Agronegócios
10/08/2021 06:53

Soja: Corteva lança biotecnologia tolerante a herbicidas e aguarda UE sobre concorrente de Intacta


Por Clarice Couto e Leticia Pakulski

São Paulo, 10/08/2021 - A Corteva, gigante de agroquímicos e sementes que até 2019 era uma divisão agrícola da DowDuPont, faz o lançamento comercial nesta terça-feira (10) de sua primeira biotecnologia proprietária voltada ao mercado de soja. O sistema Enlist abrange variedades de soja Enlist E3, dois herbicidas já comercializados pela empresa (Enlist Colex-D, novo 2,4-D sal colina, e Enlist Duo Colex-D, mistura pronta de 2,4-D sal colina + glifosato sal dimetilamina) e um conjunto de boas práticas agrícolas. A companhia anuncia também hoje a soja transgênica Conkesta E3, cujas variedades serão tolerantes não apenas a três herbicidas (Enlist Colex-D, Enlist Duo Colex-Dv e glufosinato de amônio), tal qual a soja Enlist E3, como também a duas proteínas Bt relacionadas às principais lagartas que atacam lavouras de soja. A comercialização da Conkesta, desenvolvida para o mercado brasileiro, é esperada ainda para 2021, mas só terá início efetivo a partir da aprovação pela União Europeia (UE) da importação de variedades com a tecnologia.

"A grande base do sistema Enlist é trazer outra opção ao mercado brasileiro. Até então havia uma única empresa que atendia o mercado com biotecnologia para a soja e, agora, vamos trazer essa liberdade de escolha ao agricultor", disse em entrevista ao Broadcast Agro o presidente da Corteva para Brasil e Paraguai, Roberto Hun, referindo-se às sementes de soja com biotecnologias Intacta desenvolvidas pela Monsanto e hoje controladas pela Bayer.

Para a safra 2021/22, estarão disponíveis para comercialização 14 variedades de soja do sistema, sendo 11 Conkesta E3 e três Enlist E3. De imediato, produtores brasileiros encontrarão no mercado as três variedades Enlist E3, das quais duas voltadas ao Centro-Oeste e uma ao Sul. As do Centro-Oeste atenderão, mais especificamente, o leste de Mato Grosso e regiões sul e centro de Goiás, enquanto a terceira se destinará a lavouras do Rio Grande do Sul e porção sul de Santa Catarina, de acordo com o líder da Tecnologia Enlist da Corteva Agriscience para Brasil e Paraguai, Christian Pflug. O custo da tecnologia será de R$ 134,80 por hectare.

Há grande expectativa da companhia de que o aval da UE à importação de variedades Conkesta E3, resistentes a diversas lagartas que atacam as lavouras do grão, saia ainda este ano. Tanto que 11 das 14 variedades previstas para esta primeira safra são de Conkesta. "O produtor brasileiro tem mais interesse nas variedades Bt (caso da Conkesta), que conferem proteção contra lagartas, por isso, o maior número de variedades Bt", explicou Pflug, lembrando que esta tecnologia foi desenvolvida para o mercado brasileiro e não é utilizada nas lavouras norte-americanas, de clima mais frio.

"A análise já passou por todas as áreas técnicas, está no comitê da União Europeia e a gente acredita que a qualquer momento será liberado para uso dos agricultores brasileiros. Temos convicção de que será dentro de 2021 ainda, talvez não seja possível para regiões que plantam a soja mais cedo, mas algumas cultivam até novembro", afirmou Pflug. Para 2022, a Corteva planeja lançar 33 variedades de soja do sistema Enlist, das quais 24 Conkesta E3 e nove Enlist E3, para todas as grandes regiões do Brasil. Além disso, para a segunda safra de milho de 2023, a companhia pretende lançar também variedades de milho Enlist.

Lançadas há três anos nos Estados Unidos, as variedades de soja Enlist E3 ocupam hoje aproximadamente 35% da área plantada com soja no País. Hun atribui parte do bom resultado da companhia no segundo trimestre de 2021, cuja lucro de US$ 970 milhões superou em 27,6% o registrado em igual período do ano passado, à adoção da tecnologia no país. Na América do Norte, primeiro mercado da Corteva no mundo com cerca de 50% das vendas, o aumento da área plantada com soja trouxe um incremento de 7% das vendas de sementes da empresa, para US$ 3,1 bilhões. Esses e outros fatores levaram a companhia a aumentar seu guidance para 2021 para uma receita líquida entre US$ 15,2 bilhões e US$ 15,4 bilhões. A estimativa anterior era de vendas entre US$ 14,6 bilhões e US$ 14,8 bilhões.

"Um dos destaques do resultado (global) foi o nível de penetração do sistema Enlist no mercado norte-americano (35% da área). Isso serve como inspiração e confirmação da demanda dos produtores, que testaram, validaram e têm adotado rapidamente a tecnologia", afirmou Hun. "O Brasil já passou os Estados Unidos no mercado de soja, em termos de produção e exportação, e nossos investimentos no mercado local (brasileiro) se materializam em uma solução para os produtores e produtoras do Brasil", acrescentou o executivo, lembrando que dos mais de US$ 1 bilhão investidos globalmente pela Corteva a cada ano, US$ 200 milhões vão para suprir as demandas do mercado brasileiro.

Inicialmente, espera-se que a adoção do sistema Enlist no Brasil demore um pouco mais do que nos Estados Unidos. Hun e Pflug falam em um prazo de cinco a dez anos para que a área plantada com as tecnologias, aqui, alcance o nível de adoção atingido lá em três anos. O "delay", explica Pflug, tende a se dar porque nos Estados Unidos empresas de melhoramento genético tiveram mais tempo para desenvolver variedades de soja enquanto aguardavam a aprovação da biotecnologia por órgãos reguladores, entre 2016 e 2017.

"Lá já havia dezenas de variedades prontas no primeiro ano de comercialização (2018) e isso facilitou o acesso a muitos produtores. Aqui (pesquisa e desenvolvimento) começou um pouco depois e ainda tem de aguardar a União Europeia", disse Pflug. Ele lembrou que o desenvolvimento da biotecnologia Enlist começou com variedades para clima temperado e que para chegar a variedades tropicais, foram necessários mais dois a três anos.

Apesar disso, Pflug e Hun não descartam que o prazo de adoção da tecnologia no Brasil seja menor do que o estimado hoje. Entre os atributos destacados está o potencial aumento de produtividade obtido com variedades lançadas agora, de 2% a 5% sobre os rendimentos verificados com as variedades comerciais mais relevantes em cada região agrícola. Além disso, o herbicida 2,4-D, que até então era usado no Brasil apenas na pré-emergência e dessecação das plantas (fase inicial do ciclo produtivo), agora poderá ser aplicado também na pós-emergência, por meio dos herbicidas Colex-D. Isso porque as fórmulas têm componente (sal colina) que ajuda a reduzir em até 90% o potencial de deriva do produto e confere ultrabaixa volatilidade.

"Nós queremos realmente chegar (no estágio de adoção da tecnologia) nos Estados Unidos. Se a tecnologia cair na graça do produtor brasileiro, ela pode realmente chegar a esse patamar (de 35% da área de soja) mais cedo", afirmou Pflug, acrescentando que a partir de 2023 a expectativa é de um crescimento "exponencial" do número de variedades para as lavouras brasileiras. "Nos Estados Unidos, o nível de adoção superou as projeções iniciais (da empresa). Aqui (no Brasil) a adoção também pode ser mais rápida e surpreender as expectativas", reforçou Hun.

O sistema Enlist deve impulsionar, além disso, as vendas de defensivos agrícolas da Corteva no Brasil, de acordo com Pflug. Em todo o mundo, a comercialização de herbicidas ligados ao Enlist somou mais de US$ 100 milhões na safra 2020/21, uma alta de 76% ante o ano passado, "basicamente nos Estados Unidos", segundo Hun. "As vendas ainda são bem pequenas hoje (dos herbicidas do sistema) no Brasil porque eles eram utilizados só na pré-emergência. Há expectativa de que o sistema impulsione os defensivos ao longo do ano", acrescentou.

A tecnologia Enlist já foi licenciada para as principais empresas de melhoramento genético de sementes, como GDM (dona das marcas Brasmax e Don Mario), Nidera, TMG, HO Genética e Syngenta. As sementes Enlist E3 serão comercializadas, ainda, com as marcas próprias da Corteva: Brevant Sementes, Pioneer e Cordius. Nas próximas semanas, estas empresas devem formalizar contratos com os multiplicadores de sementes. Pflug disse não haver previsão, ainda, da área de soja a ser cultivada com o sistema Enlist na safra 2021/22, algo que, afirma ele, dependerá da demanda e do trabalho dos multiplicadores de sementes em produzir sementes comerciais. "Nossa intenção nesta safra é que os produtores tenham uma experiência completa. Não estamos muito preocupados com o tamanho da área cultivada", disso. Em 2020, as sementes de soja Enlist e Conkesta foram semeadas em mais de 400 áreas de teste no País, algumas com menos de um hectare, segundo Pflug.

A novidade também deve impulsionar a participação do Brasil nas vendas globais da Corteva. Hoje, ela representa dois terços das vendas da empresa na América Latina, que por sua vez tem uma participação de 20% nos negócios da companhia. O ritmo de crescimento do mercado agrícola nacional, de 4% a 5% ao ano, é maior do que o do mundo, de 3% a 3,5% ao ano, destaca Hun. "O Brasil tem expandido área com soja, enquanto nos Estados Unidos há uma limitação de área e também pela alta penetração das sementes Enlist", afirmou Hun.

Contato: clarice.couto@estadao.com e leticia.pakulski@estadao.com
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