Agronegócios
12/06/2020 09:36

Boi: Grupo de Trabalho reúne ONGs e indústria para monitorar fornecimento indireto


Por Tânia Rabello e Ariosto Mesquita, especial para a Agência Estado

São Paulo e Campo Grande, 12/06/2020 - Para estimular os frigoríficos que aderiram ao Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) ou ao Compromisso Público da Pecuária (CPP) ou, ainda detêm sistema próprio de rastreabilidade, a monitorarem 100% de sua cadeia de fornecedores de bovinos, a ONG Amigos da Terra criou o Grupo de Trabalho sobre Fornecedores Indiretos (de gado de corte), o GTFI. "Ele se reúne pelo menos uma vez por ano para trocar ideias e desenvolver mecanismos de monitoramento de fornecedores indiretos", explica o diretor executivo da Amigos da Terra, Mauro Armelin.

Segundo ele, o grupo tem conversado com frigoríficos sobre o tema e, recentemente, começou a atuar junto às empresas Marfrig e Minerva. "Este ano vamos começar a testar em uma planta de cada um desses frigoríficos um sistema alternativo de monitoramento de fornecedores indiretos de gado", contou ao Broadcast Agro.

A Marfrig, embora não tenha aderido ao TAC da Carne no Pará, de acordo com o estudo da Amigos da Terra, confirma a informação da própria ONG, com a qual estabeleceu parceria, "no sentido de melhorar e detalhar as informações sobre fornecedores indiretos". "Neste contexto, estamos desenvolvendo um piloto para a aplicação do Visipec (um sistema de monitoramento das cadeias de fornecimento da pecuária brasileira que visa melhorar a rastreabilidade e fortalecer o monitoramento do desmatamento, desenvolvido pela Universidade de Wisconsin, nos EUA)."

O novo sistema de monitoramento começou este ano e deve passar pelas adaptações necessárias até 2021, disse a Marfrig ao Broadcast Agro. "A ideia é identificar os municípios com maiores propensões de desmatamento e trabalhar com eventuais fornecedores indiretos que estejam lá dentro, definindo as informações que tenho de buscar junto a ele", conta o gerente de Sustentabilidade da companhia, Leonel Almeida. Este "piloto" vem sendo aplicado em unidades na Amazônia e no Cerrado (ele não revela em quantas e quais). Ao todo, segundo o executivo, a empresa possui quatro unidades de abate na Amazônia e cinco no Cerrado.

A Marfrig abate hoje perto de 2,5 milhões de cabeças/ano. Almeida garante, que, deste volume, 45% são provenientes da Amazônia, onde possui mais de 17.000 produtores em sua base de dados (perto de 3.500 impedidos de comercializar com a empresa por causa de irregularidades socioambientais). "Quase metade das fazendas, ou 47%, que nos atendem neste bioma é de ciclo completo (cria, recria e engorda). Dessas propriedades, portanto, tenho informações sobre a origem dos animais que nos entregam, pois possuem rebanho próprio. O problema surge com a outra metade. Esses 53% tenho dificuldade em saber de onde os animais que abatemos vieram antes da fazenda de engorda", admite o gerente.

Este limitador foi amenizado a partir de 2013, quando a empresa passou a adotar a ferramenta RFI (Request for Information) por meio da qual os pecuaristas que fornecem gado adquirido de terceiros devem informar, em uma espécie de questionário, a origem dos bovinos, preenchendo dados como nome da propriedade, do proprietário, CNPJ ou CPF, do município, do Estado, etc. As informações são cruzadas com as listas de irregularidades de órgãos como Ibama, por exemplo. Com a iniciativa, o frigorífico ampliou de 50% para perto de 65% a quantidade de animais com origem identificada desde o nascimento.

Com o novo mecanismo, a expectativa da Marfrig, informa Almeida, é validar, refutar ou melhorar a nova ferramenta até 2021 e iniciar, a partir daí, uma varredura com o objetivo de atingir 100% de mapeamento de seus fornecedores, zerando qualquer risco em adquirir animais originários de áreas de desmatamento. A ideia, segundo ele, é utilizar o modelo também em outras regiões do Brasil.

Outro avanço, comenta ele, é a adoção do Protocolo de Monitoramento de Fornecedores de Gado da Amazônia. "A partir de 1º de julho passa a ser referência para toda a cadeia", observa. O documento (que pode ser baixado via link https://www.boinalinha.org/publicacoes) atinge todos os signatários do Termos de Ajustamento de Conduta (TAC) da Pecuária (Pará), do TAC da Carne Legal (Amazônia Legal) e do Compromisso Público da Pecuária (bioma Amazônia), no caso, as empresas frigoríficas e as de varejo. Ele está estruturado em 11 critérios: cinco monitoráveis por análises geoespaciais, dois por análises de listas públicas oficiais, três por análises de documentos e um por análise de produtividade do fornecedor.

A Minerva Foods confirmou ao Broadcast Agro que faz parte do Grupo de Trabalho de Fornecedores Indiretos, liderada pelas ONGs Amigos da Terra e National Wildlife Federation (NWF), grupo que reúne "diversos atores da cadeia produtiva, entre indústrias, varejo, ONGs e associações de classe". A companhia diz, entretanto, considerar que não há dados e estatísticas acessíveis e confiáveis sobre a cadeia de rastreabilidade completa de gado para determinar o número de fornecedores indiretos no Brasil. Diante disso, não apresentou estimativa sobre a parcela representativa destes animais em seus abates.

Informou, também, que trabalha na possível adoção "exclusiva" de uma alternativa que prevê o cruzamento eletrônico de guias de trânsito animal (GTAs) - documento obrigatório, que deve acompanhar o transporte de animais vivos. Neste sentido, está avaliando o uso da ferramenta Visipec. "A análise proposta pelo sistema pode auxiliar na definição de estratégias para mitigação de riscos de irregularidades de fornecedores indiretos", considera o documento. A empresa, segundo informação de sua assessoria de imprensa, registrou um abate médio de 1,7 milhão de cabeças nos últimos 12 meses (até 31 de março de 2020).

Contato: tania.rabello@estadao.com

P
Para ver esta notícia sem o delay assine o Broadcast Agro e veja todos os conteúdos em tempo real.

Copyright © 2024 - Todos os direitos reservados para o Grupo Estado.

As notícias e cotações deste site possuem delay de 15 minutos.
Termos de uso