Eletrobras, Raízen, Rede D´Or e Multiplan estão na lista de operações previstas para outubro
4 de outubro de 2024
Por Cynthia Decloedt
A Eletrobras vendeu ontem R$ 5,4 bilhões em debêntures e não está sozinha. Outras volumosas operações estão previstas tanto para hoje quanto os próximos dias, como as da Raízen, que quer captar R$ 1,5 bilhão, e da Rede D´Or, envolvendo nada menos do que R$ 5,9 bilhões. Multiplan também entra nessa lista, com captação de R$ 1,8 bilhão.
O que chama a atenção nesta nova safra de operações anunciadas em setembro são os volumes bilionários com os quais empresas de primeira linha chegam ao mercado. Muitas delas sequer tinham em seus planos fazer uma captação neste momento, ou então pretendiam acessar este tipo de crédito em fases, não em uma única vez. Mas o ambiente de mercado é tão favorável, do ponto de vista de demanda e custo, que estas companhias acabam fazendo contas e ficam convencidas da oportunidade de alongar prazos e baratear o custo de seus passivos, ou até tomar recursos para recomprar ações – caso da Multiplan.
A Rede d’Or, por exemplo, deve utilizar os recursos levantados para liquidar três debêntures que vencem até 2026, somando R$ 6,8 bilhões, e pagam juro de CDI mais 1,25% e CDI mais 1,90% ao ano. Na oferta que será levada ao mercado na próxima quarta-feira, 9, os R$ 5,9 bilhões serão divididos em três séries: de três anos, oferecendo retorno de CDI mais prêmio de 0,65%; enquanto a série de 7 anos pagará prêmio de 1,10%; e a de 10 anos, de 1,3%.
Com os recursos levantados, a empresa de saúde vai economizar alguns milhões de reais em despesas com juros e direcionar para estratégias já anunciadas, como investimentos de mais de R$ 5 bilhões que ainda são necessários para chegar aos 17 mil leitos até 2028, dos atuais 11 mil; e recomprar ações ou adicionar mais recursos ao seu caixa já bastante robusto, de mais de R$ 17 bilhões.
Em setembro, foram anunciadas mais de R$ 27 bilhões em ofertas de debêntures, conforme levantamento do Broadcast. O montante é similar ao emitido em agosto. No acumulado do ano, as emissões de debêntures chegaram a R$ 283,9 bilhões, estabelecendo um novo recorde para o período, de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
“O que estamos vendo são operações que não estavam previstas de companhias que não estavam no radar, mas que dada a boa condição de mercado, resolveram captar”, diz o diretor de renda fixa e produtos estruturados do Itaú BBA, Felipe Wilberg. Ele observa, entretanto, que não se trata de uma euforia, mas somente mais empresas olhando para o mercado local.
É esperado que este movimento continue até o final do ano. “Nesse ciclo virtuoso do mercado local de dívida, a tendência é que as empresas busquem captar grandes volumes para alongar dívidas ou antecipar necessidades do próximo ano”, disse o responsável pela área de mercado de capitais – renda fixa do Santander Brasil, Matheus Licarião. “Certamente vamos fechar 2024 com volume muito maior do que o emitido no ano passado”, acrescenta.
Demanda
Puxando estas empresas para o mercado de dívida está a continuidade de um fluxo intenso de recursos para os fundos, sendo que o que vem das grandes gestoras responde pela maior parte da pressão de baixa no custo das captações para as empresas. “Apesar de os prêmios terem caído muito desde o fim do ano passado, o que manda é o fluxo”, diz o gestor de crédito privado da Legacy, Leonardo Ono.
De acordo com Ono, a perspectiva de o juro continuar subindo tende a alimentar ainda mais este fluxo. Mesmo assim, o gestor estima que o prêmio de risco deve se estabilizar para as debêntures tradicionais. Já entre as debêntures de infraestrutura, ele diz que os investidores têm aceitado comprar papéis em patamares de prêmios muito apertados e eventualmente com prêmio negativo.
“O investidor faz uma conta e a isenção fiscal é muito desejada”, afirma. Ono acrescenta que grande parte destes investidores, que aceita um retorno abaixo da NTN-B (título do Tesouro IPCA+) ou do CDI, vem das Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) ou do Agronegócio (LCAs), que geralmente pagavam ao investidor retorno de 95% do CDI. “Uma empresa com rating triplo A que paga retorno somente da NTN-B é bem aceita”, afirma.
O executivo do Santander entende que existe a possibilidade de os prêmios de risco seguirem caindo entre as debêntures incentivadas, mas dentro de um certo limite. “Enquanto houver um momento de mercado com boa liquidez, há perspectiva de algumas operações virem com taxas negativas, mas não necessariamente vejo uma tendência”, explicou.
Em agosto, a Klabin emitiu R$ 1,5 bilhão em debêntures de 15 anos com retorno equivalente a NTNB-2035, menos um prêmio de 0,05% ao ano, seja, ou 6,05% ao ano. Agora, em setembro, a Engie anunciou uma operação de R$ 1,5 bilhão em debêntures com vencimento em seis anos pagando ao investidor o CDI menos um prêmio 0,12% ao ano.
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