Agronegócios
18/04/2024 08:05

CNA/Insper/Marcos Jank: precisamos de transparência e previsibilidade na relação Brasil-China


Por Leandro Silveira

São Paulo, 18/04/2024 - O conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e professor sênior de agronegócio do Insper, Marcos Jank, destacou a importância das relações com a China para o agronegócio do Brasil, mas também comentou sobre a necessidade de mais "transparência e previsibilidade". "Tivemos a habilitação de 38 frigoríficos recentemente (a exportar para a China), mas o sistema de habilitação ainda é pouco transparente", disse, ontem (17), durante a conferência "50 anos da relação Brasil-China: cooperação para um mundo sustentável", realizada pelo Cebri, em parceria com o National Top Think Tank e o Institute of Latin American Studies da Academia Chinesa de Ciências Sociais (CASS), na sede da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em Brasília (DF).

Jank também citou como exemplo o incremento de embarques de carne suína pelo Brasil para a China em 2020, quando o país asiático paralisou a produção em virtude de casos de peste suína africana, seguida pela queda nos embarques, quando o plantel local foi restabelecido. "Vimos essa falta de previsibilidade nos suínos. Achamos que a demanda ficaria sólida, mas não aconteceu. E aí os produtores brasileiros ficaram com os estoques elevados", afirmou.

O professor apontou que alguns fatores que afetam a macroeconomia, como o conflito no Oriente Médio e os processos eleitorais em vários países neste ano, com destaque para os Estados Unidos, podem causar efeito nos níveis de exportação, mas ponderou que o Brasil está longe do epicentro dos problemas políticos. "A eleição nos Estados Unidos preocupa, mas viramos o primeiro exportador para a China após a primeira eleição do (Donald) Trump", disse.

Na sua apresentação, Jank também ponderou que a desaceleração da economia chinesa afeta menos o agronegócio do que outros setores exportadores do País. "Nós complementamos com os produtos que a China precisa, como a carne e o açúcar", disse.

Já a diplomata do Ministério das Relações Exteriores (MRE) na embaixada do Brasil em Pequim, Leticia Frazão Leme avaliou durante os debates que a política de autossuficiência em grãos, carnes e sementes da China pode trazer impactos ao agronegócio exportador do País, mas também destacou que há limites nessa estratégia, inclusive pela escassez de áreas para produção agrícola, o que manterá o protagonismo dos produtores nacionais na relação comercial.

"A China é um parceiro que preferiria se apoiar no suprimento local, mas eles também são pragmáticos. As terras aráveis já estão ocupadas. No caso da soja, por exemplo, eles teriam de substituir culturas. Só assim produziriam mais", disse Frazão Leme.

Em sua visão, o melhor caminho para o aumento da participação brasileira na pauta exportadora da China é a diversificação dos produtos. A diplomata citou o caso do milho, produto que aumentou a presença no país asiático, ocupando a parcela do mercado chinês que concentrava as compras dos Estados Unidos e da Ucrânia.

Em contrapartida, alertou para o risco de alguns produtos concentrarem seus embarques para a China, citando o caso da carne bovina. "A indústria nacional de carne bovina chegou a ter 72% das exportações para a China. Isso é um risco. Setores que estão assim podem se tornar perdedores", afirmou.

A diretora de relações internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Sueme Mori, avaliou durante o encontro que o País precisa trabalhar para ampliar o número de produtos exportados com o intuito de aumentar as receitas obtidas com embarques, tornando-os mais diversificados. "Os desafios são a abertura de mercados e o aumento da base exportadora. Se você abre um mercado, mas não está preparado para atendê-lo, não adianta nada", destacou.

Mori avaliou que o Brasil tem uma baixa cultura exportadora e citou como argumento o fato de o País só ter 25 mil empresas que embarcam seus produtos ao exterior. "Nós fazemos de tudo. No caso das frutas, só exportamos 3% das que produzimos no Brasil", observou. "A pauta exportadora não reflete a diversidade da nossa produção agropecuária", acrescentou.

Em referência à China e às oportunidades no país, a diretora de relações internacionais da CNA citou o crescimento recente da exportação de café brasileiro, com alta de, aproximadamente, 270% de 2022 para 2023. Assim, apontou a importância de se descobrir oportunidades. "O trabalho de promoção dos produtos é importante, mas está no fim do elo da exportação. Para fazer diferença, temos de trabalhar na identificação das oportunidades", concluiu.

Contato: leandro.silveira@estadao.com
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