Por Tânia Rabello
São Paulo, 29/05/2020 - Enquanto alguns setores, como soja e arroz, além de carnes por causa das exportações aquecidas, contribuíram para impulsionar para cima o Produto Interno Bruto agropecuário (PIB agro), outros segmentos tiveram desempenho menos expressivo, afetados mais fortemente pela pandemia de coronavírus no primeiro trimestre do ano.
É o caso do setor leiteiro, diz o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), Geraldo Borges. Embora não aponte números específicos da contribuição da cadeia leiteira para o desempenho do PIB agropecuário, Borges relata que a pandemia afetou bastante o setor, principalmente no food service, fato que pode ter se refletido no PIB agro do primeiro trimestre e que deve ter consequências também nas próximas divulgações do IBGE. "Na agropecuária, tivemos problemas principalmente com flores, etanol e hortaliças e, em alguma medida, borracha. Com o leite, em menor escala, mas também fomos afetados", confirma Borges ao Broadcast Agro.
Segundo o IBGE, o PIB agro subiu 0,6% no primeiro trimestre de 2020 ante o quarto trimestre de 2019 e, na comparação com o primeiro trimestre de 2019, o PIB da agropecuária mostrou alta de 1,9%, sendo o único setor da economia a apresentar desempenho positivo.
No caso do leite, Borges relata que a cadeia foi afetada sobretudo pelo fechamento do canal de food service, por causa da quarentena imposta pelo coronavírus, o que interferiu fortemente nas vendas de queijos industrializados - houve queda de cerca de 50% nas vendas deste derivado. Já no setor de derivados artesanais de leite, principalmente queijos, a forte recessão no setor de turismo, além do funcionamento intermitente das feiras livres durante a quarentena, também fizeram despencar a renda - e a produção - de 175 mil famílias no País que trabalham com produção de lácteos artesanais.
Borges observa, entretanto, que a quarentena contribuiu para que as famílias brasileiras elevassem seu consumo de produtos lácteos dentro de casa, conforme pesquisa feita pelo Centro de Inteligência do Leite (CI Leite), da Embrapa Gado de Leite, em parceria com a Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora (MG). "Houve aumento de consumo nos lares de praticamente todos os produtos lácteos durante a quarentena", disse.
O presidente da Abraleite comenta que ainda não é possível calcular quanto a cadeia leiteira pode contribuir para um desempenho positivo do PIB agro até o fim do ano, tendo em vista as incertezas ligadas à pandemia do coronavírus. "Infelizmente, enquanto houver algum canal de vendas fechado (caso do food service), não teremos 100% de normalidade."
Ele lembra, porém, que há possibilidade de o produtor de leite ser mais bem remunerado este ano por causa da perspectiva de produção menor - o que levaria a um aumento na disputa pela matéria-prima e consequente aumento de preços. "Houve seca no Sul do País este ano, o que reduziu a captação. Além disso, muitas vacas leiteiras foram para abate por causa do preço compensador da arroba bovina e do baixo preço do leite", continuou. "Isso pode ajudar para que quem continuar na cadeia leiteira tenha um melhor equilíbrio financeiro e um melhor preço pago pelo litro." Por outro lado, esta mesma situação levaria a uma menor produção leiteira, o que poderia encolher o valor bruto da produção agropecuária na pecuária de leite.
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