Por Isadora Duarte
Brasília, 22/08/2023 - Após forte retração dos produtores brasileiros na aquisição dos fertilizantes para a safra de verão 2023/24, a compra antecipada dos insumos avançou nos últimos três meses e está em linha com o reportado em igual período da temporada passada, mostra levantamento trimestral da consultoria StoneX. Produtores asseguraram até a metade do mês 77% dos insumos a serem aplicados neste segundo semestre, um ponto porcentual acima do registrado em agosto de 2022. Em contrapartida, as compras de adubos para a safra de inverno 2023/24, que devem ser aplicados no primeiro semestre de 2024, estão atrasadas na comparação anual: quatro pontos porcentuais atrás do reportado há um ano, ou 28% do volume garantido antecipadamente.
Na avaliação do diretor de Fertilizantes da StoneX, Marcelo Mello, o "significativo atraso" nas negociações para a safra de verão que persistia até o fim de maio, quando menos da metade do volume havia sido adquirido, foi "equacionado" e as compras alcançaram os patamares históricos observados nos últimos três anos. "Desta maneira, diminui o risco de problemas logísticos mais intensos para distribuição de fertilizantes por conta do início do plantio a partir de setembro, que estávamos correndo há três meses", disse Mello no relatório.
De acordo com o levantamento, as compras aceleraram 33 pontos porcentuais desde o fim de maio até 18 de agosto e 60 pontos porcentuais desde novembro - quando se iniciou a movimentação para a safra de verão 2023/24. A negociação antecipada de adubos está mais avançada nas regiões Centro-Oeste e Norte/Nordeste, que iniciam antes o cultivo das lavouras de grãos de verão no País, ambas com 80% do volume comercializado e estáveis ante agosto de 2022. O Sul assegurou 78% dos fertilizantes a serem usados neste semestre, contra 75% observados em igual mês do ano anterior. Na sequência vem o Sudeste, onde o índice de negociação dos adubos atingiu 74% do volume necessário em agosto deste ano, à frente dos 72% de um ano antes.
As compras antecipadas para a safra de verão 2023/24 começaram em novembro do ano passado. Aproximadamente dois terços dos adubos consumidos anualmente no Brasil são utilizados na segunda metade do ano. Desse volume, a maior parte é aplicada a partir de setembro, quando começa o plantio da soja.
O levantamento revelou também que até a metade de agosto 28% dos adubos a serem utilizados nas lavouras brasileiras no primeiro semestre de 2024, período de semeadura das culturas de inverno, como milho safrinha e trigo e da segunda safra de algodão, já tinham sido comercializados. Em igual período do ano passado, o produtor já havia garantido 32% dos adubos a serem aplicados na safra de inverno 2023/24. Houve avanço de seis pontos porcentuais em relação a maio - mês que tradicionalmente marca o início da movimentação mais intensa das compras para a segunda safra. "As contínuas quedas das cotações dos grãos na Bolsa de Chicago (CBO), em especial do milho, cujos preços estão abaixo da média dos últimos cinco anos, aliadas aos aumentos de preços de fertilizantes, deterioraram as relações de troca e desestimularam as antecipações de compras em quase todas as regiões", observou Mello.
A exceção é o Centro-Oeste, principal produtor de milho safrinha e algodão do País, onde as compras de adubos estão estáveis em relação ao ano passado, com 39% do volume assegurado até 18 de agosto, mas atrás dos 51% observados em agosto de 2021. A maior retração é observada na região Sul, segundo maior produtor de milho segunda safra e maior produtor de trigo do País, com 17% dos fertilizantes travados, atrás dos 29% há um ano. Na região Norte/Nordeste, 36% dos adubos a serem aplicados na primeira metade de 2024 foram assegurados pelos produtores, contra 43% reportados em maio de 2022. Já a região Sudeste está com apenas dois pontos porcentuais de atraso na comercialização antecipada para os seis primeiros meses do ano que vem, com 24% dos adubos necessários já contratados, ante 26% em agosto de 2022.
O levantamento foi realizado pela consultoria de 31 de julho a 18 de agosto com misturadoras, distribuidoras, cooperativas, médios e grandes produtores de todas as regiões do País e considera as vendas de adubos por meio da fixação de preços e fechamento de contratos para entrega futura. A pesquisa compreendeu uma área de 28,5 milhões de hectares, equivalente a 44% da área estimada com grãos na safra 2022/23.
Observa-se que a comercialização antecipada do pacote de adubação, especialmente para grãos, se intensifica conforme a relação de troca - quantidade necessária de determinada commodity para compra de 1 tonelada de adubo - fica mais favorável ao produtor. Essa relação está mais favorável desde o início deste ano, em virtude das quedas contínuas dos preços dos adubos. Ou seja, o poder de compra de fertilizantes pelo agricultor brasileiro está maior, apesar das cotações arrefecidas das commodities.
A StoneX estima que as entregas de fertilizantes no País devem atingir entre 42 milhões e 43 milhões de toneladas este ano, aumento de 2,5% a 5% na comparação com o volume entregue no mercado nacional em 2022.
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