Agronegócios
16/07/2020 09:30

Algodão: vendedor dá preferência ao cumprimento de contratos; indústrias retomam compras


Por Leticia Pakulski

São Paulo, 15/07/2020 - Com boa parte do que restou da safra passada e dos novos lotes da safra 2019/20 sendo destinada ao cumprimento do contratos, a negociação de algodão no disponível é pontual. Em alguns casos, indústrias que ficaram longos períodos sem comprar por causa da pandemia do novo coronavírus voltaram ao mercado para repor estoques. O indicador Cepea/Esalq, com pagamento em 8 dias, subiu 0,66% na quarta-feira, para R$ 2,7315/lb. No mês, acumula alta de 0,76%.

Têm saído negócios principalmente de algodão de qualidade inferior, relatou o corretor Pedro Calgaro, da Algotêxtil. "Todo o algodão de qualidade padrão está sendo encaminhado para exportação", apontou. A preferência é por cumprir contratos fechados anteriormente, mas os negócios novos que vêm rodando saem por volta de 500 a 600 pontos abaixo do Esalq, direcionados para indústria. Ainda assim, Calgaro aponta que o ritmo segue lento, com negócios esporádicos. "Compradores estão bem retraídos. A grande maioria das indústrias ainda não voltou às suas atividades normais", disse. Carregamentos que atrasaram nos últimos meses estão sendo normalizados lentamente, segundo o corretor.

O corretor Ronald Lino, da Vitória, contou ter visto aceleração dos negócios em julho. Algumas indústrias retomaram operações com boas vendas em junho e precisaram receber contratos ou fazer novas compras de matéria-prima. Conforme o agente, houve um represamento da produção no período em que fábricas paralisaram atividades, e a demanda por vestuário, ainda que bastante reduzida, continuou em supermercados e comércio eletrônico. Ainda assim, ele destacou que nem todas as fábricas retomaram operações - algumas voltam só em agosto.

Além disso, a expectativa de pressão de venda com sobra da safra 2018/19 e entrada da nova safra não se confirmou, segundo Lino. Vendedores monitoram o ritmo de efetivação de contratos para exportação na expectativa de que o preço para negociação interna possa subir, considerando os atuais níveis de futuros e câmbio. Algodão fino, com bom HVI, estava sendo negociado nesta semana entre R$ 2,70 e R$ 2,75/lb no Sudeste e a R$ 2,82/lb no Nordeste.

Conforme balanço semanal da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais e da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão, os embarques ao exterior da fibra na segunda semana de julho totalizaram 21.460 toneladas, o que eleva as exportações no acumulado de 2020 para 863.379 toneladas.

Em Mato Grosso do Sul, a colheita está avançando, mas há pouco algodão já beneficiado, segundo Calgaro. Conforme o agente, é difícil dizer quando maior volume chegará ao mercado spot. "Quem tem algodão negociado a preço fixo provavelmente conseguiu níveis superiores aos do mercado atual. A tendência é produtor tentar entregar tudo o que pode."

Segundo estimativa do Instituto de Economia Agrícola (IEA/Apta), da Secretaria de Agricultura, é esperada queda na produção de algodão (-13,6%) em 2019/20 ante a safra anterior. Em Mato Grosso, maior produtor, a colheita atingiu 5,16% da área, um avanço de 2,93 pontos porcentuais na comparação semanal. A proporção de área já colhida é menor do que em igual período de 2019 (7,15%) e a média de cinco anos (10,19%). O nordeste do Estado e sudeste são as regiões mais adiantadas, com 20,10% e 6,51% da colheita concluída, respectivamente.

Para a negociação da safra 2020/21, não foram reportados negócios ou referências de compra e venda recentemente. "A perspectiva é de redução de área de plantio. Ainda é cedo para saber quanto, mas imagina-se de 20% a 25% de redução de área em Mato Grosso do Sul", disse Calgaro.

Segundo o Outlook Fiesp 2029, as exportações de algodão do Brasil devem atingir 3,3 milhões de toneladas em 2028/2029, o que representa um crescimento de 100% em relação à safra de 2018/2019. De acordo com o levantamento feito pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o Brasil tornou-se o segundo maior exportador de pluma em 2019, tendo a China como principal destino. Além do gigante asiático, Vietnã, Indonésia, Bangladesh e Turquia também vêm ganhando protagonismo na pauta de exportação brasileira, "o que mostra que o reconhecimento da qualidade da fibra nacional tem permitido ao país galgar espaços cada vez maiores no comércio global, tendência que deve ser mantida nos próximos anos". Com o consumo doméstico também em crescimento - as projeções são de um aumento de 20% no consumo interno no mesmo período -, a área plantada, a produção e a produtividade também deverão crescer até 2028/2029. As projeções são de crescimento de 31%, 54% e 17%, respectivamente.

Na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), os futuros de algodão fecharam em baixa nesta quarta-feira, pressionados por condições favoráveis ao desenvolvimento das lavouras no Delta do Mississippi. Segundo a empresa de meteorologia DTN, a previsão é de altas temperaturas e chuvas isoladas na região nesta semana. No entanto, a umidade do solo continua adequada por causa de chuvas anteriores, disse a DTN. O vencimento dezembro da pluma recuou 50 pontos (0,80%), para 62,13 cents por libra-peso. O USDA informou na segunda-feira que 44% da safra de algodão apresentava condição boa ou excelente, melhora de 1 ponto porcentual ante a semana anterior. O governo dos EUA disse que 63% da safra tinha florescido, ante 62% na média de cinco anos. Segundo o relatório, 18% da safra tinha formado maçãs, em comparação a 21% na média.

Na semana passada, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) reduziu a sua previsão para a produção doméstica de algodão de 19,50 milhões de fardos (4,25 milhões de toneladas) para 17,50 milhões de fardos (3,81 milhões de toneladas). Do lado da demanda, o USDA reduziu a previsão de exportações de 16 milhões de fardos (3,48 milhões de toneladas) para 15 milhões de fardos (3,27 milhões de toneladas). A expectativa para os estoques domésticos de algodão ao fim da temporada 2020/21 diminuiu de 8 milhões de fardos (1,74 milhão de toneladas) para 6,8 milhões de fardos (1,48 milhões de toneladas).

Contato: leticia.pakulski@estadao.com
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