Agronegócios
12/03/2018 10:14

Perspectiva: mercado monitora clima na Argentina, sinais de demanda e tensão entre EUA e China


São Paulo, 12/03/2018 - Investidores dos mercados futuros de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) iniciam esta semana monitorando atualizações sobre o clima na Argentina e nos Estados Unidos. Na sexta-feira, mapas apontavam chuvas leves no prazo de cinco dias e mais volumosas dentro de 6 a 15 dias para as províncias de Entre Ríos, Santa Fe, Córdoba e Buenos Aires. Se confirmadas, as precipitações podem trazer pressão às cotações da soja e do milho. Nos Estados Unidos, foi reportada na semana passada leve melhora da qualidade das lavouras de trigo no sul das Grandes Planícies, mas o clima na região permanece no radar do mercado. Traders não deixam de acompanhar os desdobramentos da tensão comercial entre China e EUA. Na semana passada, o presidente Donald Trump confirmou taxação de 25% sobre as importações de aço do país e de 10% sobre as de alumínio.

No que diz respeito à soja, o mercado aguarda a confirmação das previsões climáticas apontadas em mapas na sexta-feira. Para alguns analistas, este fator já pesou sobre as cotações daquele dia. Por haver dúvidas sobre qual será a real produção da Argentina, o clima no país continuará tendo peso na avaliação de investidores. Repercussões da decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de impor tarifas às importações de aço e alumínio do país, também podem surtindo efeitos sobre os futuros da soja nesta segunda-feira. Há espaço para nova liquidação de posições, tendo em vista que fundos tinham um saldo comprado alto na semana passada. Na sexta-feira, as cotações fecharam em queda expressiva, influenciadas pela expectativa de amplos estoques nos EUA ao fim da safra 2017/18, que foram elevados no relatório mensal de oferta e demanda do Departamento de Agricultura do país (USDA) para 555 milhões de bushels (15,1 milhões de toneladas), ante 530 milhões de bushels (14,4 milhões de t) projetados em fevereiro. O vencimento maio da oleaginosa caiu 24,75 cents (2,33%) e fechou em US$ 10,3925 por bushel.

Com relação ao milho, investidores seguem monitorando reportes de demanda e o desempenho do trigo na CBOT, que também vem influenciando as cotações do cereal. A demanda firme pelo milho norte-americano está reduzindo os estoques do grão no país. Em seu relatório de quinta-feira, o USDA cortou sua estimativa para estoques domésticos de milho ao fim do ciclo 2017/18, de 2,352 bilhões para 2,127 bilhões de bushels (59,7 milhões para 54 milhões de t). Analistas esperavam uma redução menor, para 2,299 bilhões de bushels (58,4 milhões de toneladas). Na sexta-feira, as cotações futuras de milho fecharam em baixa influenciadas pelo desempenho do trigo e pressionadas por um movimento de embolso de lucros, depois de o mercado ter avançado 1,6% na sessão anterior. O vencimento maio do milho perdeu 3,00 cents (0,76%) e terminou em US$ 3,9050 por bushel.

Quanto ao trigo, o cenário de oferta ampla foi reforçado pelo relatório mensal de oferta e demanda do USDA, que elevou sua previsão de reservas domésticas do grão de 1,009 bilhão para 1,034 bilhão de bushels (27,5 milhões para 28,1 milhões de toneladas). Analistas projetavam um aumento menor, para 1,013 bilhão de bushels (27,6 milhões de t). Já a projeção para estoques globais subiu de 266,1 milhões para 268,9 milhões de toneladas, enquanto o mercado esperava 266,2 milhões. Investidores não deixam de acompanhar as previsões climáticas para o Hemisfério Norte. Até meados da semana passada, o clima seco no sul das Grandes Planícies dos EUA vinha comprometendo o desenvolvimento das lavouras. Apesar da leve melhora da qualidade das áreas cultivadas na região, apenas 13% da safra de inverno no Kansas apresentava condição boa ou excelente na semana retrasada. Em Oklahoma, essa parcela era de 6%. Na sexta-feira, o trigo para maio recuou 10,00 cents (2%) na CBOT, para US$ 4,8925 por bushel. Em Kansas City, igual vencimento do trigo duro vermelho de inverno caiu 12,75 cents (2,39%), para US$ 5,2050 por bushel.

Café: contratos caíram 1,7% na semana
Os contratos futuros de café arábica acumularam desvalorização de cerca de 1,7% na semana passada na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), base maio de 2018. Os contratos de arábica caíram 205 pontos no período em Nova York. As cotações encerraram na sexta-feira (9), a 120,15 centavos de dólar por libra-peso. No período, os contratos marcaram máxima de 124,20 cents (sexta, dia 2) e mínima de 120,15 cents (quinta, dia 8).

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), destaca em seu boletim semanal que, com mais esse recuo em Nova York, a semana passada foi, provavelmente, a mais "travada" deste ano no mercado físico brasileiro de arábica. "Saem negócios, mas bem abaixo do ritmo habitual do Brasil, maior produtor e exportador mundial. As ofertas dos compradores, incorporando as baixas na ICE, foram recusadas por grande parte dos cafeicultores", informa Carvalhaes.

De acordo com Carvalhaes, faltam ainda quatro meses do atual ano safra: março, abril, maio e junho, para os quais serão necessárias a cada mês, em média, 4,25 milhões de sacas. Sendo 2,5 milhões de sacas para exportação e 1,75 milhão de sacas para o consumo interno. Deverão desaparecer 17 milhões de sacas de café até o fim de junho próximo.

No próximo ano-safra brasileiro, de ciclo alto, o Brasil deverá exportar ao redor de 33 milhões de sacas e consumir ao menos 22 milhões de sacas. O País precisará, no mínimo, de 55 milhões de sacas. O Brasil praticamente zerou em 2017 os estoques governamentais e, com as 17 milhões de sacas que desaparecerão até junho próximo, o País chegará em julho, início do novo ano-safra, com baixíssimo estoque privado (na prática zerado). "Em 2019, o Brasil terá uma safra de ciclo baixo. A situação é muito apertada", conclui Carvalhaes.

Açúcar: mercado pode tentar retomar nível de 13 cents
O mercado futuro do açúcar demerara na Bolsa de Nova York (ICE) tenta retomar os 13 cents por libra-peso no contrato maio, mas a pressão de oferta da commodity é negativa para os papéis de vencimentos mais líquidos como esse. Na sexta-feira (9), o maio beirou essa resistência, chegou à máxima de 12,97 cents e recuou. No fechamento, 12,84 cents, queda de 5 pontos no dia. Julho e outubro caíram 4 pontos, para 13,06 e 13,44 cents, respectivamente.

Michael McDougall, vice-presidente da ED&F MAN, cita que o preço de equivalência do etanol hidratado na sexta-feira estava em 17,74 cents, ou 38% de prêmio sobre o açúcar. "Não consigo encontrar mais incentivo do que esse", relatou, referindo-se ao apetite das usinas brasileiras para a produção do biocombustível em vez do açúcar. Grandes usinas anteciparam a moagem da safra 2018/2019 no Centro-Sul do País para março e os dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) relativos ao processamento da segunda quinzena de fevereiro vieram em linha com esse cenário favorável ao etanol.

Apesar de apenas 15 usinas processarem cana no Centro-Sul na última metade do mês passado, 92,94% da cana foi destinada à produção de etanol. A Unica informou que a produção de etanol hidratado no período foi de 109 milhões de litros de hidratado, alta de 58,24%. Esse volume incluiu a transformação de 34 milhões de litros de etanol anidro em hidratado, sinal de que a demanda no período pelo combustível utilizado nos veículos flex fuel segue aquecida.

(Clarice Couto, Tomas Okuda e Gustavo Porto - clarice.couto@estadao.com, tomas.okuda@estadao.com e gustavo.porto@estadao.com)
Para ver esta notícia sem o delay assine o Broadcast Agro e veja todos os conteúdos em tempo real.

Copyright © 2024 - Todos os direitos reservados para o Grupo Estado.

As notícias e cotações deste site possuem delay de 15 minutos.
Termos de uso