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Pesos-pesados divergem sobre otimismo com Brasil

Questão fiscal gera descrença do mercado local, mas visão de estrangeiro é menos crítica

17 de outubro de 2024

Por Altamiro Silva Junior e Aline Bronzati, correspondente

A economia brasileira pode ser tudo neste momento, menos uma fonte de unanimidade – nem para o lado positivo, nem para o negativo. Enquanto no ambiente doméstico a situação fiscal é razão para forte pessimismo entre os investidores, a visão de estrangeiros é um pouco menos crítica. Ainda assim, eles reforçam o coro da necessidade de ajuste das contas públicas para o País não só atrair mais recursos, mas também para transformar o crescimento anual na casa de 3% no “novo normal”.

No começo do mês, a Moody’s elevou o rating do Brasil e deixou a nota a um passo do grau de investimento, perdido em 2015. Porém, o movimento não foi bem recebido por todos. O gestor e sócio da SPX, Rogério Xavier, um dos nomes mais influentes do mercado, disse esta semana que continua dando um “downgrade” (rebaixamento) para o País a cada notícia.

No outro extremo, outro nome tido como um dos gurus da Faria Lima, o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, sinalizou estar mais otimista. Em reuniões em Nova York na semana passada, ele disse, segundo fontes, que vê um excesso de pessimismo no mercado com o Brasil e que as contas públicas não estão tão deterioradas quanto se imagina.

Otimismo

A alguns quilômetros dos eventos do BTG em Manhattan, pesos pesados da indústria de private equity global, aqueles que compram participações em empresas, também não foram unânimes. Um interlocutor disse que a ideia de que todo o ambiente de negócios no Brasil está piorando não é necessariamente verdadeira. Por outro lado, sem o grau de investimento, o País não entra na rota dos estrangeiros, disseram outros representantes do setor, ao Broadcast.

Não era a semana do Brasil em Nova York, mas players de destaque passaram pela Big Apple para reuniões com investidores nos últimos dias. Esteves foi um deles, e participou de uma série de encontros reservados para clientes e investidores do BTG Pactual, em um evento anual do banco chamado ‘CEO Conference’.

Segundo participantes, o banqueiro afirmou que a questão da inflação no Brasil está bem equacionada e não está tão pessimista quanto alguns players do mercado no front doméstico, inclusive com a situação fiscal. De acordo com interlocutores, ele disse que existe um problema de meio ponto porcentual de desvio na inflação, mas que historicamente não é nada significativo. Ou seja, segundo Esteves, o cenário está melhor do que está sendo precificado nos ativos.

Talvez o mercado, disse o banqueiro, segundo as fontes, esteja pessimista demais. Ele referiu-se ao mau humor recente com os sinais fiscais emanados pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que têm penalizado os ativos domésticos. O banqueiro lembrou que, no começo do ano, imaginava-se um déficit fiscal muito maior em 2024 do que de fato será.

Em uma das conversas, segundo um dos participantes, Esteves mostrou otimismo com a economia brasileira, estimando o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) perto de 3%.

Projeções

O Banco Mundial foi na mesma direção do maior otimismo de Esteves ao elevar na semana passada a projeção de PIB do Brasil, de 2% em 2024, de seu relatório anterior, de junho, para 2,8%.

Na terça-feira, o Brasil foi citado pela presidente do Citigroup, Jane Fraser, como um dos países de destaque mundial em termos de crescimento. “Índia, Sudeste Asiático, Japão, Oriente Médio, México e Brasil são todos pontos brilhantes notáveis globalmente”, listou.

De fato, o crescimento no Brasil está surpreendendo, mas ainda não é possível saber se o ritmo de expansão no nível de 3% é o novo normal do País, conforme o diretor sênior de Soberanos na Fitch Ratings, Todd Martinez. “Se as taxas de crescimento permanecerem tão fortes quanto são agora, talvez, haja um elemento mais estrutural nessa história do que apenas estímulo fiscal”, disse, ao Broadcast, na semana passada.

Pessimismo

Já no Itaú BBA Macro Vision, na segunda-feira em São Paulo, Rogério Xavier, da SPX, encabeçou o coro dos pessimistas. “Apesar de a Moody’s ter dado upgrade ao Brasil, eu dou downgrade a cada notícia”, disse o gestor.

Uma das razões cruciais para esse pessimismo de Xavier é a questão fiscal brasileira, que tem se refletido nos ativos domésticos, com o dólar e juros em alta e ações em baixa.

Antes, o evento havia tido a participação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que reforçou que o enfrentamento agora da equipe econômica é o lado dos gastos, e não só das receitas.

Ainda assim, para Xavier, Haddad prometeu, mas ainda não cortou. “A verdade é que até agora foram só declarações, não ações”, disse.

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