Agronegócios
17/06/2019 10:10

Perspectiva: Clima e área de plantio nos EUA continuam no radar do mercado de grãos


Por Leticia Pakulski; Tomas Okuda e Gustavo Porto

São Paulo, 17/06/2019 - O clima nos Estados Unidos e a perspectiva de área plantada no país devem direcionar os preços futuros de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) nesta semana. Até o fim da semana passada, a previsão de chuvas em áreas produtoras continuava dando suporte às cotações, já que o excesso de umidade tornava o plantio, já atrasado nos EUA, ainda mais lento. O mercado também acompanhará nos próximos dias a demanda por grãos norte-americanos após as altas recentes nas cotações.

No caso da soja, os futuros terminaram em alta na CBOT na sexta-feira, e o vencimento julho subiu 8,75 cents (0,99%), para US$ 8,9675/bushel. O ganhos na semana foi de 4,73%. Segundo a analista Andrea Cordeiro, da Labhoro, sem novidades sobre tratativas entre EUA e China, as condições climáticas norte-americanas e a incerteza sobre o tamanho das áreas a serem plantadas de soja e milho no país têm sido as principais influências para a CBOT. Fundos estão mais cautelosos com a soja depois de terem perdido dinheiro ao cobrir posições vendidas no milho com a disparada das cotações do cereal. Na soja, os preços também subiram, embora não na mesma proporção. "Existe uma leitura de que a janela de soja ainda está aberta. Mas, à medida que a segunda quinzena de junho avance e as chuvas nos EUA se avolumem, é provável que o mercado, com fundos vendidos na soja, continue com preços bastante voláteis", disse. Conforme boletim meteorológico da Labhoro, eram esperados até o dia 22 acumulados de 75 a 125 mm no extremo nordeste do Texas, centro-leste de Oklahoma e do Kansas, extremo norte de Louisiana, Arkansas, Missouri, Mississippi, noroeste do Tennessee, Kentucky e em grande parte do leste do cinturão. Também estavam previstas chuvas de 30 a 40 mm no nordeste do Texas, centro-sul de Louisiana, centro-oeste do Kansas, Nebraska, Wisconsin, Michigan e Dakota do Sul e de 50 e 75 mm em Alabama, Dakota do Norte, Minnesota e Iowa.

A grande questão para o mercado neste momento é quanto de área de milho ficará sem plantar. "Existe uma especulação grande entre os analistas e as consultorias, a maioria fala em 6 milhões a 8 milhões de acres", disse Andrea. Depois disso, a dúvida é o que acontecerá com essas áreas, se produtores acionarão o seguro por impedimento de plantio ou migrarão para a soja. Conforme a analista, a possibilidade de migração de milho para a soja é factível, mas é preciso lembrar que a semeadura do cereal continuou após a janela considerada ideal. "Inicialmente se falava que produtor dos EUA plantaria até fim de maio, aí estendeu a janela até 5 de junho, depois estendeu até 10 de junho e nesta semana (na semana passada) ainda houve atividade de plantio de milho em alguns locais do cinturão", disse. "À medida que o produtor não encerrou trabalhos no dia 30, presume-se que menos áreas do que se previa migrarão para a soja." Outro fator que vem sendo considerado é como vai evoluir a semeadura da soja de agora em diante. Se as chuvas previstas nos mapas se confirmarem, o mercado deve repercutir uma possível lentidão dos trabalhos de campo.

Investidores podem tentar antecipar nas próximas semanas quanto da área prevista de soja será plantada no período recomendado. "Temos duas semanas para os trabalhos evoluírem dentro de uma janela de produtividade ideal", disse Andrea. "Já vimos em anos passados o plantio de soja seguir até primeira semana de julho e avançar um pouquinho mais, mas isso é exceção. À medida que produtor sai de junho e entra em julho, entra numa janela de perda de produtividade e na qual as lavouras ficam vulneráveis a geadas precoces lá na frente." Conforme Andrea, a expectativa do mercado era de que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estimasse área plantada de 80% a 83% na soja e de 89 a 92% no milho após o fechamento do mercado na segunda-feira.

Do lado da demanda, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que os EUA "continuarão tomando bilhões de dólares" da China caso o presidente chinês, Xi Jinping, não compareça à reunião da cúpula do G-20, ainda este mês. Trump ressaltou que a China está "manipulando sua moeda" para compensar as perdas causadas pela guerra comercial e que isso "irá prejudicá-los". As declarações foram dadas em entrevista ao programa Fox and Friends, da Fox News, na sexta-feira. "Trump está capitalizando o crédito desse dinheiro que está entrando na economia norte-americana para, de alguma maneira, usar isso como uma bandeira para um período pré-eleitoral", avaliou Andrea. Segundo ela, a China, por outro lado, assume uma postura defensiva e procura ampliar mercados na Europa e nas Américas Central e do Sul, enquanto espera para ver a evolução do quadro eleitoral dos EUA.

Os futuros de milho fecharam em alta pela quarta sessão consecutiva nesta sexta-feira na CBOT, ainda impulsionados pelo clima adverso no Meio-Oeste dos Estados Unidos. O vencimento julho avançou 11,00 cents (2,49%) na sexta-feira, para 4,53 por bushel. O ganho na semana chegou a 8,96%. "O milho continua subindo com preocupações relacionadas à produção, o que está levando o consumidor final a comprar o maior volume possível de grãos da safra velha, principalmente no leste da região", disse Doug Bergman, da RCM Alternatives. O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) disse que exportadores relataram vendas de 125.613 toneladas de milho para destinos não revelados, com entrega em 2019/20.

Cerca de 3,4 milhões de hectares no leste do Meio-Oeste e 2,6 milhões no oeste da região ainda não foram semeados, disse Peter Meyer, chefe de análise de grãos e oleaginosas na S&P Global Platts. "Essa é historicamente a maior área não semeada registrada nesta época do ano", afirmou.

Os futuros de trigo negociados na CBOT fecharam em alta na sexta-feira, influenciados pelo desempenho do milho. Os dois grãos tendem a se mover na mesma direção porque um é substituto direto do outro em ração. A previsão de clima frio e úmido no sul das Grandes Planícies dos Estados Unidos também deu suporte às cotações. Essas condições são desfavoráveis para a maturação e para a colheita de trigo de inverno. Os ganhos, porém, foram bem menores do que os do milho. Segundo analistas, isso se deve aos amplos estoques de trigo nos EUA e no mundo. Na CBOT, o vencimento julho do trigo subiu 3,00 cents (0,56%) e fechou em US$ 5,3850 por bushel. A alta semanal foi de 6,63%.

Café: contratos caem 5,4% na semana

Os contratos futuros de café arábica apresentaram desvalorização de cerca de 5,4% (555 pontos) na semana passada na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), base vencimento setembro de 2019. As cotações encerraram na sexta-feira (14), a 98,05 centavos de dólar por libra-peso. No período, os contratos marcaram máxima de 105,75 cents (sexta, dia 7) e mínima de 97,95 cents (sexta, dia 14).

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), destaca em boletim semanal que o tempo quente e seco nas principais regiões produtoras do Brasil, que permite avançar nos trabalhos de colheita e impede danos ainda maiores na qualidade da nova safra brasileira de café; a confirmação dos bons volumes de exportação do Brasil; e a divulgação dos estoques privados de café no Brasil, pesaram sobre o mercado.

Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os estoques privados de café no Brasil em 31 de março último totalizavam 12,893 milhões de sacas, com alta de 31,2% ante 2018. Conforme Carvalhaes, o dado acende uma luz amarela sobre as dificuldades que o País terá para cumprir compromissos de exportação e consumo interno no novo ano-safra que se inicia em julho. Exportamos em abril 3 219 909 sacas e em maio 3 519 533 sacas de café. Em abril e maio, foram consumidas 3,7 milhões de sacas que, somadas a 6,74 milhões exportadas, indicam que 10,44 milhões de sacas "desapareceram" dos estoques em abril e maio. Sobraram 2,45 milhões para exportações e consumo em junho.

O Brasil chegará ao fim de junho, final de ano-safra, "com estoques de passagem baixíssimos e apenas com a nova safra, de ciclo baixo, não haverá café suficiente para manter o mesmo volume de embarques no ciclo 2019/2020", calcula Carvalhaes.

"O levantamento dos estoques brasileiros de passagem deveria ser feito para a data de 30 de junho, quando termina oficialmente o ano-safra brasileiro. Seria útil também levantarmos anualmente os estoques existentes em 31 de dezembro, fim do ano calendário", ressalta Carvalhaes.

Açúcar: mercado pode testar 13 centavos de dólar

O contrato outubro já é o mais negociado no mercado futuro do açúcar demerara na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), mas analistas e operadores olham se o julho terá forças para testar os 13 cents por libra-peso nessas duas últimas semanas de negociação. Esse primeiro vencimento tem resistência em 12,95 cents e uma expectativa de entrega baixa de origem caso não haja uma reação forte até a expiração. O avanço, caso ocorra, seria um teste para medir a demande pela commodity.

Na sexta-feira, o julho fechou em 12,75 cents, estável, e o outubro ganhou 1 ponto, ou 0,08%, a 12,92 cents, e também enfrenta dificuldades de romper os 13 cents. O dia foi marcado por um baixo volume de negócios, quase a metade de quinta-feira, e pela pressão da queda do prêmio do açúcar branco na Bolsa de Londres (ICE Futures Europe), o que limita a busca pelo demerara para o refino.

Relatório da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês) mostrou que fundos e especuladores tinham um saldo vendido de 127.558 lotes ao final da semana encerrada na terça-feira, 11 de junho, ante o saldo vendido de 158.899 lotes da semana finalizada em 4 de junho. O recuo no saldo era esperado, pois fundos passaram a semana deixando suas posições vendidas, principalmente no julho, e ajudaram nas altas.

Contato: leticia.pakulski@estadao.com; tomas.okuda@estadao.com e gustavo.porto@estadao.com
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