País produz 1,2 bilhões de barris ao ano e estoque provado de 15,9 bilhões. Nesse ritmo, acabaria em 2035
31 de outubro de 2024
Por Denise Luna
O Brasil vive um momento de incerteza em relação ao futuro da produção de petróleo no País, que depende fundamentalmente da descoberta de novas reservas e do aumento do fator de recuperação de campos maduros. Sem novas descobertas nos últimos anos no pré-sal, hoje responsável por 81% da produção brasileira da commodity, o Brasil corre o risco de se tornar importador já na próxima década se não conseguir avançar em novas fronteiras, como as bacias da Margem Equatorial, no Norte, ou na bacia de Pelotas, no Sul.
Um parecer técnicos do Ibama divulgado esta semana apontou novamente para a negativa da licença ambiental de um poço na bacia da Foz do Amazonas, situado a mais de 500 quilômetros da costa.
Para o pesquisador e professor do Instituto de Energia da PUC-Rio, Edmar Almeida, não existe outra opção a não ser a exploração da bacia da Foz do Amazonas, na Margem Equatorial brasileira, onde existe chance de se encontrar reservatórios gigantes a exemplo dos vizinhos da região, Guiana e Suriname. Já o “espelho” da bacia de Pelotas é a Namíbia, onde estão sendo descobertos reservatórios bem menores, e a própria Petrobras já indicou que a região Sul ficará para uma exploração posterior à do Norte do País.
O professor observa que até o fim da década serão instaladas mais 17 plataformas no Brasil, mas a falta de exploração e de novas descobertas, mantida a produção atual ou crescente, esgotará em pouco mais de uma década todo o petróleo conhecido atualmente. “Não tem opção. Já faz algum tempo que não tem nova descoberta no pré-sal e empresas tem devolvido blocos. Estamos aumentando muito a produção e as reservas atuais não vão conseguir sustentar essa produção”, alerta.
Atualmente o Brasil produz 3,47 milhões de barris de petróleo por dia, ou 1,2 bilhão de barris por ano, com reservas provadas de 15,9 bilhões de barris. Nesse ritmo, o petróleo nacional acabaria em 2035, e mesmo que confirmasse as reservas prováveis e possíveis, de 27 bilhões de barris, teria mais dez anos de produção e terminaria em 2045. No ano passado, apenas seis poços foram perfurados no litoral brasileiro, mesmo número de 2024, até o momento.
“Já se vê declínio no pré-sal”, diz Almeida, lembrando que o declínio natural dos campos de petróleo é de cerca de 10% ao ano. “Basicamente, se o País decidir não aproveitar os recursos da Margem Equatorial, outro país vai produzir e exportar para o Brasil um petróleo com mais emissões de CO2”, explica, ressaltando a incoerência da demora da licença, já que a Petrobras explora e produz no Sudeste perto de adensamentos demográficos bem maiores. “Qual a diferença da Margem Equatorial e da Ilha Grande (RJ)?”, questiona.
Petrobras
Segundo fontes, a Petrobras continua negociando com o órgão ambiental o aval para explorar a Margem Equatorial. O Broadcast apurou que a expectativa é que a licença seja concedida após a reunião do G20 no País, prevista para o mês que vem. Além disso, a estatal quer aumentar o fator de recuperação de campos maduros, principalmente na bacia de Campos, que segundo a diretora de Exploração e Produção da companhia, Sylvia Anjos, vai produzir mais 200 mil barris por dia em 2025.
“Esse embate (com o Ibama) tem que ser resolvido. Se o Brasil quiser continuar relevante no mercado internacional vai ter que encontrar uma área expressiva para explorar, com foi o pré-sal, mas o debate não está acontecendo de forma correta. Seria saudável se houvesse um debate mais honesto, mais aberto, porque a gente não consegue entender porque o offshore de lá (da Margem Equatorial) é diferente do offshore da Ilha Grande”, conclui Almeida.
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