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Semana inicia com guerra comercial e novo comando Legislativo

Eventos vinham sendo precificados, mas seus desdobramentos estarão no foco dos investidores

3 de fevereiro de 2025

Por Eduardo Laguna, Gabriela Jucá e Geovani Bucci

O mercado retoma as negociações, nesta segunda-feira, reagindo a um final de semana movimentado, marcado pelas eleições no Congresso e pelas reações às barreiras comerciais anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Embora sem trazer uma grande surpresa ao que já vinha sendo precificado pelos investidores, os desdobramentos dos eventos de sábado e deste domingo estarão no foco do mercado nos próximos dias.

As preocupações com a guerra comercial foram reforçadas após Trump decretar tarifas, válidas a partir desta terça-feira, de 25% sobre as importações de produtos canadenses e mexicanos. Contra a China, a tarifa será de 10%. Em retaliação, o Canadá avisou que vai responder na mesma medida, taxando em 25% os produtos americanos. O México prepara medidas tarifárias e não tarifárias sobre os EUA, enquanto a China vai entrar com uma ação junto à Organização Mundial do Comércio (OMC).

Tensão em alta

Segundo o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, aumentou a tensão entre EUA e China. A política comercial dos EUA, acrescenta, reforça a tendência de dólar mais forte, juros pressionados e Bolsa mais fraca. “A tensão comercial vai continuar, bem como as dificuldades fiscais internas [dos EUA]”, comenta Vale.

No terreno doméstico, as eleições ao comando das casas legislativas tiveram o resultado amplamente esperado, com Hugo Motta (Republicanos-PB) na presidência da Câmara, e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), do Senado. Em tese, as trocas favorecem o governo na Câmara e dificultam no Senado. Tudo dentro do script, porém só o tempo vai dizer como ficará mesmo, na prática, a relação entre Executivo e Legislativo.

Cientista político e sócio da consultoria Tendências, Rafael Cortez pondera que a aproximação do ciclo eleitoral, dado o seu efeito desagregador sobre a base, tende a tornar o ambiente mais difícil para o andamento de agendas do governo no Legislativo. As recentes declarações do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, seriam já um sintoma disso. Além de críticas ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a quem chamou de “ministro fraco”, Kassab disse que a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva “hoje não é fácil”.

O apoio a Lula, complementa Cortez, fica mais caro à medida que Lula perde popularidade. Além disso, o Congresso, diz o analista político, ganhou força perante o Executivo e não tem mostrado muita disposição em apoiar agendas de ajuste fiscal.

Liberação de emendas

Nesse contexto, analistas entendem que o andamento de pautas de interesse do governo seguirão condicionadas à liberação de emendas parlamentares. Também há uma percepção de que é grande o risco de que benefícios tributários, como a promessa de isenção do Imposto de Renda a salários de até R$ 5 mil, não tenham compensação suficiente.

“Não há sinal de que as emendas sejam um problema político a ser resolvido. O poder discricionário do Executivo na gestão desses recursos [do Orçamento] está diminuindo”, diz Cortez.

Ele entende que Motta poderá ser mais discreto do que o seu antecessor, Arthur Lira, nas críticas ao governo. Já no Senado, compara, a troca de Rodrigo Pacheco por Alcolumbre, cuja eleição teve o apoio do PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, joga contra o governo. Cortez frisa, no entanto, que as diferenças em relação à legislatura anterior são secundárias diante dos obstáculos de governabilidade que o governo tem pela frente. Um risco, aponta, é o de Motta, embora mais próximo ao governo, não manter o dinamismo à agenda legislativa que Lira, por seu estilo mais centralizador, imprimia.

Para o líder do time de análise política da corretora Warren Investimentos, Erich Decat, a questão não é se Motta irá pautar os projetos favoráveis ao governo federal, e sim, se a Casa irá votar neles. “Ele já se posicionou de forma contrária como deputado aos interesses do Palácio do Planalto. Mas no geral, podemos dizer que é pró-governo”, diz.

Olha na agenda

O estrategista da RB investimentos, Gustavo Cruz, entende que o mercado vai dar atenção especial a quatro agendas no Congresso – entre elas, a tributação dos dividendos e a isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil, duas pautas do segundo capítulo da reforma tributária, que tratará da tributação da renda. Completam a lista a exploração de petróleo na bacia da foz do rio Amazonas e a negociação das emendas parlamentares.

Para Cruz, enquanto a tributação de lucros e dividendos tende a enfrentar alguma resistência, a isenção de imposto a rendas de até R$ 5 mil deve ter caminho menos embargado. Esta última foi uma promessa feita em campanha não apenas por Lula, mas também pelo candidato derrotado, Jair Bolsonaro, de modo que é uma pauta, em tese, tanto do governo quanto da oposição. “Será difícil ver um senador ou deputado votando contra”, comenta o estrategista da RB.

A promessa de ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda gerou estresse no mercado, uma vez que sua compensação, além de ser vista como insuficiente, é mais difícil de ser aprovada. Nas contas da RB Investimentos, a taxação das maiores rendas, como propõe o governo, levantaria não muito mais do que R$ 10 bilhões – “forçando muito”, R$ 15 bilhões, diz Cruz -, quando a renúncia da isenção é estimada no mercado em R$ 45 bilhões. “Não fecha muito a conta de um governo que já tem problemas em entregar a sua meta fiscal”, diz o estrategista da RB.

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