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Mulheres vão se tornar investidoras mais relevantes

Nunca tão ricas quanto agora, detinham cerca de 32% da riqueza privada global em 2020, aponta UBS

6 de março de 2025

Por Bruna Camargo

As mulheres nunca foram tão ricas quanto agora, com cerca de 32% da riqueza privada global em mãos femininas em 2020. Atualmente, existem 344 bilionárias no mundo gerindo cerca de US$ 1,7 trilhão. Até o fim desta década, as mulheres nos Estados Unidos estarão controlando US$ 34 trilhões (ou 38% da riqueza do país). Outros trilhões de dólares devem ser transferidos entre casais e gerações nos próximos 20 a 25 anos. Enquanto os números devem continuar crescendo, as mulheres ficam mais preocupadas com as finanças, o que deve torná-las alocadoras de recursos ainda mais relevantes, segundo o UBS.

Em relatório assinado por Antonia Sariyska e Amantia Muhedini, diretoras de investimentos (CIO, na sigla em inglês) na estratégia de Investimentos Sustentáveis e de Impacto do banco suíço, há características traçadas sobre investidoras mulheres. O UBS descreve que elas gastam mais tempo pesquisando e são mais propensas a seguir um plano em vez de mudar posições da carteira conforme o momento e a volatilidade; elas são mais confiantes com suas decisões quando a alocação tem impacto positivo na sociedade; e elas são mais focadas na gestão de risco do que os homens.

De acordo com o banco, as mulheres geralmente são as “diretoras financeiras” da residência, cuidando de orçamentos e contas, enquanto o cargo de “diretor de investimentos” fica para os homens. O relatório destaca que isso é espelhado inclusive institucionalmente, com somente 3,5% dos family offices globalmente sendo liderados por mulheres, conforme dados de 2021.

“A nível individual, as mulheres deveriam ser encorajadas a ‘dar uma chance’. Pode ser uma ação tão pequena quanto uma reunião com o provedor de serviços financeiros da família (seja um banco local ou um time de investimentos completo), ou tão avançada quanto desenvolver uma abordagem de investimentos para recursos de aposentadoria, por exemplo, olhando para soluções de investimento em sustentabilidade e impacto”, afirma o UBS, acrescentando que o engajamento em “investimentos anjo” em empresas privadas também pode colaborar com o desenvolvimento analítico das mulheres – além de representar um instrumento de “força coletiva”.

Empreendorismo feminino

O relatório do UBS mostra que, de 2015 a 2024, o número de bilionárias mulheres cresceu de 190 para 344, uma alta conduzida principalmente por donas de negócios. Mas globalmente apenas um terço dos negócios tem mulheres na participação proprietária, segundo dados do Banco Mundial, e esse resultado parte já dos desafios iniciais, como a alocação de venture capital em negócios femininos. Apesar do pico de 2,5% da alocação em times femininos nos Estados Unidos em 2019, o valor já caiu para 2% em 2024, conforme dados do PitchBook.

Disparidade salarial

Apesar do aumento da riqueza feminina, o relatório indica que, em 2023, 49% das mulheres participavam do mercado de trabalho globalmente, uma baixa em relação aos 50,6% registrados em 2001, mas em nível similar a 1991, conforme dados da Organização Internacional do Trabalho (ILO, na sigla em inglês). Ainda, a proporção era de que a cada 100 homens na força de trabalho, cerca de 67 mulheres trabalhavam por uma remuneração.

“Os fatores que levam à disparidade [de gênero] são amplos, desde oportunidade de trabalho para mulheres até a falta de creches acessíveis e flexibilidade no trabalho, o que mantém mães fora do mercado. As mulheres também são mais propensas a gastar tempo com trabalho doméstico não remunerado, estando dentro ou não do mercado. De acordo com a ILO, o trabalho feminino não remunerado equivaleria a 40% do PIB (Produto Interno Bruto) de alguns países”, destaca o documento.

O UBS diz que existe ainda o fator de remuneração desigual entre homens e mulheres para funções similares. “Apesar das proteções legais nesse quesito, a disparidade salarial global entre homens e mulheres não se alterou significativamente por mais de duas décadas: as mulheres ganhavam, em média, 20 centavos de dólar para cada um dólar que os homens ganhavam”, descreve. O relatório observa que isso acontece mesmo em um cenário no qual as mulheres já possuem maior nível educacional e cerca de metade dos cargos de gestão sênior em diferentes indústrias. Pesquisadores dizem que pode haver uma “multa” pela maternidade, acrescenta.

Empresas despreparadas

As mulheres vão controlar cerca de 75% dos gastos discricionários globais com mercadorias e serviços dentro dos próximos cinco anos. No entanto, elas avaliam que as empresas não atendem suas necessidades específicas. E é nessa lacuna que há uma oportunidade, tanto para os negócios crescerem a partir das demandas femininas quanto para as mulheres receberem suporte para se desenvolverem, na avaliação do UBS.

“Atualmente, as mulheres gerem cerca de US$ 32 trilhões de gastos globais e, dentro de cinco anos, devem controlar 75% dos gastos discricionários pelo mundo. Entender as necessidades das mulheres como consumidoras é crucial para destravar oportunidades. Uma pesquisa da consultoria BCG com 15 mil respondentes globalmente descobriu que a maioria das mulheres não acredita que as companhias atendam suas necessidades específicas. E isso era verdade para produtos e serviços, de serviços financeiros à área de cuidados com a saúde e bens de consumo amplos”, descrevem em relatório do UBS Antonia Sariyska e Amantia Muhedini, diretoras de investimentos (CIO, na sigla em inglês) na estratégia de Investimentos Sustentáveis e de Impacto do banco.

O UBS destaca que entender as consumidoras mulheres não é somente “bom para os negócios” em vista desse esperado aumento de poder em termos de gastos, mas também para entregar os produtos e serviços que podem “apoiar e acelerar o desenvolvimento da riqueza das mulheres”. Segundo o banco, a disparidade de gênero no setor de educação tem diminuído, mas as demais áreas – como inclusão financeira e cuidados com a saúde – precisam avançar.

“Destacamos inclusão financeira, educação e cuidados com a saúde como as três áreas de prioridade de investimento para mulheres porque se situam na intersecção entre a possibilidade de investimento e o impacto. As três áreas devem desfrutar de um crescimento a longo prazo à medida em que a tecnologia e as mudanças sociais criem oportunidades para a inovação do modelo de negócios que resolvam as disparidades [de gênero] consideráveis. As três áreas também estão interconectadas entre si e ao investimento direto em mulheres”, afirma o UBS.

A avaliação do banco é que se mais capital for mobilizado por meio de uma perspectiva de gênero nessas áreas temáticas, o papel das mulheres vai ganhar relevância.

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