Agronegócios
28/06/2024 16:26

Entrevista/FMC/Renato Guimarães: safra 2024/25 virá muito mais forte do que o mercado espera


Por Audryn Karolyne

São Paulo, 28/06/2024 - Após passar por uma importante reestruturação de cargos, tanto no Brasil como globalmente, a norte-americana FMC espera um 2024 de "normalidade", especialmente no Brasil, diz o presidente e vice-presidente da empresa na América Latina, Renato Guimarães, em entrevista ao Broadcast Agro. O próprio executivo foi parte desta reestruturação, que começou em meados de 2023 e se encerrou no primeiro trimestre de 2024. Ele assumiu o cargo em 1º de abril deste ano. Também houve trocas, entre outros postos, do CEO global, cargo agora ocupado por Pierre Broundeau, e da presidência da FMC Corporation, com o brasileiro Ronaldo Pereira nomeado para o posto. Guimarães conta que a reestruturação ocorreu em "um ano difícil", de excesso de estoques de insumos e preços baixos de commodities agrícolas. Agora, arrumada a casa, ele avalia que, embora a safra 2024/25, que se inicia oficialmente em 1º de julho, seja "de transição", caminha para a normalidade, com estoques mais ajustados. E mantém o otimismo, lembrando que, mesmo em cenários adversos, o produtor sempre terá necessidade de uso de tecnologia e inovação. Acredita também que a safra 2024/25 "virá muito mais forte" do que o mercado está calculando. "É nisso que a FMC está se pautando, em uma agenda de inovação e de novos produtos que se consolidarão com força em 2024", pontua. Atualmente, o Brasil representa entre 70% e 80% das vendas da FMC na América Latina. No mais recente balanço da empresa, relativo ao primeiro trimestre de 2024, o faturamento global foi de US$ 918 milhões, sendo que, no fechamento do ano, a expectativa é alcançar até US$ 4,7 bilhões. "O cenário, aqui, é de recuperação de preços agrícolas, com um agricultor com mais apetite para investir em tecnologia." Outro ponto importante e que mantém a FMC antenada nas novas tendências é o investimento em biológicos. Guimarães diz que a empresa pretende, em dez anos, liderar o mercado global do segmento. Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista:


Broadcast Agro - Em dezembro do ano passado, a FMC anunciou um plano de reestruturação global em resposta ao encolhimento do mercado de defensivos agrícolas. Como está o andamento desse plano? Os estoques, antes excessivos, já estão alinhados com a demanda e os preços atuais das commodities agrícolas, mais baixos?

Renato Guimarães
- A FMC iniciou o processo de reestruturação na metade do ano passado, quando enxergou globalmente que o mercado estava em um ano mais difícil, por causa principalmente do nível excessivo de estoques. A reestruturação foi finalizada no primeiro trimestre de 2024. A partir de agora, avaliamos que a safra 2024/25, embora seja de transição, terá estoques muito menores, quando comparados com igual período de 2023. Ou seja, estamos indo para uma normalidade. Além disso, creio que a nova safra virá muito mais forte do que o mercado está planejando. E sou otimista porque o agricultor tem necessidade de uso de tecnologia e inovação. É nisso que a FMC está se pautando, em uma agenda de inovação e de novos produtos que foram lançados em 2023 e estão se consolidando com muita força em 2024.

Broadcast Agro - Depois de um ano de 2023 de ajustes, como a empresa vê 2024? A recuperação do mercado de defensivos já começa em setembro, com o início do plantio da safra 2024/25?

Guimarães
- O ano de 2023 foi difícil para toda a indústria. Foi um período no qual nós vimos queda nos preços das commodities e dos insumos de forma geral, com um nível excessivo de estoques. Mas grande parte desses estoques que estavam na mão dos distribuidores foi equacionada durante a safra 2023/24, o que resultou em menor desempenho de vendas em relação a 2022/23. Agora, para 2024/25, as expectativas são muito boas. Ainda é um ano de transição, mas bastante favorável para a agricultura brasileira e, consequentemente, para a gente crescer. Certamente teremos maior uso da tecnologia na busca por produtividade. Mesmo que o agricultor brasileiro não busque aumentar a área plantada, buscará aumentar sua produtividade. E é aí onde a FMC se insere.

Broadcast Agro - Então o agricultor estará mais disposto a investir?

Guimarães
- Eu vejo o cenário de um agricultor investindo na área que tem. O (fenômeno climático) La Niña deve favorecer a agricultura brasileira, principalmente o Cerrado, que sofreu com as condições climáticas do ano passado. Isso faz com que o agricultor busque produzir mais usando tecnologia em uma mesma área. Os níveis de produtividade da soja precisam crescer novamente e isso só vai acontecer a partir de um complexo de condições climáticas adequadas, aliadas ao uso de tecnologia. Mesmo com os preços de commodities não tão bons como na safra 2022/23, na atual safra, 2023/24, você tem a produtividade fazendo a diferença.

Broadcast Agro - Quais são os planos da FMC para a América Latina? E para o Brasil?

Guimarães
- A FMC está muito otimista com os seus planos. Vamos lançar mais 40 ingredientes ativos e 50 produtos comerciais nos próximos dez anos na área de agroquímicos e biológicos. Estamos colocando um grande esforço nos lançamentos da nossa área de Plant Health, de biológicos. Nossa expectativa é a de que esse mercado na América Latina e no Brasil cresça. Além disso, queremos crescer e liderar o mercado de biológicos nos próximos dez anos, globalmente falando. Em termos porcentuais, a FMC é a empresa que mais investe em pesquisa e desenvolvimento, com 6% do faturamento.

Broadcast Agro - Qual o porcentual de uso de biológicos no Brasil atualmente? Existe uma projeção do quanto este mercado deve crescer?

Guimarães
- O mercado de biológicos vem consistentemente crescendo na casa de dois dígitos, entre 10% e 20% por ano. Nossa expectativa é a de que possamos liderar esse segmento e sermos pioneiros no futuro. Esse objetivo passa por todo um desenvolvimento, inovação e lançamento de produtos e por parcerias estratégicas em nível global e local. Também anunciamos a chegada de uma equipe de colaboradores para tocar esse negócio de biológicos dentro da FMC. São entre US$ 300 milhões e R$ 350 milhões investidos por ano para tudo o que é inovação, não só biológicos.

Broadcast Agro - Para termos uma noção do tamanho desse investimento em biológicos, desses 50 novos produtos e 40 novos ingredientes ativos que serão lançados em dez anos, quantos serão biológicos?

Guimarães
- Lançamos seis produtos em 2023, sendo três químicos e três biológicos. Eu não sei te responder isso pensando no futuro, porque ainda não temos esses números, mas os investimentos em biológicos são altos e representativos pelo tamanho que o mercado tem. A inovação passa pela complementaridade dos químicos com biológicos, na qual acreditamos muito.

Broadcast Agro - Além dos biológicos, existem novos investimentos à vista, especialmente no Brasil e na América Latina?

Guimarães
- Os biológicos são uma parte de toda a inovação, mas nós estamos investindo fortemente também em novas tecnologias com químicos. Além da inovação em produtos, há uma agenda enorme na área de serviços, incluindo o digital. Temos produtos como o Onsuva, que poderá ser aproveitado mundialmente, mas foi desenhado para o Brasil. Nós temos uma estação experimental em Paulínia (SP), que nos ajuda demais a desenhar produtos específicos para a América Latina e principalmente para o Brasil. Isso faz com que a gente garanta que o foco e as necessidades locais sejam olhados com muito mais carinho.

Broadcast Agro- Além da unidade em Paulínia, onde mais a FMC está no Brasil?

Guimarães
- Estamos em todas as regiões com toda uma equipe comercial. Temos uma planta de produção em Uberaba (MG), onde nós formulamos nossos produtos. Temos a matriz em Campinas (SP), onde está nosso escritório, e um grupo comercial e de pesquisa e desenvolvimento em todo Brasil.

Broadcast Agro- Existem planos de expansão para as atuais unidades industriais?

Guimarães
- Por enquanto ficaremos nessas unidades. Nós temos possibilidades de crescer utilizando apenas elas atualmente.

Broadcast Agro - Qual a porcentagem do Brasil na receita da FMC? Esse valor deve se manter em 2024?

Guimarães
- A América Latina tem uma representatividade grande e, logicamente, o Brasil, dentro da América Latina, tem uma representatividade muito alta, entre 70% e 80% dos negócios, o que deve se manter. O Brasil é um grande celeiro para o mundo, e vai crescer de acordo com o crescimento da representatividade do Brasil no cenário global.

Broadcast Agro - A FMC no Brasil exporta produtos?

Guimarães
- Nossa fábrica de Uberaba abastece vários países da América Latina. Outras fábricas em nível global abastecem o Brasil, mas não são na América Latina. Do que é produzido em Uberaba, o grande volume é produzido e utilizado dentro do Brasil.

Broadcast Agro - Mesmo com o cenário que ainda estamos enfrentando esse ano, de quebra de safra e de preços mais baixos nos grãos, essa posição deverá se manter?

Guimarães
- Sem dúvida. Eu acredito muito na próxima safra, que as condições climáticas serão adequadas e que o agro brasileiro se recupere em 2024/25.

Contato: audryn.karoylne@estadao.com
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