Agronegócios
10/11/2020 09:44

MB Agro/Hausknecht: vitória de Biden traz pressão ambiental mas abordagem multilateral beneficia Agro


Por Leticia Pakulski

São Paulo, 10/11/2020 - A eleição do candidato democrata Joe Biden para a presidência dos Estados Unidos tende a aumentar a pressão sobre o Brasil em questões ambientais mas a abordagem multilateral no comércio deve beneficiar o País, avalia o sócio diretor da consultoria MB Agro, José Carlos Vannini Hausknecht. "Por um lado, vamos ficando cada vez mais isolados por conta de um posicionamento em relação à parte ambiental, e com Biden isso fica mais evidente", disse ele. "Por outro lado, Biden deve reativar organismos multilaterais de comércio, onde você tem um fórum para discutir problemas e conseguir resolver disputas internacionais." Para o analista, ter órgãos multilaterais fortalecidos como a Organização Mundial de Comércio (OMC) possibilita o questionamento de restrições não justificadas a produtos de acordo com regras que embasam o comércio global.

Hausknecht não vê mudanças expressivas na demanda por produtos agropecuários do Brasil, uma vez que as tensões com a China não devem ser totalmente eliminadas com a saída de Trump. "Biden vai continuar tendo atritos com a China, só que a maneira como ele vai lidar com isso é totalmente diferente do que Trump vinha fazendo", disse. "Temos que lembrar que Trump fez um acordo fase 1 com a China que beneficiava bastante os produtos norte-americanos, com a obrigação de a China fazer importações muito elevadas de produtos agrícolas dos EUA. As exportações dos EUA para a China estão crescendo bastante."

Para o representante, seja em um cenário mais ou menos turbulento na relação com os EUA, a China não deixará de comprar produtos da agricultura e pecuária do Brasil. "A China não vai ficar totalmente dependente dos EUA. Mas vai ser um comércio um pouco mais equilibrado", disse. "Talvez os EUA aumentem a exportação para a China, e nós exportemos mais para outros mercados."

Quanto à pauta de comércio bilateral entre Brasil e EUA, a possibilidade de avanço em exigências de que o produto exportado pelo Brasil não venha de área desmatada ilegalmente pode ser um ponto de atenção. "Mas nós exportamos pouco para os EUA de produtos que tenham esse risco. Exportamos (produtos do setor) sucroalcooleiro, produzido fora da Amazônia. E quanto às carnes, o que exportamos para lá são poucos produtos, carne bovina e industrializada, e a gente tem como garantir que não venha de área desmatada", disse.

Hausknecht não prevê grandes restrições nesse sentido, mas acredita que Brasil poderá ter de mudar "pelo menos o discurso e posicionamento em relação à parte ambiental". Com a vitória de Biden, uma pressão que já vem da Europa tende a encontrar ressonância nos EUA. "A pressão vai aumentar e ficar mais evidente. Vamos ter que mostrar resultado nesse setor para poder evitar problemas."

Contato: leticia.pakulski@estadao.com
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