No pleito municipal de 2020, candidatos à reeleição eram 17% do total e foram cerca de 37% de prefeitos eleitos
4 de setembro de 2024
Por Caio Spechoto e Gabriel Hirabahasi
A força das máquinas públicas municipais dará uma vantagem ao PSD sobre os demais partidos na disputa pelas prefeituras em outubro. A sigla é a que mais tem prefeitos disputando a reeleição tanto em números absolutos quanto relativos. Além da possibilidade de usar a estrutura das prefeituras para obter apoio político, esses candidatos (em qualquer legenda) tendem a ser mais conhecidos do eleitorado que os adversários.
Na última eleição municipal, em 2020, os candidatos à reeleição eram 17% do total e foram cerca de 37% dos prefeitos eleitos. Dos 3.176 prefeitos que tentaram reeleição naquele ano, 2.069 conseguiram – ou seja, 65%. Os números variam a cada pleito, mas nas últimas cinco disputas municipais quase sempre ficaram acima de 50%.
O PSD terá 568 prefeitos tentando reeleição, o equivalente a 32,7% dos 1.736 nomes que lançou nas eleições municipais. O PT, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é o oitavo em números absolutos e o 15º em termos relativos. Tem 153 prefeitos concorrendo à reeleição ou 11% de seus 1.393 candidatos. O Broadcast Político fez o levantamento com base nos dados de candidaturas divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral, que tem um espaço para o candidato declarar se disputa a reeleição. Leia a lista completa dos partidos a seguir:
Os números sobre as eleições de 2020 citados no início desta reportagem foram extraídos do trabalho acadêmico “A reeleição de prefeitos em 2020: eleitorado, coligações e organização partidária nas eleições municipais brasileiras”, apresentado no programa de pós-graduação da UFSCar em 2023 por Zara Rego de Souza.
Filiações em série
O senador e vice-presidente do PSD Omar Aziz (AM) atribuiu a situação principalmente à quantidade de prefeitos que o partido filiou em São Paulo. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, é um dos integrantes mais influentes do governo estadual. “Muitos prefeitos saíram do PSDB [em São Paulo]”, disse Aziz à reportagem. “Na Bahia, aqui no Amazonas também, os prefeitos que eu tenho são candidatos à reeleição”, declarou o senador. Em 2020, o partido elegeu 662 prefeitos. Só ficou atrás de MDB e PP em número de prefeituras conquistadas.
“Eleição municipal não é uma eleição nacional, o cara vota no prefeito que vai estar do lado dele”, disse Aziz. O senador mencionou como exemplo Eduardo Paes (PSD), prefeito do Rio de Janeiro e favorito à reeleição na cidade de Jair Bolsonaro mesmo sem ser bolsonarista. Omar Aziz citou a vantagem de quem concorre já no cargo, mas disse que mesmo assim os resultados são imprevisíveis. “Eleição a gente sabe só como começa”, disse.
Segundo partido com mais candidatos à reeleição, o MDB foi o que mais elegeu prefeitos em 2020, com 797. Foi a primeira vez ao menos desde 2004, porém, que a legenda conquistou menos de 1.000 prefeituras – o Brasil tem 5.570 municípios. O pico do partido nesse período foi nas eleições de 2008 com 1.201 prefeitos eleitos. O foco do partido é manter a prefeitura de São Paulo, maior cidade do País. Ricardo Nunes assumiu o cargo depois da morte do tucano Bruno Covas, em 2021, e tenta se manter no posto.
Para o líder do MDB na Câmara dos Deputados, Isnaldo Bulhões (AL), “o instituto da reeleição” fez com que a máquina pública ganhasse uma importância grande nas corridas eleitorais. “O MDB sempre teve essa abrangência nos municípios”, disse ele ao Broadcast Político. “Estamos, aos poucos, retomando crescimento, inclusive na Câmara. Quando assumi a liderança, tínhamos 34 deputados, em 2019. Agora estamos com 44”, declarou o deputado.
Isnaldo ressaltou, ainda, a importância das eleições municipais para a disputa de 2026, especialmente em relação à corrida por cadeiras no Senado. O MDB se manteve, desde a redemocratização, entre os maiores partidos na Casa Alta do Congresso. Perdeu o posto de maior bancada recentemente para o PSD. Em 2026, os mandatos de nove dos dez senadores do partido se encerram. “Teremos um grande desafio em 2026. Indiretamente, [as eleições municipais influenciam na estratégia para 2026] sim. O resultado deste ano é que será a base das decisões que envolverão o planejamento para 2026”, completou.
O PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta neste ano se recuperar de três eleições seguidas perdendo prefeitos. O partido elegeu 638 em 2012 e o número despencou para 254 em 2016, no auge da Lava Jato. Em 2020, o desempenho foi ainda pior, com 182 eleitos.
O secretário-geral do PT, Henrique Fontana, disse que o partido deve ter um crescimento “significativo” nas eleições deste ano. Segundo ele, a sigla filiou prefeitos, principalmente no Nordeste. Ele também disse que o PT está apoiando diversos candidatos de outros partidos – como mostrou o Broadcast Político, a legenda de Lula conseguiu fazer menos alianças do que o PL de Jair Bolsonaro para as eleições deste ano.
“A vantagem é sempre ter a máquina nas mãos”, disse o pesquisador da Fundação Getulio Vargas Marco Antonio Teixeira, especialista em política brasileira e eleições. “Candidato à reeleição não precisa abdicar do cargo, e seus atos em plena campanha eleitoral são simultaneamente atos de campanha e atos de governo”, declarou.
Vereadores disputando reeleição
O partido que mais tem vereadores disputando a reeleição é o MDB, tanto em números absolutos quanto relativos. São 5.835 dos 40.454 candidatos, o equivalente a 14,4% das próprias candidaturas. Em segundo lugar vem o PP e, depois, o PSD – em números absolutos. Leia nos gráficos a seguir os números de todos os partidos:
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