Agronegócios
25/02/2019 10:20

Perspectiva: mercado de grãos deve avaliar resultado das negociações entre EUA e China


São Paulo, 25/02/2019 - Investidores do mercado futuro de soja na Bolsa de Chicago (CBOT) devem começar a semana repercutindo os resultados da última rodada de negociação entre Estados Unidos e China, com a extensão de prazo da trégua comercial entre os dois países. Traders aguardam agora possíveis reportes de venda de soja norte-americana para a China. O mercado também segue atento à safra sul-americana e às perspectivas de plantio para a safra 2019/20 nos EUA.

Os futuros de soja fecharam em baixa na sexta-feira. O vencimento maio da oleaginosa cedeu 0,50 cent (0,05%), para US$ 9,2375 por bushel. Na semana, o ganho foi de 0,24%. Segundo o analista João Paulo Schaffer, o mercado fechou perto da estabilidade na sexta-feira no aguardo de novidades sobre a rodada de negociações em Washington. Notícias sobre avanço das discussões chegaram a dar algum fôlego aos preços no fim da semana passada, "mas a ausência de novidades levou ao movimento de queda", segundo Schaffer. As declarações de autoridades foram feitas após o fechamento do mercado e durante o fim de semana. Já era esperada uma extensão no período de trégua comercial entre os dois países até uma possível reunião entre Trump e Xi em março.

No fim da tarde de sexta-feira, a China se comprometeu a comprar mais 10 milhões de toneladas de soja dos EUA, informou o secretário de Agricultura dos EUA, Sonny Perdue, pelo Twitter. Segundo a publicação, o compromisso foi firmado durante reunião no Salão Oval da Casa Branca na sexta-feira. "Parabéns ao presidente dos EUA por trazer a China à mesa (de negociação). A estratégia está funcionando", escreveu Perdue, acrescentando que isso é um sinal de boa vontade da China e há indicações de que mais notícias boas estão por vir.

No domingo, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que planeja postergar o início da cobrança de tarifas de importação sobre produtos chineses prevista para iniciar no começo de março, enquanto as duas maiores potências econômicas do globo discutem sobre como encerrar a disputa comercial que já se arrasta há meses entre as partes. No Twitter, Trump avaliou que estão sendo feitos "progressos substanciais" nas negociações bilaterais. Também é aguardada uma reunião de cúpula entre ele e Xi Jinping.

O mercado espera ainda projeções de consultorias sobre a nova safra dos EUA. Na sexta-feira, o Departamento de Agricultura do país (USDA) projetou durante o Fórum de Perspectivas Agrícolas a produção norte-americana em 4,175 bilhões de bushels (113,6 milhões de toneladas), queda de 8,12% ante o ano-safra anterior. Já as exportações dos EUA na temporada 2019/20 devem somar 2,025 bilhões de bushels (55,12 milhões de toneladas), um aumento de 8% ante o ciclo anterior. O USDA observou, porém, que essa estimativa será ajustada caso EUA e China assinem um acordo comercial. Os estoques da oleaginosa nos EUA devem recuar 7,14%, para 845 milhões de bushels (22,9 milhões de toneladas) ao fim de 2019/20, disse o USDA.

Separadamente, em seu relatório de vendas externas o USDA disse que exportadores venderam quase 7 milhões de toneladas de soja no período entre 4 de janeiro e 14 de fevereiro. No período, o principal comprador foi a China (3,922 milhões de t). "O relatório trouxe uma boa mudança. O ritmo de contratações da safra dos EUA, que estava 12 milhões de toneladas atrás da temporada anterior, agora está 8 milhões de toneladas abaixo", disse Schaffer. "Mas, ainda assim, as vendas foram aquém do esperado pelo mercado."

Quanto ao milho,os futuros fecharam perto da estabilidade na sexta-feira na CBOT. Após o ganhos de mais de 1% da véspera, investidores evitaram assumir grandes posições no aguardo do resultado das negociações comerciais entre EUA e China em Washington. O vencimento maio do milho ganhou 0,25 cent (0,07%), para US$ 3,8450 por bushel. A alta semanal foi de 0,46%. Estimativas de produção divulgadas mais cedo não tiveram impacto sobre os negócios. Segundo o USDA, produtores do país devem colher 14,890 bilhões de bushels (378,2 milhões de toneladas) na temporada 2019/20, aumento de 3,25% ante o ciclo anterior. O USDA disse também que os estoques domésticos devem recuar 4,8%, para 1,65 bilhão de bushels (41,9 milhões toneladas). Em relatório separado, o departamento disse que as vendas norte-americanas do grão entre 4 de janeiro e 14 de fevereiro totalizaram 6,086 milhões de toneladas.

O trigo negociado na CBOT terminou em leve alta na sexta-feira. Compras de oportunidade continuaram dando suporte às cotações, após os preços terem caído em quatro das cinco sessões anteriores e acumulado perda de mais de 6% no período. Na sexta-feira, o USDA divulgou estimativas de produção, estoques e exportações em 2019/20, mas os números não tiveram grande impacto sobre os preços. Durante o Fórum de Perspectivas Agrícolas, o departamento disse que a produção doméstica deve aumentar 0,95% ante 2018/19, para 1,902 bilhão de bushels (51,769 milhões de toneladas). Os estoques finais foram estimados em 944 milhões de bushels (25,694 milhões de toneladas), queda de 6,53%. O USDA apontou ainda que as exportações em 2019/20 devem chegar a 975 milhões de bushels (26,537 milhões de toneladas), redução de 2,5% ante o ciclo anterior. Na CBOT, o vencimento maio do trigo ganhou 0,75 cent (0,15%) e fechou em US$ 4,9175 por bushel. A queda na semana foi de 3,01%.

Café: contratos caem 1,6% na semana
Os contratos futuros de café arábica apresentaram desvalorização de cerca de 1,6% (165 pontos) na semana passada na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), base vencimento maio de 2019. As cotações encerraram na sexta-feira (22), a 100 centavos de dólar por libra-peso. No período, os contratos marcaram máxima de 102,45 cents (sexta, dia 15) e mínima de 99,20 cents (quinta, dia 21).

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), destaca em boletim semanal Destaca que o ambiente no mercado físico brasileiro é de desânimo. "As bases de preço são baixas e apenas lotes de café arábica de melhor qualidade foram comercializados na faixa dos R$ 400,00 ou um pouco acima", informa Carvalhaes, considerando que, nos preços atuais nem os cafeicultores mais eficientes, com alta produtividade por hectare e instalados em regiões com clima privilegiado, conseguem ter lucro.

Saindo de anos de safra ruim por causa das secas que assolaram os cafezais nos últimos anos, os produtores tiveram uma boa safra em 2018 e assim esperavam começar a recuperar os prejuízos. Mas assistiram os preços do café recuarem, enquanto subiam os custos dos principais insumos de produção. "Em 2018 subiram forte os preços dos fertilizantes, defensivos, combustíveis, transportes e energia elétrica", comenta Carvalhaes.

Apesar dos baixos preços baixos, acabam saindo negócios todos os dias. Os compradores reclamam da dificuldade de encontrar vendedores nas bases de preço que oferecem. "Os produtores sempre aguardam até o último momento para vender, na esperança de uma reação das cotações em Nova York que diminua o tamanho de seus prejuízos", explica Carvalhaes.

Açúcar: mercado continua de olho em dados macroeconômicos
O mercado futuro do açúcar demerara na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) segue dependente do cenário macroeconômico, com petróleo e dólar no radar, enquanto os fundamentos da nova safra brasileira estão indefinidos. Os efeitos da estiagem de dezembro e janeiro e as das chuvas abundantes em fevereiro não foram medidos. Outro fator que influenciará o mercado é qual será a fatia do processamento de cana-de-açúcar destinada pelas companhias do Centro-Sul do País à produção de açúcar em 2019/2020.

Com a ajuda de petróleo em alta e dólar em queda, os contratos mais líquidos se recuperaram na sexta-feira. Negociado até quinta-feira, o março avançou 13 pontos, para 13,37 cents por libra-peso, e não chegou perto da primeira resistência, de 13,50 cents. O vencimento maio subiu 10 pontos, ou 0,76%, e terminou em 13,30 cents. O volume de entrega no contrato março deve sinalizar a disponibilidade da commodity no curto prazo.

Segundo a consultoria Datagro, os estoques no Centro-Sul do Brasil estão enxutos após um ano de produção do máximo possível de etanol e dos preços baixos do açúcar. Os estoques atingiram 5,113 milhões de toneladas ao fim de janeiro, queda de 24% sobre igual período de 2018. A Datagro estima que o estoque de passagem para a safra 2019/2020, em 31 de março, será de 1,961 milhão de toneladas, queda de 36,6% ante o total de 3,092 milhões de toneladas na mesma data do ano passado.

(Leticia Pakulski, Tomas Okuda e Gustavo Porto - leticia.pakulski@estadao.com, tomas.okuda@estadao.com e gustavo.porto@estadao.com)
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