Níveis de reservatórios de hidrelétricas estão menores que registrado ao longo de 2023
4 de setembro de 2024
Por Wilian Miron e Luciana Collet
O preço da energia elétrica permanecerá em patamares mais altos nos próximos meses, até que a chegada do período úmido se configure, avaliam especialistas e agentes do setor consultados pelo Broadcast Energia.
Diante de chuvas abaixo da média histórica desde o final do ano passado, os níveis dos reservatórios das hidrelétricas sofreram um rebaixamento, e estão atualmente em patamares inferiores aos registrados ao longo de todo 2023, o que trouxe de volta a volatilidade nos preços do mercado livre (ACL) e o acionamento da bandeira tarifária vermelha patamar 2 no ambiente regulado (ACR) neste mês de setembro.
Dados da plataforma de negociação de energia BBCE mostram que entre a semana passada e esta, os preços da energia para os próximos meses tiveram uma valorização superior a 40%. Os contratos de energia convencional para o quarto trimestre deste ano no submercado Sudeste/Centro-Oeste, que eram negociados a R$ 230,48 por megawatt-hora (MWh) no último dia 23, tiveram uma valorização de 41,22% ao longo da última semana e chegaram a R$ 325,49 por MWh ontem (2).
O aumento foi influenciado por perspectivas ruins para a hidrologia em setembro, com previsão de que o volume de água que chegará ao reservatório das hidrelétricas do subsistema Sudeste/Centro-Oeste alcançará apenas metade da média histórica.
“O mercado tem precificado um cenário crítico de afluências, em linha com os mapas meteorológicos que apontam quase nenhuma chuva no curto prazo, com contratos de energia convencional para o período de setembro a dezembro sendo precificados na ordem de R$ 300 a R$ 320 por MWh em negociações bilaterais no mercado livre”, explica a líder de Preços e Estudos de Mercado da Thymos Energia, Mayra Guimarães.
Para o especialista em Estudos Energéticos da consultoria PSR, Erik Rego, a tendência é que até o final de novembro teremos uma operação mais cara do que vinha acontecendo, pela necessidade de usar térmicas em horários específicos do dia. Segundo ele, os reservatórios das hidrelétricas que atendem ao Sistema Interligado Nacional (SIN) ainda estão com aproximadamente 50% de capacidade, o que não seria uma situação crítica, mas que demanda gerenciamento.
“Quando se fala em necessidade de energia, não vejo problema algum, a questão é nos momentos de pico… será uma operação mais cara, mas vai entregar”, diz. Ele explica que o cenário tem sido mais complexo especialmente na ponta do sistema, que acontece entre às 18h e 19h, quando as usinas solares deixam de produzir energia e há a necessidade de despachar termelétricas para garantir a confiabilidade do sistema.
Opinião semelhante tem o diretor de marketing, comercialização e Novos Negócios da Eneva, Marcelo Lopes. Ele afirma que desde junho tem observado despachos termelétricos, com crescimento em julho e agosto. “Setembro não vai ser diferente”, diz.
Na avaliação do executivo, se até novembro as chuvas não chegarem como esperado, é possível que os preços do mercado livre voltem a bater no teto. Lopes destaca que, tirando março, em todos os outros meses deste ano a hidrologia foi abaixo de 60% da média histórica. “Isso é muito ruim do ponto de vista de hidrologia, e todo aquele bônus de uma chuva acima da média de 2022 e perto da média de 2023, pode ir embora, parece que vai embora”.
Para o sócio da comercializadora Ecom Energia Marcio Sant’Anna, a situação atual reflete a falta de chuvas principalmente nos últimos 45 dias, e uma normalização acontecerá apenas após o retorno das chuvas, no início do período úmido. “Se o período úmido chegar, volta para verde rapidinho”, comenta, sobre a bandeira tarifária.
De acordo com Sant’Anna, as avaliações preliminares dos meteorologistas têm apontado para um início da temporada de chuvas mais fraca do que de costume em outubro, “mas ainda nada aponta que vai ter atraso ou que o período úmido não vai existir”, destacou.
Mayra, da Thymos, é menos otimista. Ela afirma existir uma tendência que o cenário de neutralidade que vivenciado hoje evolua para uma La Nina, o que pode trazer mais chuva no Norte e seca no Sul. “Com o solo muito seco, mesmo com a chegada esperada das chuvas as afluências devem demorar um pouco mais a subir. Com todo esse contexto, nossa estimativa é de preços altos até o final deste ano e início de 2025”, diz.
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