Greves e passagem de dois furações impactaram mercado de trabalho em outubro
2 de novembro de 2024
Por Aline Bronzati, correspondente
Depois da explosão em setembro, o mercado de trabalho dos Estados Unidos foi impactado em cheio pela passagem de dois furacões e greves no mês de outubro, em especial, na Boeing, que é uma das maiores empregadoras do país. E ainda que, de fato, esteja mais difícil encontrar uma vaga na maior economia do mundo, isso não deve alterar o plano de voo do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que deve desacelerar o ritmo de corte de juros na próxima semana, diante de uma inflação comportada e forte crescimento econômico, na visão de bancos de Wall Street.
Os EUA criaram apenas 12 mil empregos no mês de outubro, de acordo com dados do Departamento do Trabalho do país, divulgados nesta sexta-feira. O número veio muito abaixo do cenário traçado pelo Projeções Broadcast, que indicava a geração de 70 mil a 180 mil vagas no período, com mediana de 100 mil. A taxa de desemprego permaneceu em 4,1% em outubro ao ano, enquanto o salário médio por hora aumentou em ritmo acima das projeções do mercado.
De acordo com o próprio Departamento do Trabalho americano, os furacões que atingiram os EUA em outubro, o Helene e o Milton, provavelmente afetaram as estimativas de empregos em algumas indústrias de parte do país. Contudo, não é possível quantificar o efeito líquido dos fenômenos naturais, explicou o órgão.
A falta de clareza nos dados dificultou a vida dos economistas em Wall Street. “O relatório foi distorcido por fatores que adicionam muito ruído à leitura, e isso dificulta desenhar um sinal”, admitiu o economista-chefe do JPMorgan, Bruce Kasman, ao analisar o payroll a investidores, na manhã de hoje. Mas, no geral, ele classificou o payroll como “um pouco negativo” em termos de riscos para a economia americana.
Nesse sentido, os dados do mercado de trabalho dos EUA no mês de outubro reforçam uma corrente em Wall Street de que as condições laborais no país estão esfriando mais depressa. “Em suma, está ficando mais difícil encontrar um emprego”, diz o Bank of America, em comentário a clientes.
Esse esfriamento não deve ser suficiente para que o Fed mude os seus planos em sua próxima reunião, na semana que vem, após as eleições presidenciais no país. O mercado segue precificando chances majoritárias (98,1%) de um corte de juros de 0,25 ponto porcentual, de acordo com levantamento da plataforma CME Group.
Em sua última reunião, em setembro, o Fed deu o pontapé para a redução nas taxas do país, com um corte mais agressivo, de 0,50 ponto porcentual. Atualmente, os juros americanos estão entre 4,75% e 5,00% ao ano. Para o JPMorgan, o Fed segue no caminho de reduzir as taxas em um total de 1 ponto porcentual em 2024.
“A perspectiva continua sendo de crescimento econômico contínuo com inflação um tanto teimosa, e há uma forte probabilidade de que o Federal Reserve anuncie um corte de 25 pontos-base na taxa na reunião da próxima semana”, diz o conselheiro Econômico Chefe da Allianz e guru de Wall Street, Mohamed El-Erian.
Para a TS Lombard, o payroll de outubro é um “susto falso” na sequência do Dia das Bruxas nos EUA. “O que podemos tirar deste relatório de emprego confuso com furacões e greves é que o Fed está cortando 0,25 p.p. na próxima semana e 0,25 p.p. em dezembro”, avalia a consultoria britânica.
De acordo com o economista da TS Lombard, Steven Blitz, uma razão pela qual os dados de outubro não devem ser lidos de forma “muito pessimista” é a melhora nos pedidos iniciais de auxílio-desemprego nos EUA. Na semana encerrada em 26 de outubro, as reivindicações diminuíram em 12 mil, para 216, segundo informou o Departamento do Trabalho do país, ontem, dia 31.
O economista-chefe do Santander para os EUA, Stephen Stanley, espera que a maior parte do impacto temporário no emprego americano durante o mês de outubro seja revertido em novembro. E, nesse sentido, somente dezembro pode ser um melhor termômetro laboral no país. “Mesmo considerando o impacto de furacões e greves, esses dados indicam que o o mercado de trabalho dos EUA está se moderando e pode continuar a fazê-lo pelo resto do ano e no início de 2025”, alerta.
Recuperação versus catástrofe
Faltando quatro dias para as eleições presidenciais nos EUA, o payroll de outubro foi usado como palanque político. A campanha do candidato republicano, o ex-presidente Donald Trump, disse que o dado foi uma “catástrofe” e aproveitou o gancho para reforçar as críticas à democrata Kamala Harris, acusando a rival de “quebrar a economia americana”.
Já o presidente dos EUA, Joe Biden, rebateu as críticas, alegando que a fraqueza do mercado de trabalho em outubro está relacionado às passagens dos furacões Helene e Milton pelo país, e por greves. A favor dos democratas, ele mencionou a manutenção da taxa do desemprego em 4,1% ao ano.
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