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Sonho de verão

"Se isso é setembro, podemos ter um pouco mais de agosto?",clamou o Rabobank

4 de setembro de 2024

Por André Marinho

Como nos versos de um dos maiores sucessos do Green Day, investidores voltaram do feriado nos Estados Unidos provavelmente entoando uma súplica: “Wake Me Up When September Ends” [Acorde-me quando setembro acabar]. A liquidação de ações em Wall Street deu o tom inicial de um mês que historicamente tende a ser pior do ano, enquanto os operadores retornam das férias de verão do Hemisfério Norte sem uma ideia muito clara do que os aguarda na etapa final do segundo semestre.

O gatilho, desta vez, foi o temido fantasma de uma possível recessão na maior economia do planeta, que voltou a assustar após dois indicadores decepcionantes da indústria. O cenário pode apoiar uma campanha mais agressiva de relaxamento monetário pelo Federal Reserve (Fed), mas nem isso mais serve de alento em um cenário de incertezas quanto ao pulso da atividade americana.

Os dados jogaram lenha na fogueira que já vinha castigando ações de fabricantes de chips desde o detestado balanço da Nvidia na semana passada. Teve até recorde negativo: o principal nome da produção de semicondutores perdeu quase US$ 280 bilhões em valor de mercado em apenas 1 dia – nunca nenhuma empresa havia derretido tanto em uma única sessão.

O fogaréu se alastrou pelo mundo e penalizou as bolsas da Ásia, onde Tóquio e Taiwan fecharam em baixa superior a 4%. Nem poderia ser diferente: as duas praças concentram importantes papéis do setor de tecnologia, com destaque para a gigante Taiwan Semiconductor Manufacturing (TSMC). A equipe do Broadcast, que nunca dorme, mostrou a movimentação em tempo real, de Nova York à capital japonesa.

“Se isso que é setembro, podemos ter um pouco mais de agosto?”, clamou o Rabobank em um relatório ainda durante a madrugada.

Mas agosto, de fato, já era. Agora é a hora de se preparar para uma agenda cheia com potencial para novas surpresas. A começar pelo aguardado payroll de agosto, na próxima sexta-feira, que informará a criação de postos de trabalho nos EUA. Ninguém no mercado se esqueceu do caos provocado pela edição anterior desse indicador, que apontou arrefecimento na geração de vagas. Naquele fatídico 2 de agosto, uma sensação de pânico se espalhou pelas mesas de operações.

Na semana que vem, o foco volta mais uma vez para o fronte da inflação, com a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI). O dado pavimentará o caminho para a decisão do Fed, que deve abrir o ciclo de alívio de juros em 18 de setembro. A dúvida que ainda resta é sobre o tamanho do corte inicial: 0,25 ou 0,5 ponto porcentual?

É mais uma interrogação na coletânea que promete desencadear um novo período de instabilidade. E enquanto o horizonte econômico segue nebuloso, talvez seja uma boa buscar inspiração nos acordes do Green Day: “O verão veio e se foi / O inocente nunca sobrevive / Acorde-me quando setembro acabar”.

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