Agronegócios
08/01/2018 10:45

Perspectiva: mercado de grãos deve continuar atento ao clima na América do Sul


São Paulo, 08/01/2018 - Investidores dos mercados futuros de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) devem ficar atentos nesta semana principalmente às previsões do tempo para a América do Sul. O clima na Argentina pode continuar quente e seco até a metade de janeiro, o que causa estresse às lavouras de soja e milho do país e a adição de um prêmio de risco climático às cotações na CBOT. A demanda por grãos e derivados também continua sendo observada. A semana deve ter ainda ajustes de posições antes do relatório de oferta e demanda que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgará na sexta-feira (12), e o desempenho do petróleo e do dólar segue no radar do mercado.

Os futuros de soja voltaram a subir na sexta-feira, após o recuo da véspera, e terminaram a semana com ganhos de 0,94%, considerando o vencimento mais líquido, março. O contrato março subiu 3 cents (0,31%) e fechou a US$ 9,7075/bushel. Segundo o analista Stefan Tomkiw, do Société Générale, o clima na Argentina voltou a dar suporte aos preços em Chicago, mas a valorização do farelo também sustentou o mercado. "Na sexta-feira, especificamente a razão maior foi o farelo, que acabou ajudando a dar um suporte bom para a soja", disse o analista. "Pode ser um pouco de reflexo do receio com o clima na Argentina, mas também estamos vendo uma demanda um pouco maior por farelo neste começo de ano." A maior procura pelo derivado é tanto doméstica quanto internacional, conforme o analista. Compras com base em aspectos técnicos contribuíram para os ganhos do farelo e da soja.

Na Argentina, apesar da previsão de chuvas mais fortes entre o meio e o fim de janeiro, o padrão atual é seco e quente, o que tem estressado as lavouras já semeadas e atrapalhado a conclusão do plantio. Segundo Tomkiw, a Argentina teve algumas precipitações na semana passada, mas a previsão para esta semana é de tempo mais seco. "Algumas chuvas ainda são necessárias. Pode ser que o mercado ainda queira se firmar um pouquinho nesse período em que as lavouras começam a entrar em desenvolvimento mesmo", disse o analista. "Não me surpreenderia se o mercado voltar a testar US$ 10/bushel na soja adicionando prêmios de clima por essa incerteza que ainda existe na região." A previsão é de que as condições mais secas na Argentina se estendam também para o Sul do Brasil.

Apesar da percepção de maior demanda por farelo, a procura por soja norte-americana no mercado internacional vem decepcionando. Os Estados Unidos venderam 554 mil toneladas do grão da safra 2017/18 na semana encerrada no dia 28 de dezembro, mais curta devido ao feriado de Natal, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). O número, o menor para o ano comercial, representa uma queda de 43% ante a semana anterior e 64% ante a média das quatro semanas anteriores. Para 2018/2019, as vendas totalizaram 6,8 mil toneladas. A soma das duas safras ficou dentro da estimativa de analistas consultados pela Dow Jones, que esperavam de 400 mil a 1,3 milhão de toneladas. Nesta sexta-feira (12), o USDA pode revisar para baixo a sua previsão de exportação dos EUA no relatório de oferta e demanda de janeiro. Segundo Tomkiw, investidores devem ficar atentos também às projeções do USDA para a safra sul-americana, mas não são esperados grandes ajustes.

Quanto ao milho, os futuros fecharam perto da estabilidade na sexta-feira na CBOT. Preocupações com o clima na Argentina influenciaram os negócios, mas foram contrabalançadas por números de vendas externas dos Estados Unidos abaixo da expectativa. O vencimento março ganhou 0,25 cent (0,07%), para US$ 3,5125 por bushel. Na semana, a alta foi de 0,14%. A meteorologia prevê algumas chuvas para áreas de cultivo da Argentina na metade de janeiro, mas o clima mais quente e seco do que o normal no país vem reduzindo a umidade do solo em áreas produtoras. Na sexta-feira, o USDA disse que exportadores dos EUA venderam 101.200 toneladas de milho da safra 2017/18 na semana passada. O resultado representa queda de 92% ante a semana anterior e de 91% na comparação com a média das quatro semanas anteriores. O número veio bem abaixo do piso das estimativas do mercado, de 600 mil toneladas. Analistas estão cada vez mais céticos de que as projeções atuais de exportação do governo norte-americano serão alcançadas. O enfraquecimento do petróleo, que diminui a competitividade relativa do etanol, também pesou sobre as cotações do cereal.

O trigo terminou em baixa na sexta-feira, refletindo fracas vendas externas dos EUA. Segundo o USDA, exportadores venderam 131 mil toneladas de trigo da safra 2017/18 na semana passada. O volume é o menor para o ano comercial e representa queda de 72% na comparação com a semana anterior e de 76% ante as quatro semanas anteriores. Analistas esperavam vendas de pelo menos 250 mil toneladas. A competitividade das exportações norte-americanas tem sido observada com atenção pelos traders nos últimos meses. Quanto ao clima nos EUA, a expectativa era de um padrão mais moderado durante os próximos dias no sul das Grandes Planícies, sem episódios de frio extremo. Na CBOT, o trigo para março recuou 3,25 cents (0,75%) e fechou em US$ 4,3075 por bushel. A alta acumulada na semana foi de 0,88%.

Café: Mercado deve continuar de olho no dólar
Na primeira semana de 2018, mais curta por causa do feriado de 1º de janeiro, o mercado físico brasileiro de café trabalhou pouco, informa o Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), em boletim semanal. A bolsa de Nova York, depois de operar a última semana de 2017 com boas altas (os contratos de café com vencimento em março próximo na ICE acumularam 580 pontos de alta), fechou no dia 2 de janeiro, primeiro dia útil do ano, com 400 pontos de alta, dando a impressão que a primeira semana do novo ano seria firme no mercado físico brasileiro.

No entanto, "o forte recuo do dólar frente ao real, mais de 2% de baixa na semana, acabou prejudicando o bom andamento do mercado físico", observa Carvalhaes. Em Nova York, os contratos de café para março acumularam mais 225 pontos de alta na semana passada. No Brasil, as ofertas em reais, apesar de um pouco mais altas, não refletiram a boa alta de 825 pontos em duas semanas, a última de 2017 e a primeira de 2018. Sem preços melhores em reais, os negócios fechados foram poucos.

Segundo Carvalhaes, há muita especulação sobre o mercado de café em 2018. Os “chutes” sobre o tamanho da nova safra brasileira aparecem de todos os lados. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) deve divulgar neste mês de janeiro sua primeira estimativa. Sem estoques governamentais e em ano safra de ciclo baixo, a necessidade de café no primeiro semestre de 2018, para cumprir embarques e atender o consumo interno, deverá ficar ao redor de 15,3 milhões de sacas para a exportação (mesma média mensal de 2017) e 11 milhões de sacas para o consumo interno. Portanto, o País precisará de aproximadamente 26,30 milhões de sacas até o fim de junho, quando terminará o ano safra 2017/18. "A pergunta é se neste início de janeiro existe nos armazéns brasileiros esse volume de café", questiona Carvalhaes.

Açúcar: Nova York deve se sustentar acima de 15 cents
O mercado futuro do açúcar demerara na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) começa a semana tentando se sustentar acima dos 15 cents por libra-peso nos primeiros vencimentos. Na sexta-feira (5) os contratos março, maio e julho de 2018 recuaram abaixo desse suporte durante o pregão por causa da fraqueza do petróleo, mas fecharam acima do patamar.

O março, o mais negociado, recuou 17 pontos (1,11%) e encerrou a 15,08 cents por libra-peso. Com queda de 14 pontos, o maio encerrou em 15,02 cents e o julho em 15,08, queda de 11 pontos no dia. Além do enfraquecimento do petróleo, movimentos técnicos de venda, principalmente de fundos, tiraram a força dos futuros do açúcar a partir da metade final de semana passada. As resistências estão em 15,39 cents e 15,50 cents.

Os fundos de investimento e especuladores reduziram pela metade suas apostas na queda dos preços açúcar na Bolsa de Nova York na semana encerrada na terça-feira (2), conforme mostrou na sexta-feira relatório da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês), com posicionamento de traders. Os fundos e especuladores passaram de uma posição líquida vendida de 84.419 lotes no dia 26 de dezembro para um saldo vendido de 42.805 lotes no dia 2 de janeiro.

(Leticia Pakulski, Tomas Okuda e Gustavo Porto - leticia.pakulski@estadao.com, tomas.okuda@estadao.com e gustavo.porto@estadao.com)
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