Dados coletados pelo Broadcast indicam que não se vê um topo histórico desde 30 de maio de 2008
27 de agosto de 2024
Por Caroline Aragaki e Mateus Fagundes
O Ibovespa em reais tem registrado sucessivos recordes históricos, mas o índice dolarizado não atinge um novo topo desde 2008, muito por causa da valorização de mais de 240% da divisa americana. Segundo heads de alocações consultados pelo Broadcast, o novo pico do Ibovespa dolarizado segue distante, com o dólar tendo que voltar à casa dos R$ 3 para chegar ao nível dos 44 mil pontos recorde, ou caso o Ibovespa supere os 244 mil pontos.
Dados coletados pelo Broadcast indicam que o Ibovespa dolarizado (Ibovespa em real dividido pela cotação cambial) não vê um novo recorde histórico desde 30 de maio de 2008, quando tocou no intradia os 44.589,68 pontos, à época com o dólar a R$ 1,628.
“Quem aposta no Ibovespa dolarizado faz duas apostas: uma no próprio mercado de ações brasileiro e outra na moeda. E o real teve uma performance muito ruim de 2008 para cá”, afirma Fernando Donnay, sócio e head de fund of funds da G5 Capital, atribuindo a distância da máxima histórica ao câmbio.
Considerando o preço do Ibovespa em reais nas máximas recordes alcançadas recentemente, o dólar teria que estar cotado entre R$ 3,06 e R$ 3,17 para que o índice dolarizado voltasse à pontuação de 44 mil pontos, calculam Daniel Nogueira, coordenador de distribuição da InvestSmart XP, e Caio Schettino, head de alocações da Criteria, respectivamente.
Já com o dólar cotado a R$ 5,4794 (fechamento da última sexta-feira), o Ibovespa teria que estar nos 244.324,69 pontos para também ser recorde dolarizado.
Donnay e Nogueira afirmam que a expectativa de soft landing (crescimento moderado, com ‘pouso suave’ na economia) nos Estados Unidos tende a fazer com que o dólar se desvalorize ante moedas globais, inclusive contra o real. Assim, consequentemente, tal cenário poderia beneficiar o Ibovespa dolarizado.
“Tem inclusive a expressão ‘dólar smile’, que indica que o dólar tende a se valorizar em duas pontas: crescimento muito forte dos EUA no comparativo com o mundo, ou quando há uma crise muito aguda. Mas no meio caminho, que seria o soft landing, expectativa atual, a tendência é de dólar menos apreciado”, explica Donnay.
Nogueira cita ainda que houve um enfraquecimento do dólar ante o real nos últimos pregões, com a contribuição do noticiário sobre as eleições nos EUA, além da confirmação, na sexta-feira, de que o Federal Reserve vai inaugurar um ciclo de corte de juros a partir de setembro. “Acho que a força da vice-presidente Kamala Harris gerando a expectativa de queda da chance de uma reeleição do ex-presidente Donald Trump faz com que o mercado lá fora tenha bastante movimentação.”
Ainda assim, parece distante o cenário em que o dólar se desvalorize a ponto de voltar a R$ 3. “Temos três grandes fatores para avaliar o direcionamento do câmbio no curto, médio e longo prazo. O primeiro e mais importante é o PIB, com a expectativa de que o crescimento dos EUA seja maior do que o do Brasil. O segundo é o diferencial de juros, em que normalmente também perdemos, com o BC sem independência ou forçado a cortar juros a qualquer custo, mas que acho que não vai ser o caso agora. O terceiro é chamado de termos de troca, a balança comercial forte, que tem protegido nosso câmbio”, explica Schettino.
O head de alocações da Criteria diz ainda que “a forma mais justa de olhar é que há grande volatilidade do real, e acho que, de forma pragmática, a máquina pública no fiscal tende a desvalorizar nosso câmbio a longo prazo”.
Os analistas também apontam que é preciso considerar que o topo histórico do Ibovespa dolarizado ocorreu em uma época diferente em termos globais, em meio à crise financeira de 2008 e enquanto o Brasil passava por um “superciclo de commodities”, que puxou a economia do País. “Depois da crise de 2008, nosso Ibovespa dolarizado nunca mais foi o mesmo”, segundo Nogueira.
Seja como for, Schettino diz que dificilmente o investidor estrangeiro analisa um ponto de entrada para o Ibovespa dolarizado, independente de máxima ou mínima. Isso porque, segundo ele, a euforia com o Brasil de forma ativa, em que se acredita em crescimento e tese especificamente, não existe. “O que existe é muito pontual. Vimos participação relevante de gringos na privatização da Sabesp, por exemplo.”
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