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Escolha para Tesouro alivia temor sobre dívida dos EUA

Scott Bessent vai liderar o gabinete no governo Trump e dá esperança a Wall Street sobre questão fiscal

26 de novembro de 2024

Depois de uma verdadeira caça para o Tesouro, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou o gestor de fundos de hedge e seu conselheiro econômico, Scott Bessent, para liderar o gabinete em seu retorno à Casa Branca. Uma das últimas escolhas de sua gestão, e a mais aguardada, trouxe uma dose de tranquilidade a Wall Street, em meio à esperança de que seja um ponto de equilíbrio em questões fiscais e comerciais, embora visões sobre o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) levantem preocupações em alguns agentes do mercado.

Veterano de Wall Street, Bessent, de 62 anos, foi gestor de fundos de hedge na empresa do bilionário George Soros, posteriormente fundou o seu próprio negócio, a Key Square Group, e também teve passagens em casas como o Brown Brothers Harriman (BBH). Dedicou a maior parte de sua vida ao mundo das finanças e a estudar a história econômica. Na corrida à Casa Branca, ele se tornou um dos principais conselheiros de Trump, ao apoiar as ideias do republicano, com uma política econômica baseada em três pilares: redução do déficit dos EUA para 3% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2028, estímulo ao crescimento econômico de 3% por meio da desregulamentação e produção de mais 3 milhões de barris de petróleo por dia.

Após ser indicado, o futuro secretário do Tesouro dos EUA prometeu, em sua primeira entrevista, cumprir as várias promessas feitas por Trump durante a campanha, como corte de impostos, imposição de tarifas comerciais, redução de gastos e a manutenção do “status do dólar como moeda de reserva mundial”, de acordo com o The Wall Street Journal.

No mercado, a escolha de Bessent derrubou os juros dos Treasuries e fez os rendimentos dos títulos de 10 e 2 anos inverterem novamente, além de impulsionar as bolsas de Nova York na primeira metade do pregão em Wall Street, com uma leitura de menor risco fiscal nos EUA. O nome agradou tanto o mundo financeiro, com banqueiros como o presidente do JPMorgan, Jamie Dimon, celebrando a escolha após uma forte disputa pelo comando do Tesouro americano, quanto ao universo corporativo, de acordo com relatos da imprensa americana.

A visão que predomina em Wall Street é a de que ele não vai impedir, mas será mais racional, moderado na questão das tarifas comerciais, que considera uma tática de negociações e política externa, e ainda um escudo orçamentário. Ou seja, ao contrário dos temores em torno de Trump 2.0, a gestão de Bessent poderia se traduzir em menos inflação, menos dívida e, consequentemente, uma política monetária mais relaxada nos EUA.

“Os investidores avaliam que a seleção da ‘voz da razão’ como secretário do Tesouro limita a possibilidade dos piores cenários para a emissão de títulos da dívida americana, bem como na frente tarifária”, diz o analista do BMO Capital, Ian Lyngen.

No entanto, ele não espera que Bessent impeça que as tarifas sejam utilizadas ou que as necessidades de empréstimos aumentem. “É simplesmente a percepção de que ambos serão abordados de uma maneira mais metódica com uma adesão à política econômica tradicional”, diz.

O megainvestidor de Wall Street Bill Ackman, da gestora Pershing Square e que apoiou Trump, celebrou a indicação ao Tesouro. “É bom ter você a bordo”, escreveu ele, em seu perfil no X, após a sua nomeação, na última sexta-feira, dia 22.

“Há um grande alívio”, disse o fundador e presidente do Yale Chief Executive Institute, Jeffrey Sonnenfeld, à ‘CNN’. “Bessent é razoável e pragmático”, avaliou.

Temor no Fed

Enquanto sob a ótica fiscal, a indicação de Bessent representa um alívio, do lado da política monetária, Wall Street demonstra preocupação. Isso porque o futuro secretário do Tesouro dos EUA defendeu, em uma entrevista em outubro último, que Trump escolhesse o futuro presidente do Fed e buscasse o aval do Senado americano para o nome bem antes da saída de Jerome Powell, prevista para maio de 2026, criando uma espécie de “presidente sombra” para o BC dos EUA.

“E com base no conceito de orientação futura, ninguém realmente vai se importar mais com o que Jerome Powell tem a dizer”, disse Bessent, na ocasião. Depois, esclareceu, em outra entrevista, que, se o forward guidance, ou seja, uma orientação futura para os juros americanos é visto como algo positivo, o mesmo poderia valer sobre o futuro presidente do Fed.

O BBH, sua antiga casa, considera “preocupantes” os comentários do futuro secretário do Tesouro dos EUA sobre o Fed. “Embora isso não seja tão extremo quanto dar ao presidente palavra direta sobre a política do Fed, a ideia é, no entanto, preocupante”, avaliou, em comentário a clientes, nesta segunda-feira.

Já o Rabobank avalia que há razões “muito claras para manter a cautela” em relação à indicação de Bessent para o Tesouro americano após suas falas sobre o Fed.

“Bessent terá um lugar na primeira fila enquanto o governo Trump busca substituir o presidente Jerome Powell no Fed quando o seu mandato expirar em maio de 2026”, diz a economista-chefe da Stifel, Lindsey Piegza, mencionando ainda outras três nomeações que Trump fará para o autoridade monetária dos EUA nos próximos anos.

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