Agronegócios
06/12/2022 08:35

Crédito rural: Cerc incorpora nova versão de melhoria na avaliação de riscos associados à CPR


Por Francisco Carlos de Assis

São Paulo, 06/12/2022 - Para atender mais uma demanda das instituições financeiras e bancos que atuam no crédito ao produtor rural, a Central de Recebíveis S.A. (Cerc) incorporou uma nova versão de melhorias no serviço de avaliação dos títulos de Cédulas de Produto Rural (CPR). Com isso, a registradora especializada em recebíveis passa a oferecer uma avaliação de risco associado ao ativo, sendo a única empresa do Brasil a oferecer esse serviço de avaliação.

O novo serviço, conforme explicou o CEO da Cerc, Fernando Fontes, consiste no acompanhamento e avaliação dos preços e das quantidades a serem colhidas pelo tomador rural de crédito e dar indicações diárias do valor das garantias dadas ao agente financeiro.

“Isso traz mais segurança na oferta de crédito para quem está financiando e mais transparência e informação sobre os credores para o mercado”, afirmou Fontes, acrescentando que o novo instrumento incorpora inclusive informações sobre clima já que intempéries climáticas podem causar impacto na produção agrícola e, por consequência, as garantias dadas pelo produtor ao agente financiador.

Em suma, reforça Fontes, a ideia por trás de todo esse processo é reduzir a assimetria da informação, uma vez que hoje em dia o tomador de crédito pode passar ao doador informações que ele, nem sempre, tem condições de confirmar. Além disso, tem a variação normal dos preços das commodities. Se um produtor oferece em garantia ao fornecedor em sacas de produto da sua futura colheita para cobrir um valor de R$ 500 mil, por exemplo, recebido em insumos, e o preço da commodity cai a R$ 400 mil, o fornecedor passa a conviver com o risco de insuficiência de garantia.

“Então a gente criou uma ferramenta que captura dados de preços de commodity com fontes oficiais e valoriza todos os dias esses recebíveis do agronegócio. Como eles estão precificados de acordo com o preço do produto, quantidade e não valor financeiro, a gente faz a conta de quantidade vezes o preço do dia e atualiza diariamente os participantes sobre qual o valor de garantia que eles têm. Com isso eles podem identificar se estão com algum problema de crédito com algum cliente ou não”, disse Fontes.

Histórico do mercado agropecuário
A Cerc foi fundada em 2015 por Fernando Fontes e Marcelo Maziero com o conceito de tentar fazer com que os recebíveis pudessem ser negociados com a mesma eficiência e segurança que se negocia, por exemplo, ações e outros instrumentos financeiros mais sofisticados. De acordo com Fontes, a visão e ambição da empresa era a de dar ao principal ativo das pequenas e médias empresas, que são as contas a receber, o mesmo status que é dado às empresas de grande porte, que conseguem emitir debêntures, captar dívida no exterior e emitir ações.

“Se a gente tinha um mercado de capital tão sofisticado para resolver a necessidade de capital de empresas de grande porte, que conseguem emitir debêntures, de captar dívida no exterior e emitir ações, por que não dar este mesmo status às pequenas e médias?”, questionaram lá em 2015 os dois executivos.

A ideia era conferir aos recebíveis, na sua maior parte de cartões de crédito, status parecido com o que tem os papéis do setor imobiliários e ações, por exemplo, e que pudessem ser usados como garantias, transferidos com uma tecnologia e uma regulação que dessem aos agentes financeiros o conforto que eles têm quando operam com papéis mais tradicionais.

Em meio a estas conversas, já em 2019, a Cerc passou a ter interações com o Ministério da Agricultura, com a equipe da ministra Teresa Cristina e com o José Ângelo, hoje secretário de Políticas Agrícolas da pasta. O ministério, segundo Fontes, entendia que no setor agropecuário existiam os mesmos problemas que havia no financeiro. Isso porque o número de CPRs de gavetas era muito grande e oferecia riscos para o crédito no setor já que ninguém sabia o tamanho deste nicho de negócios, que não contava com as auditoria e regulação do Banco Central (BC).

A questão é que, ainda que haja bancos fazendo crédito rural, um grande pedaço do financiamento do produtor vem do segmento da produção. “Você tem ali a revenda dando prazo para o produtor pagar, tem as tradings, têm as cooperativas de produção, ou seja, um ecossistema que não está subordinado ao BC e que gera muito crédito a um produtor rural que compromete muito da safra, da capacidade produtiva dele com essas entidades da produção”, observa o CEO da Cerc.

Ocorre, de acordo com ele, que ninguém sabe o tamanho desse negócio, se o produtor rural já utilizou a safra dele mais de uma vez porque esse negócio era no papel e ficava na gaveta da revenda.

“Ai o Ministério da Agricultura, com apoio da CNA, FPA [Frente Parlamentar da Agricultura] e um processo de tramitação de uma MP em 2019, que acabou sendo convertida em lei, resolveu criar um conceito que os títulos e os recebíveis do agronegócio também fossem de registro obrigatório em registradoras autorizadas pelo BC. Então a ideia era de que tudo o que estava engavetado e que dependia de papel pudesse ser desmaterializado, pudesse ser digital e existir em sistemas autorizados pelo BC, o que eliminaria também a questão da assimetria da informação”, disse Fontes.

Hoje tem duas entidades no Brasil fazendo esse processo: CERC e B3. “Somos concorrentes na oferta desse sistema de registro para todo o mundo financeiro e a produção que precisam fazer operações com produtor”.

O mercado cresceu muito em recebíveis do agronegócio. Dados do Ministério da Agricultura consolidando os dados da Cerc e da B3 mostram que as duas têm mais de R$ 200 bilhões só com CPR, vindos de R$ 17 bilhões há três anos. A projeção do Ministério da Agricultura aponta para uma expansão desse valor para R$ 1 trilhão nos próximos cinco anos.

Contato: francisco.assis@estadao.com
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