Selecione abaixo qual plataforma deseja acessar.

Tarifaço de Trump pode tirar capital do México

Dúvida de analistas é se o Brasil vai se beneficiar na alocações globais por causa de problemas fiscais

17 de fevereiro de 2025

Por Altamiro Silva Júnior e Aline Bronzati, correspondente

Temores em torno do tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e crescentes incertezas sobre os rumos da economia do México, que pode também ser afetada pelas deportações em massa e pelas renegociações do tratado comercial com os vizinhos do Norte, devem fazer com que investidores globais repensem alocações de capital no país. A dúvida é se o Brasil vai se beneficiar desse fluxo, com temores sobre a situação fiscal do País, que também vem sendo alvo da política comercial da Casa Branca, como no caso das tarifas ao aço, alumínio e etanol, embora com menor impacto até agora que no México.

Na economia mexicana, que já foi apontada como sendo uma das mais beneficiadas pelo nearshoring, a realocação das cadeias produtivas mundiais para mais perto dos parceiros comerciais, a visão agora é outra. Com a política de Trump, que suspendeu as tarifas impostas ao país por 30 dias, o impacto maior nos fluxos de capital por enquanto é nos recursos de mais curto prazo, para apostas no mercado financeiro.

Mas já há quem preveja, como a consultoria internacional TS Lombard, também que o fluxo de investimento externo direto pode ser afetado, perdendo força em 2025, pois a economia mexicana é uma das mais expostas às mudanças de política da Casa Branca.

Exportações aos EUA

Na outra ponta, o Brasil, menos exposto que o México às exportações aos Estados Unidos, é visto como um dos candidatos a receber parte desse fluxo de curto prazo. Na contramão da América Latina – e de outros emergentes -, o País tem subido os juros, o que o torna mais atrativo ao capital estrangeiro que busca ganhos imediatos.

“O governo Trump pode ser menos prejudicial ao Brasil do que ao México”, afirmou nesta sexta-feira o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, em evento com empresários em São Paulo. Para ele, a avaliação é que a economia brasileira, menos conectada aos EUA, pode ser relativamente menos afetada do que o México.

Contudo, diante das incertezas geradas pelas políticas de Donald Trump, a expectativa é que os fluxos de capital em direção aos emergentes devem se reduzir este ano. O Instituto Internacional de Finanças (IIF), com sede em Washington e que representa quase 500 bancos do mundo, projeta que os fluxos de portfólio para o México, ou seja, aplicações em bolsa e renda fixa, devem cair de US$ 4 bilhões em 2024 para só US$ 1 bilhão este ano. O fluxo para o Brasil também deve se reduzir, mas em menor intensidade, caindo de US$ 13 bilhões para US$ 11 bilhões.

“É hora de mercados emergentes, incluindo a Índia, se prepararem e serem resilientes a choques de saída de investidores globais”, alertou o fundador e diretor do banco indiano Kotak Mahindra, Uday Kotak.

Fluxo de capital

Ao contrário do Brasil, o México e a bolsa mexicana não soltam dados muito frequentes sobre fluxos de capital, só trimestrais. Por isso, um dos termômetros principais acaba sendo o comportamento do peso. De acordo com a economista-chefe de mercados emergentes da gestora VanEck, Natalia Gurushina, a incerteza gerada pela Casa Branca no México está por trás da pressão sofrida pelo peso mexicano no fim do ano passado, após a vitória de Trump, e este ano. O peso chegou a cair em torno de 3%, mas devolveu as perdas após o adiamento das tarifas, uma sinalização de que os investidores já embutiram nos preços muitos dos riscos associados à agenda econômica de Trump, mas não todos. “O pico de volatilidade em torno do anúncio de uma tarifa universal de 25% mostra que o mercado ainda não está totalmente preparado para o cenário mais severo”, observou a gestora em entrevista ao Broadcast.

A economista do Itaú Unibanco Julia Passabom lembra que, além das tarifas, o peso mexicano já estava sob pressão da uma piora do risco doméstico com as medidas da presidente Claudia Sheinbaum, que tomou posse em outubro. “É um ambiente mais volátil e uma coisa que o investidor nunca vai gostar é de incerteza e volatilidade”, pontuou. A tendência é que, nesse ambiente, os fluxos de capital estrangeiro fiquem mais “nervosos”. E, na sua visão, pode ser um ambiente positivo para o Brasil.

“Quando a gente pensa em fluxo de capital, olhando a América Latina, sem dúvida, o Brasil pode ser um dos países que se beneficia da imposição de tarifas ao México, por ser uma economia fechada e menos dependente de volatilidade internacional, especificamente, na questão das tarifas”, disse Passabom.

Investidor estrangeiro

O início do ano tem sido marcado pelo retorno do investidor estrangeiro ao Brasil diante da depreciação dos ativos domésticos. Este ano, até agora, houve entrada de R$ 7 bilhões de capital internacional na B3. O País também voltou a ampliar sua importância em fundos globais. O peso do Brasil no índice de ações MSCI Emerging Markets (MSCI EM), uma das principais referências para investidores estrangeiros, avançou a 4,49% em janeiro contra 4,066% em dezembro de 2024. O feito permitiu ao Brasil recuperar a quinta colocação, após ter sido desbancado pela Arábia Saudita pela primeira vez na história.

 Peso do Brasil no MSCI Emerging Markets
 2015   2016   2017   2018   2019   2020   2021   2022  2023   2024   Jan/2025 
5,46% 7,69% 6,80% 7,49% 7,46% 5,10% 3,99% 5,26% 5,80% 4,066% 4,49%
Fonte: MSCI Inc

Problema fiscal

No Brasil, a questão fiscal é a maior preocupação relacionada ao País e continuará agindo como um peso sobre os ativos brasileiros, avaliou o diretor de investimentos de mercados emergentes nas Américas do UBS Global Wealth Management, Alejo Czerwonko. Ele observa que a dívida bruta brasileira está próxima de 80% do PIB, um dos índices mais altos dentre os mercados emergentes. E mesmo o País estando com os ativos muito descontados em relação a outros emergentes, faltam catalisadores positivos para estimular uma aposta mais firme.

Veja também