Para Veloso, da FGV, a inflação menos pressionada agora reforça o sinal de que um fenômeno estrutural fez com que a taxa de desemprego de equilíbrio, de fato, caísse. “Com isso, uma taxa de desemprego ao redor de 6,5% já não tem uma pressão inflacionária tão alta quanto em 2013”, diz.

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