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Valor de mercado de seguradoras derrete com incêndios em L.A.

Projeção preliminar indicam em perdas estimadas de US$ 40 bilhões

15 de janeiro de 2025

Por Aline Bronzati, de Nova York

Os prejuízos dos incêndios florestais que devastaram bairros luxuosos em Los Angeles, na Califórnia, ainda estão sendo calculados e aumentando, mas o mercado segurador já sente o baque desta que pode se tornar a queimada mais cara na história dos Estados Unidos. Seguradoras perderam mais de US$ 40 bilhões em valor de mercado desde que as chamas começaram a assolar a região, mostra levantamento com dados da FactSet compilados pelo Broadcast.

A liquidação das ações de seguradoras em Wall Street supera até mesmo os cálculos para os prejuízos do fogo, que mais que dobraram desde o início dos incêndios há uma semana. A casa de análises Evercore ISI e a corretora britânica Aon estimam que as perdas seguradas alcancem entre US$ 20 bilhões e US$ 25 bilhões. Novas projeções da Fitch Ratings e dos bancos Goldman Sachs e Wells Fargo indicam que a conta das seguradoras pode chegar na casa dos US$ 30 bilhões.

“A situação piorou e está começando a parecer um pouco mais problemática. Esperamos que as perdas seguradas alcancem US$ 20 bilhões. O mercado pode ter reagido de forma mais conservadora, tentando antever o pior cenário”, diz o vice-presidente para ratings globais de seguros e pensões da Morningstar DBRS, Patrick Douville, em entrevista ao Broadcast. Segundo ele, o impacto é “negativo, mas administrável” uma vez que as seguradoras têm negócios diversificados, o que diminui os efeitos de um determinado evento. O especialista também descarta riscos para o rating das seguradoras e à solvência das companhias, ou seja, a capacidade de fazer frente a futuras demandas.

“Os vários incêndios que atingem Los Angeles resultarão em perdas seguradas que excedem materialmente as máximas de eventos de incêndios florestais anteriores, mas provavelmente não afetarão as classificações de resseguradoras e seguradoras”, reforça a Fitch Ratings, em relatório. A agência de classificação de risco estima que as perdas econômicas totais com os incêndios podem chegar a US$ 275 bilhões.

A classificadora alerta, porém, que os incêndios que ameaçam até marcos icônicos como o letreiro de Hollywood, devem pesar no resultado das seguradoras no curto prazo. “É provável que as seguradoras façam mais comentários sobre o potencial impacto nos lucros à medida que avaliam e quantificam o escopo dos danos durante a divulgação de resultados do quarto trimestre”, diz o vice-presidente e analista sênior da FactSet, John Butters.

Mas a leitura é de que ainda é muito cedo para saber o tamanho do estrago. Previsões da autoridade climática local indicam ventos fortes na região atingida, o que pode aumentar ainda mais o alcance das queimadas, e, com isso, os seus impactos.

“Levará semanas ou meses para determinar a magnitude dos danos segurados, mas os incêndios florestais de Los Angeles estão provavelmente entre os mais caros da história dos Estados Unidos”, diz a Moody’s, em comentário a clientes. Até então, o incêndio florestal mais oneroso para o setor de seguros havia sido o Camp Fire, em 2018, cujas perdas seguradas foram de US$ 12,5 bilhões, considerando valores atualizados.

Douville, da Morningstar, afirma que as seguradoras podem começar a elevar as suas provisões para perdas por conta dos incêndios em Los Angeles no primeiro trimestre deste ano, quando já terão mais clareza em torno do tamanho das perdas. A extensão dos danos no mercado vai depender de como a perda será classificada, se em vários ou apenas um evento, explica. Isso porque se for considerada apenas uma única ocorrência, os contratos de resseguro, ou seja, o seguro das seguradoras, deve ser acionado.

Mesmo neste caso, especialistas não veem o impacto se alastrando para o mercado internacional de resseguros, o que poderia desencadear o aumento de taxas ao redor do globo, e atingir também o mercado brasileiro. Um executivo de uma resseguradora internacional diz, na condição de anonimato, que não vê tal possibilidade neste momento, mas pondera que depende do tamanho do impacto das perdas.

Embora os incêndios florestais em Los Angeles caminhem para ser o mais custoso dos EUA, as perdas devem ficar abaixo de outros eventos de grande monta. O desastre natural mais caro nos EUA foi o furacão Katrina, em 2005, com perdas seguradas estimadas em mais de US$ 100 bilhões, segundo a Aon.

Os prejuízos de bilhões de dólares devem pressionar o já fragilizado mercado de seguros residenciais da Califórnia, elevando os preços do seguro e diminuindo ainda mais a disponibilidade de coberturas na região, conforme especialistas. “As taxas estão um pouco baixas no Estado, e os reguladores não querem deixar as seguradoras subir os preços porque estão preocupados com o acesso ao seguro, mas isso está levando algumas a deixarem de oferecer cobertura na região”, diz Douville. Há também negócios sem proteção por seguro. Dentre os segmentos atingidos, está a indústria de cinema americana.

E esse é um problema global. Em agosto do ano passado, o Brasil enfrentou um salto no número de incêndios florestais. “Na Califórnia, no Brasil e em outros lugares do mundo, onde não há proteção do seguro, as pessoas vão depender de governos ou simplesmente terão de se virar por conta própria se houver um desastre”, lamenta Douville.

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