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Mercado é cético sobre aval para BRB comprar Master

Banqueiros da Faria Lima ouvidos pelo Broadcast têm dúvida sobre aprovação de operação pelo Banco Central

31 de março de 2025

Por Cynthia Decloedt e Matheus Piovesana

Banqueiros da Faria Lima ouvidos pelo Broadcast veem com ceticismo a possibilidade de o Banco Central dar aval à aquisição de uma fatia no Master pelo banco público do Distrito Federal, o BRB. “Qualquer um que sabe ler balanço de banco entende que não deveria aprovar”, diz um banqueiro. Um acordo de aquisição de uma fatia de 58% do capital total do Master pelo BRB foi anunciado na sexta-feira. O negócio é estimado em R$ 2 bilhões.

O Banco Central informou oficialmente que fará análise técnica da operação para autorizá-la, após receber pedido do Master relacionado à modificação do seu controle acionário.

O Banco Master tem fragilidades em sua estrutura operacional e financeira, com uma carteira de crédito baseada em precatórios e empréstimos a empresas sem liquidez e um funding dependente de Certificados de Depósito Bancário (CDBs).

No ano passado, após ser pressionado por mudanças em normas do BC que, aparentemente, já endereçavam tais excessos, fez aumento de capital de R$ 1,6 bilhão – também por exigência do BC – e tentou diversificar funding com emissão de letras financeiras entre gestoras – sem sucesso. Partiu então para a venda desses papéis para fundos de previdência estaduais e municipais, levantando pouco mais de R$ 800 milhões.

Um ponto de atenção levantado pelo mercado é sobre a saúde do banco. No relatório de gerenciamento de riscos, um documento trimestral, o índice de Basileia do Master, que mostra a solidez financeira da instituição, estava em 10,53% em setembro de 2024, enquanto o mínimo exigido pelo BC é de 10,5%.

Ao Broadcast, o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, afirma que o novo conglomerado não vai precisar de capitalizações além das que já estão sendo analisadas pelo BC para os dois bancos atuais, uma de R$ 2 bilhões para o Master e outra de R$ 750 milhões para o BRB.

“Essa estrutura de capital é suficiente para sustentar o conglomerado”, diz ele. O índice de Basileia do banco combinado deve ficar em 12% neste ano, abaixo dos 13,4% do BRB em setembro do ano passado. Em dois anos, deve subir para 14%.

Outro banqueiro consultado sob anonimato diz que o Willbank, fintech adquirida pelo Master no ano passado, também vinha apresentando problemas. Com foco em clientes de baixa renda, o Will tem inadimplência bem acima da média do mercado, mesmo entre bancos digitais. Em dezembro de 2023, antes de acertar a venda ao Master, a fintech contratou captações a prazo junto ao banco.

E o Wilbank?

A forma de atuação do Will não deve mudar. “O Will tem um posicionamento bastante claro e bem feito. A inadimplência mais alta que carrega na carteira também gera um retorno mais alto”, afirmou Costa.

No último balanço disponível, de junho de 2024, 34% da carteira de crédito de R$ 21 bilhões era composta por precatórios e 44% por empréstimos a empresas. As captações do banco via CDBs estavam próximas de R$ 30 bilhões até meados deste ano, um salto da posição de R$ 5 bilhões, em 2020. O patrimônio líquido cresceu de R$ 1,8 bilhão em 2023 para R$ 4,2 bilhões e o lucro líquido estava em R$ 501 milhões no final de junho – R$ 291 milhões no mesmo período do ano passado. Em cinco anos, o

O presidente do Master, Daniel Vorcaro, fez outros movimentos para demonstrar solidez de seu banco no ano passado. Criou um comitê consultivo, com nomes como os ex-presidentes do Banco Central Henrique Meirelles, Gustavo Loyola e do ex-secretário-executivo do BC, Geraldo Magela. Do Banco Central, Vorcaro trouxe ainda o chefe do departamento de regulação, João André Pereira, para sua seguradora, a Kovr.

Como apoio, o banco contratou a consultoria McKinsey e também iniciou a criação de uma holding, com separação de alguns negócios. Também, passou a ser auditado pela KPMG, parte do grupo das “grande quatro” (big four), visto como um selo no mercado.

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