Agronegócios
28/01/2020 11:14

Carne bovina: exportação desacelera em janeiro ante dezembro mas deve superar resultado de Jan/19


Por Nayara Figueiredo

São Paulo, 27/01/2020 - As exportações de carne bovina in natura recuaram 23% na parcial de janeiro em relação à média diária de embarques observada em dezembro, mostram dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia. A análise divulgada nesta segunda-feira (27) considera quatro semanas do mês, com 17 dias úteis. Apesar da queda na variação mensal, a consultoria Agrifatto calcula que o País pode fechar janeiro com um volume total de embarques entre 115 mil e 120 mil toneladas, que, se confirmado, representará alta de 12% a 17% ante janeiro/19, quando foram comercializadas 102,4 mil toneladas.

Até o momento, a média diária dos embarques de janeiro alcançou 5,4 mil ante a média de 7,1 mil toneladas registrada em dezembro. No comparativo anual, porém, a média atual é 15% superior às 4,7 mil toneladas de janeiro/19. No acumulado deste mês, o País enviou 92,5 mil toneladas da proteína ao exterior e obteve faturamento de US$ 458,3 milhões.

De acordo com analistas ouvidos pelo Broadcast Agro, a China responde tanto pelo recuo nas vendas de janeiro ante dezembro quanto pela alta em relação ao início do ano anterior. A INTL FCStone explica que o governo chinês optou pela liberação de reservas internas da proteína na tentativa de controlar a inflação dos alimentos no país. Soma-se a isso a alta importação no fim de 2019. "Nós temos neste instante um estoque de proteína animal na China, o que reduz de certa forma o apetite do gigante asiático por compras muito elevadas", afirma a consultoria.

No entanto, apesar da desaceleração nas compras, o analista da Agrifatto Gustavo Machado destaca a grande necessidade da China por carnes, se comparada ao cenário de janeiro de 2019, por causa da extensão da peste suína africana (PSA). "O problema e os riscos causados pela PSA seguem presentes e continuarão ao longo de 2020", disse. Para ele, a liberação de reservas do governo chinês ainda não foi suficiente para reduzir os níveis de inflação de maneira significativa. "Precisam aumentar a oferta do produto para segurar a alta dos preços", acrescenta.

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) informou que 7.888.768 suínos foram eliminados em países asiáticos por causa da contaminação com a peste suína africana. A China tem a situação mais crítica, com 169 focos em 32 províncias, incluindo a região administrativa de Hong Kong. De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais do país, desde a identificação da doença 1,193 milhão de animais foram eliminados.

No ano passado, as importações chinesas de carnes e miúdos totalizaram 6,178 milhões de toneladas, conforme o Departamento de Alfândegas da China (GACC, na sigla em inglês). A despesa com a importação do produto atingiu US$ 19,251 bilhões, também no acumulado do ano. Somente em dezembro, o país asiático adquiriu 693.453 toneladas de proteína animal, volume 95,4% maior que o adquirido em igual mês do ano anterior.

Agora, com o surto do coronavírus na população chinesa, a FCStone alerta que o país pode demorar para efetuar novas compras de carne no mercado externo como um todo. Segundo a consultoria, a comercialização de proteína está sendo prejudicada, em especial nesta semana, devido a restrições no deslocamento da população e pelo cancelamento de eventos e cerimoniais do ano-novo lunar que iriam ocorrer.

Outros fatores que podem ter afetado o desempenho do Brasil nas exportações de janeiro ante dezembro estão relacionados ao Irã e Rússia. "Tivemos uma instabilidade geopolítica entre Irã e Estados Unidos, o que pode ter prejudicado o ritmo de vendas de carne destinado para o Oriente Médio. Além disso, o congelamento dos rios na Rússia impede a originação através dos portos no país", diz a FCStone.

Preços - Até a terceira semana de janeiro, os dados da Secex indicavam preço médio da tonelada da carne exportada pelo Brasil superior ao de dezembro. Já na análise mais recente, os valores cederam. O preço médio por tonelada ficou em US$ 4.956,54, queda de 1,84% em relação à média do mês anterior. No comparativo anual, porém, houve valorização de 32,22%.

Um interlocutor ligado à indústria do setor afirma que o patamar de preços atingido no fim de 2019 estava fora da normalidade e, portanto, já era esperado um recuo ao longo de janeiro. "A tendência é que o movimento de alta seja disseminado", diz. Em dezembro, a tonelada da carne bovina chegou a ser comercializada a US$ 5.049,70,o que levou a diversos pedidos de renegociação de contratos por importadores chineses.

Contato: nayara.figueiredo@estadao.com
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